O que o filme ‘Pecadores’ revela sobre a história dos Estados Unidos
Atenção: se ainda não assistiu ao filme, saiba que este texto contém spoilers
Dispostos a deixar suas vidas conturbadas para trás, irmãos gêmeos retornam à cidade natal para recomeçar suas vidas do zero, quando descobrem que um mal ainda maior está à espera para recebê-los de volta. Para os desavisados, o filme “Pecadores” pode parecer apenas um longa-metragem de terror sobre vampiros, mas quem já assistiu sabe que ele também é um prato cheio para compreender aspectos da História dos Estados Unidos.
Alguns temas como segregação racial, supremacia branca e preconceito contra imigrantes são pano de fundo do longa. Mas o espectador precisa assistir com os olhos bem abertos se quiser compreender toda a mensagem. Abaixo, confira um resumo do filme e como cada tema aparece em sua narrativa.
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Qual a história de “Pecadores”
No filme, que se passa em 1932, dois irmãos gêmeos negros, Smoke e Stack, compram uma estalagem na cidade onde nasceram para transformá-la em um bar. O que eles não sabem é que o antigo dono fazia parte da Ku Klux Klan, e o grupo já planejava um ataque contra o local.
A situação fica ainda mais tensa quando o primo dos irmãos, Jedidiah, que tem o dom de invocar os ancestrais através da música, chama a atenção de vampiros sedentos por sangue durante uma apresentação. Remmick, o líder das criaturas, é um imigrante irlandês que sente falta de sua terra natal – e logo entende que o dom de Jedidiah pode ajudá-lo a rever sua família.
A partir daí, a história mergulha no terror: o bar se torna palco de uma luta entre os irmãos, seus amigos e as criaturas da noite.
O detalhe mais forte do filme é a metáfora por trás dos vampiros. Os imigrantes irlandeses, tão marginalizados e jogados na miséria nos Estados Unidos, aparecem aqui escolhendo se tornar vampiros para “viver melhor” do que morrer de fome. O mesmo paralelo vale para os personagens negros, mostrando como ambos os grupos eram vistos como descartáveis pela sociedade.
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Preconceito com imigrantes
Mas por que os vampiros são especificamente irlandeses? A partir de 1845, a Grande Fome da Batata na Irlanda levou quase meio milhão de pessoas a emigrar para os Estados Unidos em apenas cinco anos. Católicos em sua maioria, os irlandeses foram recebidos com desconfiança e preconceito em várias cidades, onde boatos sobre sua influência religiosa alimentaram episódios de violência.
De acordo com o The Journal, no mercado de trabalho, eram explorados em empregos pesados e perigosos, recebendo salários baixos e sendo ameaçados de substituição caso não aceitassem condições precárias. Cartazes com frases como “No Irish Need Apply” (“Irlandeses não precisam se candidatar”) revelavam a hostilidade explícita contra eles.
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Racismo
No século 19, os Estados Unidos ainda viviam sob à sombra da escravidão recém-abolida. A vitória dos estados do Norte na Guerra de Secessão (1861–1865) pôs fim ao sistema escravagista, mas não garantiu igualdade social aos afro-americanos.
A discriminação racial permaneceu enraizada no cotidiano, com negros sendo privados de direitos básicos, oportunidades econômicas e participação política. O racismo estrutural moldava as relações sociais e se tornava combustível para conflitos em diferentes regiões do país.
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Segregação racial
Mesmo após a abolição, a vida dos afro-americanos continuou marcada pela marginalização. No Sul, leis e práticas institucionais passaram a impor a segregação racial, separando brancos e negros em escolas, transporte público e espaços públicos.
Medidas políticas como testes de alfabetização e taxas de votação também limitavam a cidadania negra, dificultando sua participação política. Assim, a liberdade conquistada legalmente pouco se refletia na prática, já que a segregação mantinha o abismo social entre brancos e negros.
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Ku Klux Klan (KKK)
Em 1866, surge no Sul dos EUA a Ku Klux Klan, uma sociedade secreta formada por veteranos confederados derrotados na Guerra Civil. A KKK tinha como objetivo manter a supremacia branca e impedir a ascensão social dos negros recém libertos.
Seus membros usavam túnicas e capuzes brancos para esconder a identidade e espalhar medo, utilizando símbolos como a cruz em chamas. A violência era uma marca do grupo: linchamentos, incêndios e ataques a comunidades negras e seus aliados políticos se tornaram frequentes, reforçando o clima de terror racial no período.
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