“A Vida Não É Útil”: resumo e análise da obra de Ailton Krenak
Entenda as principais críticas feitas pelo ativista nesse livro que está na lista do vestibular da Unicamp
Já está com a leitura das obras obrigatórias da Unicamp em dia? É importante se organizar para não deixar essa parte da sua preparação para a última hora. Afinal, além de ler os livros, procurar análises mais aprofundadas vai fazer diferença no seu desempenho no final do ano. Pensando nisso, o GUIA DO ESTUDANTE conversou professores de literatura sobre uma das obras cobradas pelo vestibular: “A Vida Não É Útil”, de Ailton Krenak. Já adiantamos: não são só os vestibulandos que podem se beneficiar dessa leitura.
“Além de ser obrigatória para o vestibular da Unicamp, as conexões e referências teóricas trazidas por Krenak contribuem para a formação de repertório do vestibulando-cidadão, potencializando a produção de textos e as análises sociais para além do contexto da prova. O livro permite formar a consciência crítica para uma atuação mais interessante à sobrevivência do planeta e da espécie humana”, afirma Vinicius Teixeira, professor de Literatura do Colégio Oficina do Estudante.
Confira abaixo um resumo e a análise do livro.
Sobre o que trata “A vida não é útil”, de Ailton Krenak?
A obra “A vida não é útil” reúne cinco textos:
- “Não se come dinheiro”;
- “Sonhos para adiar o fim do mundo”;
- “A máquina de fazer coisas”;
- “O amanhã não está à venda”;
- e o próprio “A vida não é útil”.
Segundo Rafaela Defendi, professora de Redação do Poliedro Colégio Campinas, o livro propõe reflexões críticas sobre o sistema econômico capitalista, que atrai a sociedade para o consumismo e enxerga o mundo, inclusive a natureza, como mercadoria. Trata, então, dos impactos desse modo de vida: destruição do meio ambiente, limitação dos desejos e sonhos, genocídio dos povos tradicionais.
Além disso, o livro aborda a ideia excludente de humanidade que, além de separar os humanos da natureza, divide-os entre aqueles que promovem o “progresso” destruindo o meio ambiente e intensificando as desigualdades (“a casta da humanidade”) e aqueles que estão fora dessa casta (“sub-humanidade”, “toda vida que deliberadamente largamos à margem do caminho”).
O livro propõe ainda a importância de se “suspender o céu”, ou seja, ampliar os horizontes, ver além. Assim, mostra que, enquanto no pensamento ocidental, só se enxerga o capitalismo como organizador da existência, existem outros mundos que estão sendo vividos e fortalecidos pelos integrantes da chamada “sub-humanidade” (povos indígenas, quilombolas e caiçaras), mas que são vistos como inferiores e menos desenvolvidos. “Nesse sentido, o livro é um convite para ampliarmos nossa visão para esses outros modos de existência”, explica Rafaela.
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Grandes temas da obra:
- sistema econômico capitalista;
- consumismo e devastação ambiental;
- modo de vida ocidental e produtivismo;
- o mito da sustentabilidade;
- o poder econômico e político das grandes corporações;
- e a limitação do conceito de humanidade.
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Principais críticas que a obra faz
A principal crítica da obra é em relação às noções convencionais de progresso e desenvolvimento. “Segundo o autor, esses conceitos estão alinhados a uma visão utilitarista que trata a natureza como recurso a ser explorado e a tecnologia como ferramenta que ajudará nessa exploração. Além disso, critica o capitalismo por ser um sistema colonial antropocêntrico que engloba uma visão de humanidade limitante e coloniza até os nossos desejos, ao promover o vício no consumo”, explica Rafaela.
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Além disso, questiona a ideia de que é possível mudar o mundo individualmente, com atos mais responsáveis sobre o que se consome, ou seja, o mito da sustentabilidade. Isso porque quem comanda e governa a sociedade são as grandes corporações, responsáveis por explorar o meio ambiente, e também porque “estamos a tal ponto dopados por essa realidade nefasta de consumo e entretenimento que nos desconectamos do organismo vivo da Terra”.
A obra também critica a ideia de que a solução de nossos problemas é a colonização de outros planetas: “se uma parte de nós acha que pode colonizar outro planeta, significa que ainda não aprenderam nada com a experiência aqui na Terra. Eu me pergunto quantas Terras essa gente precisa consumir até entender que está no caminho errado”.
Segundo Vinícius, ao tratar da Terra, o autor faz uma personificação, evidencia o planeta como um organismo vivo e reforça que somos completamente dependentes dos recursos naturais, por isso, não faz nenhum sentido agirmos de modo predatório.
“Com a leitura, é possível fazer críticas ao modo como é instaurado um discurso sobre ‘sustentabilidade’ que, muitas vezes, esconde os interesses de lucro desse necrocapitalismo e do fetichismo que mantém os sujeitos presos no consumo pautado por uma compulsão”, completa o professor.
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Redação: “A Vida Não É Útil” como repertório cultural
Por fazer uma análise crítica ao modo de vida ocidental que encara o mundo como uma mercadoria, promovendo o consumismo, a destruição ambiental e a intensificação das desigualdades, a professora de redação do Poliedro afirma que o livro pode ser usado pelos vestibulandos em propostas que, de modo geral, exigem análise crítica desse modo de vida.
“As ideias da obra podem ser usadas não apenas em redações que tratam especificamente de problemas ambientais, como a crise climática, mas também naquelas que exijam análise de características da sociedade ocidental – produtivismo, consumismo, poder político das grandes corporações – assim como suas consequências – intensificação das desigualdades sociais, inferiorização e destruição dos modos de vida dos povos tradicionais, alienação para o modelo de sucesso individual e de progresso social”, explica Rafaela.
Quem é Ailton Krenak?
Ailton Krenak é um escritor indígena e ativista ambiental, que nasceu na região do vale do rio Doce, território Krenak, região muito prejudicada pela mineração. Um dos grandes pensadores contemporâneos, ele ingressou recentemente na Academia Brasileira de Letras (ABL), sendo o primeiro indígena eleito.
Também participou ativamente da Constituinte e com muita luta garantiu, na Constituição de 1988, o “Capítulo dos índios”, importante marco no reconhecimento dos povos originários como sujeitos de direitos.
Com suas obras, o escritor tem promovido reflexões relevantes sobre o modo de vida ocidental capitalista em um contexto de intensificação dos eventos climáticos extremos e da pobreza. Apresentando outros modos de vida e de pensamento, como os dos indígenas, o autor promove reflexões críticas importantes sobre o que se entende como “progresso” nas sociedades ocidentais.
A vida não é útil
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