8 livros para ler antes de entrar na faculdade, segundo professores
A lista ajuda a compreender e ampliar a visão de mundo sobre temas como desigualdade, racismo e democracia
Apesar de passar boa parte da vida dentro da escola, muitas vezes o estudante não consegue reunir repertório e bagagem suficientes para desenvolver o pensamento crítico antes de entrar na universidade. O impasse não é tão simples, mas existe uma forma de ao menos atenuá-lo com uma pequena ajuda: a dos livros. Existem obras que auxiliam nessa busca por conhecimento e facilitam a compreensão e leitura do mundo.
O GUIA DO ESTUDANTE reuniu as recomendações de oito professores do Colégio Positivo com livros para ler antes de entrar na faculdade. São leituras que ajudam a compreender fenômenos sociais, econômicos e políticos que nos rodeiam. Confira:
O Alienista, de Machado de Assis
Classificado ora como conto, ora como novela, O Alienista, de Machado de Assis, foi publicado pela primeira vez em 1882. De maneira humorada e crítica, a obra conta a história do médico Simão Bacamarte, que depois de viajar por diversos cantos da Europa e do Brasil, tornando-se conhecido e respeitado em seu campo de atuação, decide voltar para sua cidade natal, Itaguaí, para atuar como psiquiatra. Seu intuito é ajudar a população local.
Simão abre a clínica psiquiatra Casa Verde na cidade, para ampliar seus estudos sobre a mente humana. Mas os critérios do médico para a internação de pacientes ficam cada vez mais confusos e turvos. O livro traz à tona uma discussão que não deixa de ser atual: o que é, afinal, a loucura?
O final inesperado desta obra clássica de Machado de Assis, com ácidas críticas sociais e um debate definidor sobre insanidade, é imperdível para quem aprecia a escrita deste que é considerado um dos maiores escritores do mundo.
“Ler Machado é conhecer um pouco da rica literatura brasileira. ‘O Alienista’ aborda o comportamento, as atitudes, os interesses, as relações sociais e o egoísmo humano”, conclui a professora de redação do Positivo, Candice Almeida.
Discurso do Método, de René Descartes
Publicado em 1637 pelo famoso filósofo Descartes, Discurso do Método inaugurou a filosofia moderna. O movimento, que ocorreu entre os séculos 15 e 18, representou a quebra do vínculo com a filosofia cristã e valorizou o pensamento sobre a razão, quebrando paradigmas da escrita e do pensamento crítico.
Até então, os escritos de filosofia eram redigidos em latim, apenas para quem dominava a língua. No entanto, Discurso do Método nasce em francês, considerada uma língua vulgar. Nele, Descartes discorre sobre os caminhos para a construção do conhecimento a partir da razão para toda a população, o que também explica a escolha do francês para a escrita da obra.
Para ele, a razão é um direito de saber de todos os seres dotados de capacidade de pensamento crítico. Em Discurso do Método, todas as atividades humanas devem sempre passar pelo filtro da razão e da criticidade humana. Apenas assim as pessoas estariam libertas de qualquer dogma sufocador.
Para a professora de Sociologia e Filosofia, Mariana Rogeski Boá Marzola, “essa é a obra que fundamenta a didática construída até os dias de hoje. Compreendendo o caminho que o conhecimento deve seguir, o estudante estará apto a iniciar pesquisas científicas com maior facilidade”
Como as democracias morrem, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt
Escrito por dois professores de Harvard, “Como as democracias morrem” fala da trajetória de movimentos políticos extremistas ao longo da história mundial, como a ascensão de Hitler e Mussolini, e os compara com o processo de ascensão de figuras autoritárias do atual cenário, como o ex-presidente dos Estados Unidos eleito em 2016, Donald Trump.
O livro também aponta os elementos que foram essenciais para a efervescência da extrema-direita no mundo, ilustrando como estes movimentos ajudam a aniquilar a democracia e criar base para golpes militares ou o surgimento de governos autoritários. São cenários que apresentam algumas similaridades entre si, como o enfraquecimento da imprensa e do sistema judiciário. Um livro sem dúvida contemporâneo e esclarecedor sobre como morrem as democracias.
Eduardo Berkenbrock Lopes, professor de Geografia, afirma que o livro contribui para que o estudante valorize “direitos historicamente adquiridos” e compreenda “a importância de garantir direito de fala e representatividade às minorias, buscando justiça social”.
Quarto de Despejo – diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus
Em “Quarto de Despejo”, a escritora Carolina Maria de Jesus relata seu cotidiano e dificuldades como mulher negra e moradora da favela do Canindé, em São Paulo. A obra, que nasceu como um diário de Carolina, traz relatos sobre sua vida como catadora de papel, em busca de prover o sustento próprio e dos filhos.
