Cinco razões para conhecer a feminista Gloria Steinem
Cinebiografia 'The Glorias' ajuda a entender legado desse ícone do movimento pela igualdade de gêneros
A luta pela igualdade entre homens e mulheres tem muitos, incontáveis rostos. No entanto, no século 20, um dos perfis mais conhecidos é o da jornalista e ativista Gloria Steinem. Hoje com 86 anos, a americana esteve envolvida no movimento pelos direitos civis nos anos 1960 e não parou mais de demandar melhores condições de vida para as mulheres e um sistema político mais justo para todos.
Essa trajetória no movimento feminista, que Gloria descreve na autobiografia Minha Vida na Estrada, virou um filme, The Glorias, que acaba de chegar aos serviços de streaming do Google Play e da Microsoft Store
Não chega a ser um grande filme, que faça jus à vida interessantíssima dessa mulher que, aos 20 anos, foi entender a resistência não-violenta pregada por Gandhi na Índia, e testemunhou grandes momentos da história, como o célebre discurso de Martin Luther King na manifestação de Washington em prol dos direitos da população negra. Mas não deixa de ser uma ótima introdução ao feminismo no século passado e uma inspiração para uma vida de lutas, em constante movimento.
A partir da história, que tem quatro atrizes interpretando a protagonista da infância à maturidade (Ryan Kiera Armstrong, Lulu Wilson, Alicia Vikander e Julianne Moore), é possível notar alguns pontos-chave que fazem de Gloria alguém tão importante:
1. Ela sempre soube a importância da luta das mulheres negras, lésbicas, indígenas…
Em seu livro, Gloria Steinem conta que, desde sempre, sabia que seu discurso só alcançaria mais mulheres se ela estivesse junto de outras, que representassem a diversidade. Branca, hétero, de uma família um tanto torta (uma mãe depressiva e um pai negociante em eterna viagem), ela fazia questão de ter ao seu lado mulheres negras, lésbicas, indígenas.
Muito antes do debate sobre a chamada “interseccionalidade” – sobre como outras questões, como o racismo, influenciam no machismo –, ela já era parte do ativismo de Gloria. E isso é bem representado no filme, em que Gloria está sempre acompanhada das ativistas negras Dorothy Pitman Hughes (Janelle Monáe) e Flo Kennedy (Lorraine Toussaint), da líder cherokee Wilma Mankiller (Kimberly Guerrero) e da advogada queer Bella Abzug (Bette Midler).
O filme também mostra como Steinem foi relatora das mulheres nativas americanas na Conferência Nacional das Mulheres de 1977. Aliás, um evento grandioso, de dar inveja aos movimentos atuais.
2. Ela superou a discriminação dentro das redações
Apesar de, atualmente, muitos veículos de imprensa defenderem a importância da diversidade nas lideranças, nem sempre foi assim. As redações refletiam a predominância de homens brancos nas posições de poder e uma mulher, especialmente uma que queria escrever sobre política, não era vista com seriedade. Gloria superou a discriminação – nessa época adotou os óculos aviadores que são sua marca registrada na tentativa de superar a imagem de moça bonitinha –, escreveu para grandes revistas… até achar o próprio caminho, que ia além do jornalismo.
3. Ela ajudou a criar uma das primeiras publicações feministas
Depois de enfrentar barreiras para escrever sobre assuntos que considerava importantes (como o próximo tópico), Gloria decidiu se unir a outras ativistas para lançar a revista Ms., em 1972. E o nome é muito simbólico. Em inglês, as mulheres eram chamadas de “Miss”, caso fossem solteiras, e “Mrs” caso fossem casadas ou viúvas – como acontecia no Brasil com senhorita e senhora. A alternativa, “Ms.”, era um pronome de tratamento neutro, que não estava atrelado ao estado civil da mulher.
Como acontece, aliás, no caso dos homens, tratados apenas por Mr. ou senhor. A publicação marcou época por sua ousadia em tratar temas que não apareciam no mundo de beleza e moda das tradicionais revistas femininas. Você pode conhecer a revista neste link
4. Ela não teve receio de defender causas polêmicas, como o direito ao aborto
Nessa nova publicação, Gloria e sua equipe fizeram matérias ousadas para a época, como a que reuniu depoimentos de mulheres públicas sobre o aborto. Mesmo antes da descriminalização do aborto nos Estados Unidos, elas reuniram personalidades que haviam recorrido à interrupção da gravidez para mostrar que o procedimento não era algo marginal – todo mundo conhece alguém que fez um aborto. Seu livro, aliás, é dedicado ao médico que interrompeu sua gravidez. Ela tinha então 22 anos, havia terminado um noivado para fazer uma bolsa de estudos na Índia. E recebeu um pedido dele: “Você precisa me prometer duas coisas. Primeiro, que você não vai dizer meu nome a ninguém. Segundo, que vai fazer o que quiser com a sua vida.”
5. Octagenária, ela continua lutando pela igualdade de gênero
Do alto de seus 86 anos, ela continua na ativa, inspiradora e produtiva. E é emocionante ver seu discurso no movimento convocado pelas mulheres em janeiro de 2017, após da posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos. Ao ver a multidão de pussy hats (os gorros cor de rosa que marcaram a manifestação), ela disse que a mobilização é o lado positivo do risco de retrocesso representado pelo republicano e se mostrou otimista: “Estive pensando que um dos usos de ter uma vida longa é se lembrar de quando as coisas eram piores”. Veja o discurso:
Para quem quer saber mais sobre Gloria Steinem e sobre a luta por direitos iguais entre homens e mulheres, duas dicas. O livro Minha Vida na Estrada
E a série Mrs. America, disponível no Now, sobre a luta pela ratificação da Emenda de Igualdade de Direitos e a reação negativa que ela despertou na sociedade americana.