Como é o desafiador mercado de trabalho dos comissários de bordo
Comissário com 20 anos de carreira conta detalhes do dia a dia da profissão e alerta: não é igual no TikTok
A carreira de comissário de bordo é envolta de muito glamour. Mas não se engane: tal visão é compartilha somente por aqueles que não conhecem o dia a dia da profissão. O que muita gente não sabe é que, por trás de toda a romantização de trabalhar viajando o mundo, há um mercado de trabalho competitivo, com escalas esgotantes, desvalorização dos próprios clientes e responsabilidades que podem ser, literalmente, a diferença entre a vida e a morte.
Pensando nos estudantes que desejam seguir essa profissão, o GUIA DO ESTUDANTE conversou com Eduardo, um comissário de bordo com 20 anos de carreira. Ele compartilhou não apenas as alegrias, mas também os (grandes) desafios dessa carreira, além de conselhos para os futuros profissionais que pretendem voar. Em nome de manter a privacidade do comissário, que ainda é ativo no mercado, vamos deixar de fora o seu sobrenome e as empresas em que já trabalhou.
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Trajetória turbulenta
Eduardo tem uma trajetória interessante no mundo da aviação. Entrou na área por curiosidade, logo após o fim do Ensino Médio, nos anos 2000. Na época, queria mesmo era estudar Jornalismo, mas, influenciado por um primo da mãe, entrou em uma escola de aviação – já que o curso durava apenas seis meses. Conta que, de cara, se encantou com o glamour da profissão, mas que foram os desafios e as responsabilidades que o fizeram se apaixonar pela carreira.
No curso, descobriu que quando há uma emergência médica, pane no avião ou qualquer questão de segurança, são os comissários que auxiliam os passageiros. Ao se formar, foi logo contratado por uma companhia aérea, onde trabalhou por três anos seguidos – até a empresa falir. Já em seu segundo trabalho, decidiu resgatar o sonho antigo: iniciaria a graduação em Jornalismo. O sonho, no entanto, não decolou. Ao começar um estágio em um canal de televisão, percebeu que a profissão não era aquilo que pensava.
Voltou para a aviação, mas desta vez em uma companhia maior e com voos internacionais. Nela segue até hoje, 14 anos depois.
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Dia a dia é longe da fantasia
Eduardo conta que são os comissários os responsáveis por verificar diariamente os equipamentos de emergência do avião. Para se manterem sempre atualizados, fazem uma prova verbal anualmente, na qual precisam responder questões sobre primeiros socorros, emergências gerais, especificações do avião que trabalham, e leis e regulamentações que regem o exercício do cargo. Mesmo que os conhecimentos não sejam usados em todos os voos, o comissário esclarece que é fundamental estar sempre com eles frescos na memória.
Ainda assim, para Eduardo, o maior desafio é lidar com os passageiros indisciplinados, que agem com falta de educação. Acreditam que, por terem pago a passagem, têm apenas direitos e nenhum dever. O desrespeito e o preconceito também andam lado a lado, sobretudo com aqueles que veem a profissão como inferior. “Vejo pessoas falarem que [o comissário] é ‘bandejeiro’ ou ‘garçom de luxo’. Isso não me ofende. Eu acho feio para quem fala isso, é como se ser garçom fosse desmerecedor, diz mais sobre a pessoa do que de mim”, aponta.
Ao contrário do que muitos imaginam, o serviço de bordo fica em segundo plano, juntamente com os benefícios de aproveitar as passagens gratuitas e conhecer novos lugares. Além disso, a profissão permite flexibilidade para crescer em outras áreas. Ele explica que ainda que um comissário não possa trabalhar em duas companhias ao mesmo tempo, pode ter duas profissões. Hoje, Eduardo divide os voos com uma graduação em Psicologia. Poderá, por exemplo, atender pacientes durante as suas folgas.
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Profissional dá conselhos
Sobre as oportunidades de emprego, um alerta: o mercado está cheio e as empresas buscam os melhores. É preciso se destacar, e, para isso, nada melhor do que uma boa qualificação. “Percebo que muitos estão chegando por causa do TikTok, com a ideia de viajar, conhecer novos lugares, novas culturas. Acabam se frustrando e levando um choque de realidade, porque isso pode até fazer parte, mas não é só isso”, explica. Assim, a rotatividade tem sido grande e se sobressai quem mostra que está ali pela profissão verdadeiramente.
Falar outros idiomas é essencial. Principalmente o inglês, para quem deseja fazer voos internacionais, explica. Já para quem busca voar pela América do Sul, o espanhol deve ser somado à conta. A boa notícia é que não precisa ser fluente: o nível intermediário para avançado já é o suficiente. E quem deseja aprender um idioma menos popular, também tem vantagem. Há empresas que contratam falantes da língua para trabalhar em rotas específicas.
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A falta de rotina pode ser um choque para alguns também. O comissário vê a característica como positiva e negativa ao mesmo tempo. A flexibilidade permite que ele resolva coisas durante a semana, por exemplo, algo que outras profissões não conseguem. Mas é preciso estar ciente que haverá vezes em que as escalas engolirão datas importantes, como feriados, aniversários, e até mesmo Natal e Réveillon.
Por estas e outras razões, ao escolher ser comissário, deve-se ter em mente que a profissão é mais sobre segurança do voo, atendimento ao público e serviço de bordo do que sobre viagens internacionais e uniformes estilosos. Como explicou uma mãe ao filho pequeno, em um voo que ficou na memória de Eduardo, tem que estudar muito, aprender idiomas e saber os primeiros socorros.
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