A escrita da autora escancara as mais violentas mazelas que ainda assombram o Brasil, como o racismo, a fome e a extrema desigualdade social.
Tendo sido por muito tempo a escritora negra que mais vendeu livros na história mundial, a autora convida o leitor a sair de sua bolha social, levando o desconforto de uma realidade que ainda atinge uma grande parcela da população brasileira. Para a professora de Literatura, Caroline Knüpfer, “ler o livro da Carolina ajuda a compreender melhor o país e as pessoas que nele moram”.
O Teatro dos Vícios, de Emanuel Araújo
A grande obra de Emanuel Araújo, “Teatro dos Vícios” foi publicado em 2008, e traz um excelente panorama histórico de formação dos processos políticos no Brasil, desde o seu período como colônia até os dias de hoje.
Como surgiu o famoso “jeitinho brasileiro”? Por que lidamos com crises políticas, sociais e econômicas de modo tão negativamente transgressor? Qual o motivo para a alta incidência de corrupção e impunidade no país? Essas são algumas questões respondidas por Teatro dos Vícios. “É claro que cada área de estudo tem seus próprios interesses, mas, de forma geral, é muito importante para os acadêmicos ter uma visão crítica dos processos políticos brasileiros”, afirma André Marcos, professor de História do Colégio Positivo.
Os Sertões, de Euclides da Cunha
Publicado em 1902, o livro “Os Sertões” traz relatos sobre a Guerra de Canudos, ocorrida entre os anos de 1896 e 1897 no interior da Bahia. O livro, além de ser tido como uma maiores obras da literatura brasileira, também é considerado o primeiro livro-reportagem nacional.
Euclides da Cunha, autor de “Os Sertões”, foi enviado pelo Estado de S. Paulo para cobrir os acontecimentos que estavam acontecendo em Canudos. O livro é um compilado das reportagens escritas pelo autor para o jornal durante os dois anos da Guerra e que compõem a “Caderneta de Campo”, caderno de anotações de Euclides durante sua cobertura.
Divido em três partes, Os Sertões descreve de maneira sutil, mas poderosa, o cenário árido do sertão nordestino, o homem sertanejo e, por último, a batalha de Canudos, liderada por Antônio Conselheiro. A obra denuncia a violência policial e a intolerância não apenas contra a vila de Canudos, mas que pairou sobre todo o povo nordestino. Para o professor de História, Jakson Carlos Baniski, trata-se de uma leitura essencial para quem busca compreender melhor a relação entre a História, Sociologia, Geografia, Filosofia e Literatura no Brasil.
Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre
Em “Casa Grande e Senzala”, Gilberto Freyre, sociólogo brasileiro, discorre sobre a formação da população brasileira e a miscigenação de povos indígenas, africanos e europeus.
O autor delibera ao longo da obra sobre as bases para a colonização portuguesa e a criação do Brasil colônia: a escravidão da população africano, a invasão de grandes territórios, os latifúndios, e a própria miscigenação. Considerado como uma das maiores referência nos estudos sobre cultura e sociologia brasileira, o livro trata da escravidão e realiza um esforço na consolidação de uma identidade nacional. Mas não passa incólume às críticas.
Pesquisadores apontam que Freyre contribuiu, nesta obra, para “suavizar” a escravidão no país, focalizando os aspectos positivos da miscigenação. Para muitos, é em “Casa Grande e Senzala” que nasce o “mito da democracia racial” – a ideia de que, no Brasil, todas as raças convivem em harmonia e igualdade.
Ainda assim, o livro é fruto de uma extensa e aprofundada pesquisa e, por isso, torna-se elemento chave para a compreensão da história brasileira.
Os Miseráveis, de Victor Hugo
Adaptado para o teatro, o cinema, a música e as artes visuais, Os Miseráveis é um inegável clássico da literatura mundial. O livro conta a história de Jean Valjean, um homem que é condenado a dezenove anos de prisão pelo simples roubo de um pão. Sob este pretexto, Victor Hugo denuncia com fervor todos os tipos de desigualdade que assolam a sociedade e que ela própria faz perdurar por séculos.
Escrito há 160 anos, o livro nunca deixou de ser uma obra contemporânea, que dialoga com os diversos contextos sociais existentes no mundo e que se repete a cada geração. Durante a leitura nos deparamos com os seguintes questionamentos: a valorização da produção e dos ganhos está acima da integridade humana? Qual o lugar da empatia na sociedade? Para Kalen Franciele Piano, professora de Língua Portuguesa, a importância histórica e social da obra maior de Victor Hugo é incontestável.
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