Luiz Gonzaga, o rei do baião e um dos mais importantes músicos do Brasil no século 20, faria cem anos em 2012. Entre os eventos que marcaram a data, um dos principais foi o lançamento de Gonzaga – de Pai para Filho, ótimo filme que narra a trajetória do grande sanfoneiro, difusor da música nordestina no cenário nacional.
Nascido em Exu, no sertão pernambucano, Luiz Gonzaga é um dos autores da canção Asa Branca, cuja letra famosa fala sobre as agruras da seca. A obra é um clamor diante da falta de água no sertão do Nordeste, problema que atravessa os tempos e ainda persiste. Ao difundir pelo Sul-Sudeste a música sertaneja, a partir da década de 1940, o artista deu um caráter nacional a um gênero musical que, até então, era considerado regional, e exerceu forte influência na formação da atual música popular brasileira. Gilberto Gil, Caetano Veloso e Zé Ramalho, por exemplo, são músicos cuja obra é marcada diretamente pelo trabalho de Luiz Gonzaga.
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Mas não pense que o filme é um documentário. A história é contada a partir da tensa relação entre Luiz Gonzaga e seu filho, Gonzaguinha, nome também importante da música popular brasileira nas décadas de 1970/1980 (morto em acidente de carro em 1991, dois anos depois do pai). Isso porque Gonzagão foi ausente da educação do filho: sua primeira mulher morreu quando Gonzaguinha era pequeno, e ele foi criado por amigos do pai na favela do São Carlos, no Rio.
O longa mostra Gonzaguinha com mais de 30 anos e artista já conhecido indo ao encontro do pai. “Quem era meu pai? Quem era Luiz Gonzaga?” Sua pergunta direciona o filme. A vida do rei do baião é então contada por meio de um relato ao filho: aspectos pessoais e profissionais de Luiz Gonzaga são mostrados desde a sua juventude pobre no sertão pernambucano. Como pano de fundo, vemos um Brasil em mudança e seus contrastes regionais, dos anos 1920 até os 1980.
Na juventude, Luiz Gonzaga ingressa no serviço militar no Ceará. Ao dar baixa do Exército, vai para o Rio de Janeiro ganhar a vida como sanfoneiro. Inicialmente, adapta-se ao gosto vigente, tocando tangos e fados. Começa a se tornar popular quando decide tocar as músicas aprendidas no sertão. Depois, passa a compor. O reconhecimento e o sucesso vêm aos poucos, e a duras penas.
O reencontro entre pai e filho, no fim dos anos 1970, é também um encontro entre a música de origem nordestina e a moderna música brasileira, da qual Gonzaguinha foi um dos protagonistas. Musicalmente, o encontro está registrado no excelente LP/CD ao vivo Gonzagão e Gonzaguinha – A Vida do Viajante. O drama humano no filme fica garantido pelo fato de que a nova família formada pelo músico nordestino tinha péssimas relações com seu filho, e há suspeita de que Gonzagão não tenha sido pai biológico do menino. No final, o reencontro dos dois é marcado por uma superação dos problemas, um acerto de contas entre um pai com a carreira em declínio e um filho politicamente contestador, no auge do sucesso.
Gonzaga – de Pai para Filho
Direção | Breno Silveira
Ano | 2012
Disponível na Netflix
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