No início de 2010, Indira Morgana de Araújo Silva viveu por um mês a experiência que muitos vestibulandos conhecem bem. Quando entrou na sala do cursinho pré-vestibular, recém-formada no Ensino Médio e sonhando com uma vaga em Medicina, ela logo passou a se comparar com colegas.
“E aí eu lembro que tinha um professor que perguntou: ‘quantos fecharam Física? Quantos fecharam Matemática?'”, recorda a estudante, referindo-se a quem havia gabaritado as disciplinas no vestibular. Para ela, essa ainda era uma realidade muito distante. Foi tomada por sentimentos comuns nessa fase, como a vaidade, o medo de fracassar e a angustia por frustrar a expectativa dos pais. Resolveu abandonar o cursinho.
“Essa imaturidade e falta de persistência naquele momento me fizeram desistir”, conta. Indira ingressou naquele mesmo ano no curso de Engenharia Agronômica e, depois de concluí-lo, emendou em um mestrado na mesma área. Quando foi aprovada no doutorado e estava prestes a dar mais um passo na carreira acadêmica, parou para refletir.
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“Pensei que eu poderia aproveitar esse tempo para tentar uma coisa que eu não conseguia esquecer, porque volta e meia eu falava da Medicina, até para meu orientador da época”. Em 2017, procurou a ajuda de uma psicóloga, que a ajudou a enfrentar a decisão: voltaria para o cursinho.
Sete anos depois, aos 32 anos, Indira finalmente é caloura de Medicina, depois de conquistar a nota mil na redação do Enem e ser aprovada em segundo lugar na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Ao GUIA DO ESTUDANTE, ela relembrou os anos de preparação para o vestibular e deu dicas para quem também busca a nota mil na redação.
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“Eu me sentia realizada por estar correndo atrás”
Quando retomou os estudos para o Enem, Indira já não era a mesma vestibulanda de 2010. Não se sentia atrasada por estar fora da universidade, e se afetava menos pela opinião que outros poderiam ter a seu respeito.
“Mesmo estando, teoricamente, um passo atrás, eu me sentia bem com essa decisão. É como se pela primeira vez eu estivesse fazendo uma coisa que eu realmente quisesse”, relembra a estudante, que frequentava o cursinho Master, parceiro do SAS Educação, em Aracaju.
De lá para cá, foram sete anos de muito estudo, dedicação, frustração e também esperança. Indira recorda-se de chorar algumas vezes pelo resultado ruim de um simulado, mas ao mesmo tempo via seu desempenho melhorar ano a ano. Sabia que estava evoluindo. “Eu me sentia realizada por estar correndo atrás”, relata a estudante.
Foi somente em 2023 que começou a cogitar uma mudança de planos. Ela conta que o fato de estar sendo sustentada pelos pais por todos aqueles anos começou a pesar, e por isso pensou em tentar a aprovação em concursos públicos, inspirada pelo namorado. Mas não foi preciso mudar de rota.
A primeira boa notícia veio em janeiro de 2024, quando soube que havia alcançado a nota mil na redação do Enem. Poucas semanas depois, Indira foi aprovada em segundo lugar na Universidade Federal de Sergipe (UFS) por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada).
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A redação nota mil
Em seu texto avaliado com nota máxima pelos corretores, Indira dissertou a respeito da construção social que atribui às mulheres, e não aos homens, o trabalho de cuidado. Para embasar seu argumento, citou a pensadora Simone de Beauvoir. Também falou da inércia do Estado, citando o sociólogo brasileiro Florestan Fernandes. Mas engana-se quem pensa que o foco nos repertórios foi o que determinou a nota mil da estudante.
Confira algumas dicas de redação da estudante de Medicina, baseadas em sua preparação:
1. Repertório sem desespero
Indira recorda-se que, em 2022, resolveu buscar citações e dados para a redação um dia antes do Enem, tamanho seu desespero. O resultado foi que naquele ano ela perdeu pontuação justamente na competência 2, que avalia repertório. Para ela, o segredo para a nota mil foi explorar as referências que havia acumulado ao longo dos anos de estudo, mas sem focar completamente nesse aspecto. Ela também alerta para a importância de interpretar e justificar bem o repertório utilizado, e não somente citar um pensador ou obra sem relacioná-lo com a temática da redação.
2. Qualidade, e não quantidade
Nada de produzir duas, três ou mais redações por semana sem se dedicar à correção. “Eu saí do automático, de estar sempre fazendo redação e cometendo os mesmos erros, e parei para pensar no que eu precisava melhorar”, relata a estudante. Em seu último ano de estudos, dedicou-se muito mais a analisar suas redações e buscar caminhos para preencher as lacunas. Percebeu, por exemplo, que sempre perdia nota na competência 3, então debruçou-se sobre ela.
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3. Cartilha do participante e do corretor
Uma das maneiras encontradas por Indira para entender a estrutura e correção da redação foram as cartilhas disponibilizadas pelo Inep. Todos os anos, o instituto divulga a cartilha do participante, que detalha as competências avaliadas e a atribuição das notas. Além disso, também é possível estudar com o manual do corretor, que explica ainda mais a fundo os critérios da banca.
4. Estrutura campeã
Por fim, o que ajudou a estudante a atingir a pontuação máxima foi ler muitas redações campeãs de anos anteriores. Disponibilizadas pelo Inep (e também aqui no site do GUIA), os espelhos das redações nota mil servem de inspiração e modelo de estudo, já que é possível dissecá-las e entender a “fórmula” do sucesso.
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