Entenda a recente disputa entre Estados Unidos e China
Guerra comercial, acusações de espionagem, a pandemia de coronavírus e nova lei de segurança de Hong Kong são alguns dos capítulos desta disputa entre potências
A tensão entre Estados Unidos e China vem crescendo desde o começo de 2020, mas não é de hoje que a relação entre as duas maiores economias do mundo anda estremecida. As últimas atitudes dos dois países colocaram novamente o relacionamento das nações em questão. Em julho, o governo Trump mandou fechar o consulado chinês em Houston e, como retaliação, a China ordenou o encerramento das operações diplomáticas dos norte-americanos do consulado em Chengdu, na província Sichuan.
Essa escalada recente da tensão é resultado de uma série de eventos políticos, econômicos e militares envolvendo as duas potências desde 2017, quando Donald Trump passou a ocupar o posto de Presidente dos Estados Unidos. A política aplicada pelo homem mais poderoso dos EUA desde 2018, resumida pelo slogan “America First” (“América Primeiro”), tem como objetivo priorizar a indústria nacional, o que significa um programa de importações com maiores preços aos que comercializarem qualquer insumo para dentro do país.
Com isso em mente, em janeiro de 2018, com um ano de mandato, Trump anunciou uma tarifa maior sobre painéis solares e máquinas de lavar vindas da China. Uma sobretaxa de 25% sobre aço e de 10% sobre alumínio foi implementada logo na sequência para quase todos os países. México e Canadá eram isentos. Com o tempo, diversos outros países tiveram seus nomes colocados na lista de exceções, mas a China permaneceu.
Em abril de 2018, a China respondeu às tarifas impondo 25% de taxas em 128 produtos americanos. Logo em seguida, os Estados Unidos avisaram que iriam implementar a mesma porcentagem em cima de 50 bilhões de produtos chineses. Os país do oriente também colocou tarifas sobre 50 bilhões de materiais comprados dos norte-americanos.
Desde aquela época até janeiro de 2020 aconteceu uma intensa guerra comercial, com taxações e mais taxações. Durante este período de dois anos existiram algumas tentativas de negociação, marcando momentos nos quais tarifas eram postergadas ou retiradas momentaneamente. O acordo para terminar esse embate só foi assinado no dia 15 de janeiro de 2020.
O documento previa que a economia comandada por Xi Jinping comprasse mais produtos americanos, a fim de reduzir o déficit comercial do país no comércio bilateral, e, do outro lado, os Estados Unidos reduziriam taxas que seriam postas em prática caso as nações não chegassem a um acordo. Esta foi a fase um do compromisso, que previa uma parte dois, ainda em discussão.
Este episódio, entretanto, parece ter sido o único momento de consenso e paz entre as nações em 2020. A pandemia de Covid-19 marcou o ano e mudou totalmente a dinâmica mundial. Parece que o mesmo aconteceu na relação entre os dois países, que passaram a estabelecer novas brigas decorrentes da doença. Vale lembrar que a Covid-19 foi diagnosticada pela primeira vez na China e os Estados Unido têm o maior número de casos e mortes do mundo.
Donald Trump chamou o coronavírus de “vírus chinês”, acusou a China de ter fabricado o vírus em laboratório e também acusou o país rival e a Organização Mundial da Saúde de terem deixado a doença sair do controle, após não terem controlado o vírus adequadamente. Além disso, em outro momento, o presidente disse que os chineses causaram um grande dano aos EUA e o mundo, sem citar a doença diretamente.
Ainda neste âmbito, os Estados Unidos acusaram dois hackers chineses de roubarem dados sobre projetos de vacinas sendo desenvolvidas em solo norte-americano para o Ministério de Segurança de Estado da China em julho. Dois meses antes, o governo americano já tinha acusado o país de Xi Jinping de roubo de propriedade intelectual de empresas e universidades americanas que trabalhavam em tratamentos e vacinas da Covid-19. A China nega.
O episódio de julho foi o estopim para o fechamento do consulado chinês em Houston, no dia 24. Inclusive, após a ordenação para o encerramento das atividades, veículos locais filmaram papéis sendo queimados no pátio do prédio diplomático. A suspeita americana é que o conteúdo tinha relação com ações de espionagem.
A China considerou a atitude uma provocação política e prometeu retaliação, que veio. Np mesmo dia do fechamento do escritório diplomático de Houston, os chineses informaram que fechariam o consulado americano em Chengdu, na província Sichuan, importante ponto comercial para os americanos.
A questão cibernética também foi um dos motivos que fez com que os EUA levassem a disputa com os chineses para o meio das telecomunicações. A Huawei, gigante chinesa, foi quem sofreu com o boicote americano. Alegando que os aplicativos desenvolvidos pela companhia poderiam ser utilizados para espionagem, o governo Trump passou a dificultar a operação da empresa. E não foi só no próprio país. O Reino Unido e a França, aliados dos Estados Unidos, já limitaram ou proibiram a implementação da tecnologia 5G da multinacional. A expectativa é que outras nações sigam a mesma linha.
Outro acontecimento que colocou as duas potências em lados opostos foi a nova lei de segurança de Hong Kong, aprovada em junho de 2020. O território localizado na China era considerado independente, ou seja, tendo seu próprio governo e políticas, mas tudo isso mudou com a imposição da nova lei. A fim de evitar e criminalizar atos separatistas, a China criou esta nova ordem na qual passa a exercer maior controle e ter mais liberdade para atuar em Hong Kong.
Isso fez com que os Estados Unidos terminassem com os privilégios concedidos a Hong Kong no caráter econômico e comercial. A China insinuou que essa atitude é uma séria interferência em assuntos internos e, como sempre, prometeu retaliar. No meio da escalada da tensão envolvendo o território, o governo Trump chegou até a cancelar o envio de armamentos para Hong Kong. Mike Pompeo, Secretário de Estado americano, afirmou em comunicado: “Não é mais possível distinguir entre exportações controladas para Hong Kong ou China continental”.