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Glossário do feminismo: entenda os termos usados pelo movimento

Gaslighting, manspreading, cultura do estupro... O feminismo está cheio de termos e conceitos que você precisa entender para entrar no debate

Por Letícia Albuquerque
Atualizado em 8 out 2020, 16h36 - Publicado em 8 out 2020, 16h35
 (Juliana Vitória/Guia do Estudante/Reprodução)
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As mulheres conquistaram o direito ao voto no começo do século 20. A partir de então, o movimento que propõe a igualdade de direitos entre homens e mulheres se desdobrou para repensar a sociedade e a História de diversas formas. De acordo com um relatório lançado anualmente no Fórum Econômico Mundial, no ritmo atual, o Brasil deve levar ainda 59 anos para acabar com a desigualdade de gênero.

Por isso, ampliar o debate é necessário. Mas, participar, é necessário entender os conceitos usados para discutir o machismo e o movimento feminista. Confira nosso glossário com os termos mais usados pelo movimento.

Machismo

Patriarcado: sistema sociopolítico no qual o machismo se baseia. Nele, o gênero masculino e a heterossexualidade têm superioridade em relação a outros gêneros e orientações sexuais. Esse sistema histórico construiu uma base de privilégios para os homens.

Misoginia: sentimento de aversão e horror patológico pelo gênero feminino. Esse sentimento é expressado através das práticas machistas, traduzindo-se em violências físicas e/ou psicológicas. A misandria seria o equivalente direcionado aos homens.

Sexismo: é a discriminação de pessoas em razão do sexo biológico e/ou do gênero, considerando o papel social de cada gênero a partir de estereótipos comportamentais. A fala da Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, “menino veste azul e menina veste rosa”, pode ser entendida como uma prática sexista, por separar os gêneros de acordo com regras sociais sobre comportamentos, vestimentas, etc.

Objetificação: quando uma pessoa é reduzida à condição de objeto. No caso da objetificação feminina, a mulher é limitada à consideração da sua beleza física e de seus atributos sexuais. Dessa forma, sua existência como pessoa, como sujeito dotado de pensamentos e sentimentos, é anulada.

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Cultura do estupro: refere-se a uma sociedade que banaliza, legitima e, por consequência, tolera agressões e assédios sexuais contra a mulher. Essa cultura está intimamente ligada à objetificação feminina. Nela, a mulher é julgada por suas condutas sexuais e morais, justificando violentas. De acordo com a Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos (Anadep), uma mulher é estuprada a cada 11 minutos, no Brasil.  Um exemplo da cultura do estupro é a culpabilização da vítima de assédio sexual. 

Esse vídeo produzido pela Superinteressante explica a teoria em dois minutos.

Feminicídio: um terço dos homicídios no mundo é cometido contra mulheres por seus companheiros ou ex-companheiros. A reincidência e a gravidade desses casos deu origem à palavra “feminicídio”. Ela define o assassinato de uma mulher por causa da discriminação e menosprezo quanto à sua condição de gênero. Nesses casos, muitas vezes o homem considera a mulher sua propriedade (novamente, a objetificação), retirando dela direitos.

Abusos

Mansplaining: foi criado pela escritora Rebecca Solnit no livro Os Homens Explicam Tudo para Mim, de 2008. O neologismo é a junção das palavras “man” (homem, em português) e “explaining” (explicação). Significa o ato de homens tentarem insistentemente explicar algo para uma mulher quando ela já sabe sobre o assunto. Um exemplo é o caso da neurologista Tasha Stanton que, durante uma palestra, foi interrompida por um espectador que sugeriu que ela lesse um artigo sobre tema apresentado. O trabalho sugerido por ele havia sido escrito pela própria palestrante.

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Manterrupting: esse abuso acontece, muitas vezes, associado ao mansplaining. E diz respeito à interrupção constantes da fala da mulher, sem deixá-la terminar. A palavra também é um neologismo e une as palavras “man”, novamente, e “interrupting” (interrupção, em português).

Bropriating: refere-se a quando um homem se apropria de uma ideia que foi originalmente pensada por uma mulher e recebe créditos por ela. A gíria “bro” vem da palavra “brother”, comumente usada na língua inglesa. E une-se a palavra “apropriating” (apropriação, em português).

Gaslighting: é uma forma de abuso psicológico usada por homens para convencer a mulher de que ela está louca, invalidando seus sentimentos. É comum em relacionamentos heterossexuais abusivos. O termo surgiu a partir do filme Gaslight (À Meia Luz), de 1944. Para esconder um segredo da esposa, o marido da protagonista usa táticas para abalar o estado psicológico da mulher, convencendo-a de que está louca.

Manspreading: é usado quando um homem abre tanto as pernas ao sentar-se no transporte público que invade o espaço dos demais passageiros. O neologismo usa a palavra “spreading” que significa, em português, espalhar-se.

Slutshaming: usada para identificar discriminações sobre mulheres ou meninas a partir de estigmas sexuais. O slutshaming pode ser feito tanto por homens quanto por mulheres – como, aliás, outras práticas machistas. Por exemplo, quando alguém discorda de uma mulher e usa palavras como “vadia” ou “vagabunda” para xingá-la. A palavra “slut” é usada para se referir a mulheres com comportamentos considerados promíscuos pelo papel de gênero imposto pelo machismo. Enquanto “shaming” vem da palavra “shame”, em inglês, que quer dizer “vergonha”.

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Juntas

Sororidade: refere-se a uma aliança entre as mulheres para apoiarem-se mutuamente a fim de enfrentar os obstáculos impostos pelo patriarcado. O termo “sisterhood” foi inicialmente usado pela escritora Kate Millet, na década de 1970, e quer dizer irmandade entre mulheres, irmãs. Mais tarde, o termo “sororité” foi adotado pelas feministas francesas, chegando mais tarde ao Brasil como “sororidade”.

No vídeo, a psicanalista Maria Homem explica o que o termo significa.

Teste de Bechdel: foi criado pela escritora de quadrinhos Alison Bechdel para avaliar a representação do gênero feminino nas produções artísticas. De acordo com a autora, para saber se uma representação feminina está fora do estereótipo machista, é preciso preencher três requisitos. A produção deve ter duas ou mais personagens femininas. Elas devem conversar entre si em algum momento durante a obra. E sobre algo que não sejam homens. O teste foi criado com objetivo humorístico, mas acabou viralizando na Internet, depois de que diversos filmes famosos terem sido “reprovados”.

Leia mais sobre esse assunto

Entender os termos vai ajudar você a participar das discussões na internet e fora dela. Mas, mais importante do que o vocabulário, é se aprofundar no tema. Com pensadores brasileiros e estrangeiros, essa lista reúne conteúdos de teóricos, YouTubers, entre outros.

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