Uma nova adaptação do livro “A Cor Púrpura”, de Alice Walker, estreia nos cinemas no dia 8 de fevereiro e reascende debates atemporais como o racismo, o machismo, a interseccionalidade e o lugar da mulher negra no mundo. O filme de 2024 é estrelado pela vencedora do programa de TV American Idol, Fantasia Barrino, que também interpretou a protagonista Celie na adaptação musical do livro para a Broadway.
Trata-se de uma história clássica agora com investimento de peso na produção, elenco e até trilha sonora – com a brasileira Ludmilla cantando “Girls”, ao lado de Dyo e V. Bozeman. Conheça um pouco da história narrada no livro que deu origem ao filme.
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A história de “A Cor Púrpura”
“A Cor Púrpura” é um livro epistolar – escrito em formato de cartas – , e publicado em 1982. Um clássico da literatura estadunidense, ele foi vencedor do Prêmio Pulitzer, responsável por reconhecer trabalhos de excelência na área do jornalismo, literatura e composição musical. A narrativa conta a história de Celie, uma jovem negra, semianalfabeta, que vive no sul dos Estados Unidos no início do século 20.
A história começa quando Celie tem apenas 14 anos e escreve sua primeira carta para Deus, contando sobre o abuso sexual que sofreu do padastro. Acompanhamos sua vida pelos próximos trinta anos enquanto ela escreve cartas também para Nettie, sua irmã desaparecida que ela acredita estar morta.
Além de ser abusada pelo padastro, Celie também sofre com o marido com quem foi forçada a se casar. Ele é um viúvo violento, pai de quatro filhos, que enxergava a esposa como uma serviçal. Ao longo da narrativa, descobrimos que a irmã de Celie está viva e é missionária na África, fazendo com que a abordagem dos temas se amplie para além da vivência da personagem principal nos Estados Unidos. Albert, marido de Celie, escondia as cartas da irmã para que não tivesse acesso a elas.
O texto é escrito a partir de uma linguagem oralizada, refletindo o lugar social da personagem. Em determinado trecho, por exemplo, ela escreve: “Eu nem olho pros homem. Essa é que é a verdade. Eu olho para as mulher, sim, porque não tenho medo delas”.
A escrita também vai mudando conforme Celie cresce e passa a reunir experiências, amores e amigos. Entre estes, está Shug Avery, cantora de jazz e amante de Albert. A partir da personagem principal, a autora do livre tece críticas ao poder dado aos homens em uma sociedade que ainda hoje luta por igualdade entre de gênero, raça e classe.
Repertório vasto
“A Cor Púrpura” é um retrato da vivência da mulher negra na época da segregação racial nos Estados Unidos – e revela como as cicatrizes deste e de outros períodos persistem. O livro aborda ainda outros temas relevantes como o machismo, o patriarcado e a descoberta da própria sexualidade.
Trata-se de uma obra que poderia, por exemplo, ter servido como repertório na redação do Enem 2023 (Exame Nacional do Ensino Médio), cujo tema foram os “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
Veja abaixo as principais discussões da obra e como ela pode te ajudar nos vestibulares.
Segregação racial
Os Estados Unidos, assim como muitos países que passaram pela colonização, ainda guarda uma herança escravagista. A segregação racial no país tem início nesse contexto. Colônia inglesa até 1776, quando tornou-se independente, os EUA encerraram legalmente o sistema escravagista apenas em meados do século 19, após a Guerra de Secessão (1861-1865).
Mas, assim como no Brasil, o fim da escravidão não transformou a vida dos negros. O grupo continuou marginalizado e sem programas governamentais para promover sua integração à sociedade após a abolição. A população negra se tornou, na verdade, alvo de grupos racistas e segregacionistas, como a Ku Klux Klan (KKK), fundada em 1866. Os membros usavam túnicas e capuzes brancos para esconderem sua identidade e praticavam crimes de ódio, como incêndios, torturas e linchamentos.
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A segregação foi sustentada pelas leis Jim Crow, que impuseram a separação entre brancos e negros em escolas, transportes públicos e outros aspectos da vida cotidiana. Também foram criados testes de alfabetização usados para negar o direito de voto aos afro-americanos.
Este período é pano de fundo para a história contada em “A Cor Púrpura”.
Apesar da luta por direitos da população negra ter começado ainda na década de 1950, apenas em 1964, depois de uma década dos movimentos pela igualdade racial, foi promulgada a Lei dos Direitos Civis, que eliminou formalmente a legislação discriminatória. Nomes importantes no movimento foram Martin Luther King, Rosa Parks e Malcolm X. Porém, mesmo com a lei, a discriminação racial segue em curso no país – como prova a morte de George Floyd, vítima de violência policial.
Um outro filme que exemplifica a segregação nos Estados Unidos é “Estrelas Além do Tempo” que conta a história de três mulheres negras cientistas que trabalhavam na Nasa.
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Vivência da mulher negra
A interseccionalidade ocorre quando dois fatores ou mais se cruzam e têm impacto na vivência de uma pessoa que faz parte de uma minoria social. Explicamos melhor. Em “A Cor Púrpura”, a protagonista é Celie, uma mulher negra. Ela sofre, portanto, uma dupla discriminação – a de gênero, em uma sociedade machista, e a de raça, por pertencer a uma parcela da população historicamente marginalizada. Trata-se de um contexto que coloca as mulheres negras em uma situação mais forte de vulnerabilidade. A interseccionalidade veio para pensar em como as opressões não podem ser vistas de forma separada.
Mesmo antes da criação do termo, mulheres como Sojourner Truth, escravizada negra, falaram da dupla opressão em ser mulher e negra. A discussão teve início no século 20, no Movimento Sufragista, quando as mulheres conquistaram o direito ao voto. Sojourner Truth e outras mulheres negras denunciaram o feminismo como um movimento não representativo da realidade.
Elas queriam chamar a atenção para o fato de que as opressões sofridas por uma mulher negra não vem apenas do machismo, mas também do racismo, criando assim uma experiência diferente da vivida pela mulher branca. Isso foi apontado na criação do conceito de interseccionalidade em 1989 pela ativista Kimberlé Crenshaw.
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Nomes que podem ajudar nos seus estudos mais aprofundados sobre a vivência da mulher negra são bell hooks, Sueli Carneiro, Conceição Evaristo e Lélia Gonzalez.
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Patriarcado
O patriarcado é um sistema sociopolítico no qual o machismo se baseia. Nele, o gênero masculino e a heterossexualidade têm superioridade em relação a outros gêneros e orientações sexuais. Trocando em miúdos, é a forma como a maior parte das sociedades opera: são os homens quem ocupam as posições de poder, eles são a autoridade máxima e a organização familiar gira em torno deles.
Essa visão da superioridade do homem sobre a mulher é responsável pela ideia central do pensamento machista. A partir do machismo, o homem é visto como livre para ser e fazer o que quiser, independentemente de como isso afeta o restante das pessoas.
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O patriarcado está na raiz das diferentes violências sofridas pelas mulheres, como a física, moral, psicológica e sexual.
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