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Moxie: 4 pontos do feminismo tratados no filme da Netflix

Saindo um pouco do óbvio, o filme mostra complexidades do movimento feminista

Por Giulia Gianolla, Juliana Morales
Atualizado em 9 mar 2021, 21h47 - Publicado em 9 mar 2021, 19h10
Parte do elenco do filme Moxie - Quando as Garotas Vão à Luta
Parte do elenco do filme Moxie - Quando as Garotas Vão à Luta (IMDb/Reprodução)
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Estreia de março da Netflix, o filme “Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta” mostra o processo de descoberta do feminismo da jovem Vivian, que ainda está no Ensino Médio. Nesse caminho, ela passa por conflitos com a sua mãe, Lisa, sua melhor amiga, Claudia, e com seu novo crush, Seth.

O filme é baseado no romance de mesmo nome, escrito em 2018 por Jennifer Mathieu. E a direção é da atriz Amy Poehler, que também aparece no longa.

Saindo um pouco do óbvio, o filme mostra várias complexidades do movimento feminista. Por isso, o GUIA lista alguns pontos interessantes e até inusitados do filme para pensar o feminismo. Spoilers? Sim. Mas são pequenos e não vão estragar a sua experiência. Então vem com a gente!

Sexismo na escola 

Por retratar a descoberta do feminismo durante o Ensino Médio, o filme envolve muitas questões do universo escolar. Uma delas é o debate sobre o papel dos professores e coordenadores em casos de sexismo e assédio.

A diretora Shelly (Marcia Gay Harden), por exemplo, representa uma responsável pouco envolvida com as causas dos alunos, que foge de conflitos que possam causar polêmica. Ao receber uma denúncia de assédio, ela questiona a validade do relato da aluna, dizendo que, ao usar essa palavra, a garota a faria “preencher muita papelada” que “não resolveria nada”.

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Outra cena em que muitas meninas podem se reconhecer mostra uma das estudantes sendo retirada da sala de aula por estar usando uma regata. À medida que o debate ganha espaço na escola de Rockport, o movimento das garotas “Moxie” passa a exigir posicionamento dos professores.

Esses exemplos, apesar de curtos e relativamente rasos no desenvolvimento do filme, incitam uma autorreflexão que deve ser feita por funcionários de escolas. Em um momento frágil da vida como o Ensino Médio, é importante que os educadores não desviem de temas ‘espinhosos’ como o assédio e saibam abordá-lo.

Representatividade

O tema da representatividade aparece em duas circunstâncias do enredo. A primeira em um diálogo em sala de aula, quando são debatidas as leituras obrigatórias do colégio. Uma aluna questiona os motivos para a escolha dos livros – todos escritos por homens, brancos e ricos. Na cena, inicia-se uma conversa sobre a qualidade das obras em que um dos alunos provoca: “Não é porque outros livros são bons que este não é. Se lemos livros como esse (O grande Gatsby) há tantos anos, deve ter algo de bom neles.”

Assim como na ficção americana, a falta de representatividade feminina é uma realidade brasileira, da educação básica até o meio acadêmico. O problema aparece logo no vestibular: as listas de leituras obrigatórias são formadas, majoritariamente, por homens, perpetuando a marginalidade das mulheres no mundo da escrita. Das nove obras cobradas pela Fuvest 2021, por exemplo, apenas uma é de autoria de uma mulher: “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meireles

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A reivindicação pela inclusão de outros autores menos conhecidos nas leituras obrigatórias é uma pauta não só do movimento feminisma, mas também de imigrantes, negros e LGBTQIA+. Uma pesquisa do Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, um coletivo de pesquisadores da UnB (Universidade de Brasília), mostra que, entre 2004 e 2014, 97,5% dos autores publicados eram brancos. E só 6,9% dos personagens retratados nos romances eram negros.

A busca por mais representatividade das minorias não se trata só de aumentar a quantidade de representantes no poder, ou de rostos negros, femininos e queer em cartazes e telas.  Mas de aumentar a quantidade e a pluralidade de referências no mundo acadêmico e literário – e isso não significa, necessariamente, invalidar autores clássicos ou obras renomadas.

Riot Grrrl

Interpretada por Amy Poehler, Lisa, a mãe de Vivian, foi integrante do Riot Grrrl, um movimento punk feminista do começo dos anos 1990. Seu passado foi inspiração para a filha criar o Moxie, e enfrentar o sexismo na escola.

As bandas Riot Grrrl, como Bikini Kill e Bratmobile, lutavam para que as mulheres pudessem se expressar por meio da música, assim como os homens já faziam. Em suas canções, tratavam de temas importantes como o patriarcado, a sexualidade, o empoderamento feminino e violências e abusos sofridos pelas mulheres. 

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Além da música, o movimento também usava encontros, palestras e zines (publicações caseiras e independentes) para difundir suas ideias – elementos adotados pela protagonista Vivian na produção da Netflix.

A partir da relação da mãe e da filha com o feminismo também é possível pensar em como o movimento feminista percorre épocas. As novas gerações usam o legado das mulheres do passado e também o adaptam para suas realidades.  

Interseccionalidade 

A personagem Lisa fala de interseccionalidade quando reconhece que o Riot Grrl, do qual fez parte, foi um movimento predominantemente branco e de classe média. Esse feminismo “restrito” mantém a invisibilidade das demandas específicas de mulheres negras, asiáticas, indígenas e outras minorias raciais na luta. 

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O filme traz personagens negras, uma asiática, uma trans e uma garota de cadeira de rodas. Mas não destaca nem aprofunda nenhuma das histórias interessantes dessas mulheres. Assim, o feminismo de Vivian, uma mulher branca, ganha o maior destaque e os outros podem ser colocados como contribuições. 

+ Saiba mais sobre Feminismo Interseccional 

O que você achou do filme? Destacaria mais alguma discussão interessante? Conta para a gente nas redes sociais do GUIA. 

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