SIMONE DE BEAUVOIR
Ícone do pensamento filosófico feminista, suas ideias estabelecem um profundo diálogo com o existencialismo sartriano
Simone de Beauvoir
ORIGEM
Paris (França) (1908-1986)
CORRENTE FILOSÓFICA
Existencialismo
PRINCIPAIS OBRAS
Memórias de uma Moça Bem-Comportada; A Força das Coisas; Tudo Dito e Feito; O Segundo Sexo; Uma Morte Suave
FRASE-SÍNTESE
“Não se nasce mulher: torna-se.”
BIOGRAFIA
Nascida em Paris, em 9 de janeiro de 1908, Simone de Beauvoir estudou matemática no Instituto Católico de Paris e literatura e línguas no colégio Sainte-Marie de Neuilly. Na Universidade de Paris (Sorbonne) estudou filosofia e conheceu outros jovens intelectuais, como Maurice Merleau-Ponty, René Maheu e Jean-Paul Sartre, com quem estabeleceu uma relação afetiva até sua morte.
Tornou-se professora e editou, com Sartre, a revista mensal Les Temps Modernes. Sua principal obra, o ensaio O Segundo Sexo, foi publicada em 1949 e se tornou um grande clássico da literatura feminista. Escreveu também obras de ficção, nas quais abordou questões da filosofia existencialista, além de análises políticas e livros autobiográficos. Morreu em 1986, aos 78 anos, em Paris.
“Isso é o que caracteriza fundamentalmente a mulher: ela é o Outro dentro de uma totalidade cujos dois termos são necessários um ao outro.”
A FILOSOFIA DE BEAUVOIR
Simone de Beauvoir é um ícone do pensamento filosófico feminista, e suas ideias estabelecem um profundo diálogo com o existencialismo sartriano. Jean-Paul Sartre defende a liberdade e a autenticidade de cada ser humano como essenciais, não obstante a angústia que tal liberdade pode nos trazer. São as escolhas de cada homem que definirão a sua essência e poderão afetar o próprio mundo. Ou seja, em vez de aceitarmos os valores prontos da Igreja ou de uma tradição qualquer, somos completamente responsáveis por nossos atos, por nossas escolhas, valores e sentidos.
Nesse sentido, em sua obra O Segundo Sexo, Beauvoir lança a máxima: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino”.
De acordo com esse ponto de vista, o sexo é um fator biológico, ou seja, ligado à constituição físico-química do corpo humano. Outra coisa é o gênero. Quando se fala em “gênero feminino”, fala-se em todas as características que a sociedade associa ao “ser mulher”; quando se fala em “gênero masculino”, fala-se em todas as características que a sociedade associa ao “ser homem”. Do ponto de vista, o gênero não é biológico-natural, mas um constructo social. Em outras palavras, “ser homem” ou “ser mulher” não é um dado natural, mas performático e social, de maneira que, ao longo da história, cada sociedade criou os padrões de ação e comportamento de determinado gênero.
A orientação sexual, isto é, a quais gêneros nos sentimos atraídos (física, romântica ou emocionalmente), por sua vez, seria ainda um terceiro fator, diferente do gênero ou do sexo. A liberdade de construção do gênero e da orientação sexual, diferentemente do dado biológico do sexo, é como a tradição feminista, e queer, na atualidade, dialoga com o existencialismo. Lembre-se: existencialismo é uma filosofia que enxerga o homem como constructo de si mesmo: pelas suas escolhas, é possível construir a própria existência. Evidentemente, para os existencialistas, quando nascemos, já existe uma sociedade pronta, repleta de regras e padrões. Mas, como dizia Sartre, não importa o que os outros fizeram conosco, mas o que fazemos com o que fizeram com os outros. Nesse sentido, a liberdade de escolha de gênero seria uma maneira de exercermos essa liberdade existencial.
Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir parecem ser os autores mais importantes para muitos movimentos sociais contemporâneos. Em grande medida, os movimentos feministas e LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) trabalham com a reivindicação de liberdade de construção e reconhecimento de suas identidades. Por exemplo, a mundialmente conhecida Marcha das Vadias, manifestação feminista iniciada no Canadá, luta contra as diversas formas de violência contra a mulher. Faz parte dos ideais do movimento combater a noção de que a mulher, devido às suas roupas ou comportamento, seria a culpada pela violência sofrida: cada uma pode construir sua personalidade à sua maneira, como propõe Beauvoir, não cabendo nem ao homem nem ao Estado ditarem as normas de comportamento feminino. Cabe a eles, pelo contrário, ajudar na luta contra a cultura do estupro.