Engenharia de Produção: como é o curso em 9 perguntas e respostas
Graduação relaciona conhecimentos de Engenharia a técnicas de Administração e fundamentos da Economia
Uma das engenharias mais procuradas pelos estudantes – tanto em número de inscritos como em matrículas – a Engenharia de Produção associa conhecimentos de Engenharia a técnicas de Administração e fundamentos da Economia para propor procedimentos e métodos que racionalizam o trabalho, aperfeiçoam a produção e ordenam as atividades financeiras, logísticas e comerciais de uma organização.
Para ajudar você a entender mais sobre essa engenharia, o Guia do Estudante entrou em contato com dois coordenadores de curso – Dário Alliprandini, do Centro Universitário FEI, em São Bernardo do Campo (SP), e José Lázaro Ferraz, da Faculdade de Engenharia de Sorocaba (Facens). Eles respondem 9 perguntas sobre essa graduação.
1 – O que faz exatamente um engenheiro de produção? Poderia dar um exemplo concreto?
Prof. Ferraz: A Engenharia de Produção é o único curso de Engenharia que estuda a relação do ser humano a aspectos de produtividade, qualidade e competitividade. Na Engenharia Mecatrônica, por exemplo, o aluno projeta e constrói robôs. Na Engenharia Mecânica, ele projeta e dimensiona máquinas. Já na Engenharia de Produção, o aluno aprende como projetar e organizar os sistemas produtivos de uma linha de produção (de automóvel, por exemplo), em que serão utilizados robôs e máquinas. Esse processo deverá considerar o planejamento da linha de produção, seu controle, os sistemas de abastecimento, a qualidade do produto, a produtividade e a rentabilidade do sistema. Deve levar em conta, também, a gestão – os custos relacionados ao trabalho e o dimensionamento dos recursos humanos (pessoas) necessários.
2- Como um aluno de Ensino Médio pode saber se ele tem perfil para o curso?
Prof. Alliprandini: Ele deve imaginar o que se vê fazendo uns 10 anos mais tarde. Se visualizar uma pessoa lidando com desafios e problemas não estruturados que exigem habilidade para enfrentá-los e solucioná-los, a Engenharia de Produção poderia ser uma carreira adequada.
Teste: Que tipo de engenheiro você é?
3- Quais as maiores dificuldades encontradas pelos alunos (sobretudo pelos ingressantes)?
Prof. Ferraz: Como todo curso de Engenharia, as dificuldades estão relacionadas ao ciclo básico da graduação, que demandam aplicações de cálculo, física e matemática, envolvendo raciocínio lógico. Em muitos casos, os alunos não estão acostumados com esses temas no Ensino Médio, o que exigirá uma dedicação maior para acompanhar as disciplinas.
4- De qual disciplina ou atividade os estudantes costumam mais gostar no curso?
Prof. Alliprandini: Das atividades práticas desenvolvidas nos laboratórios e da proximidade com problemas reais das empresas. Por exemplo, eles estudam e decidem sobre a localização de uma fábrica para fabricar um determinado produto. Eles projetam o layout com o auxílio de sistemas computacionais (simulam cenários alternativos para a tomada de decisão), especificam equipamentos e demais recursos necessários, fazem análise de custo e de engenharia econômica. Ou projetam uma rede de logística de fornecedores para materiais e de distribuição dos produtos para venda. Neste caso, definem as rotas e os centros de estoque e projetam o sistema da logística reversa, que inclui a retirada de produtos e resíduos.
5- Quais as principais disciplinas básicas? O que se aprende em cada uma delas?
Prof. Ferraz: Cálculo 1: desenvolvimento de raciocínio lógico para resolver problemas de cálculos e dimensionamentos que serão utilizados nas práticas de Engenharia de Produção.
– Engenharia Experimental: ensinamentos sobre os diversos fenômenos físicos, as leis da natureza e suas aplicações em projetos técnicos.
– Comunicação e Expressão: orientação sobre os fundamentos da língua portuguesa e suas aplicações nas relações de comunicação pessoal, social e profissional.
– Introdução à Engenharia de Produção: os principais conceitos de Engenharia de Produção, o papel do profissional no mercado de trabalho e sua missão como futuro engenheiro de produção.
6- E as principais disciplinas específicas? Que conteúdos elas trazem?
Prof. Alliprandini: Gestão da Produção e Operações (manufatura e serviços): eles aprendem quais os tipos de sistemas de produção e como escolher o tipo mais adequado para o seu negócio; quais são os sistemas de controle e planejamento da produção e como aplicá-los em diferentes ambientes; como escolher e especificar os processos, incluindo análise da adoção de novas tecnologias.
Qualidade (controle e melhoria): como definir e projetar o sistema de controle da qualidade da matéria-prima, dos processos, dos produtos e dos serviços finais; e como analisar os processos e resultados da produção para identificar oportunidades de melhoria.
Estratégia e Inovação: quais são os objetivos estratégicos (por exemplo custos, rapidez, qualidade); como estabelecer e implantar uma estratégia para o sistema de produção ou prestação de serviço; como lidar com a inovação, incluindo a inovação de produto, de processo e de gestão.
Logística e Cadeia de Suprimentos: conceber e projetar uma rede de fornecedores (que entrega materiais em uma fábrica) e uma rede de distribuição (centros de distribuição e de varejo); analisar e especificar os modais (rodoviários, aéreo, naval, ferroviários, etc.) e calcular as rotas a serem seguidas.
7 – E na parte prática? Quais atividades os alunos têm?
Prof. Ferraz: Após aprenderem os conceitos e os fundamentos teóricos da disciplina de Desenvolvimento de Produto, por exemplo, os alunos utilizam o laboratório de prototipagem, o FABLAB, para construírem os protótipos dos produtos projetados.
Também há a Maratona Anual de Modelagem e Simulação, em que os alunos desenvolvem projetos de simulação empresarial. Neste ano, a Facens ganhou o Concurso Nacional de Simulação – Simula Brasil, promovido pela Associação Brasileira de Engenharia de Produção e pela Belge Brasil.
Prof. Alliprandini: No laboratório de manufatura digital, automação e simulação, por exemplo, os alunos desenvolvem os projetos em ambiente computacional e visualizam os resultados digitalmente e em 3D. Realizam diferentes alternativas por meio de simulação digital, e também há uma célula produtiva com máquina e robô em que eles podem verificar fisicamente algumas possiblidades reais.
Em relação à participação em concursos, no GM Experience, neste ano, o desafio foi analisar toda a rede de fornecedores para um novo projeto de carro da GM, indicando a melhor solução para a rede de fornecedores em termos de prazo, custo e qualidade. O grupo da FEI foi o melhor do Brasil. Representou o país nos Estados Unidos e terminou em 2º lugar mundial.
8 – Há obrigatoriedade de trabalho de conclusão de curso? Em geral, como ele é feito?
Prof. Ferraz: Sim. Os trabalhos podem ser desenvolvidos com base em aplicações técnicas e desenvolvimento de protótipos ou podem ser baseados em estudos de casos reais vivenciados em empresas.
9- É necessário fazer estágio para se formar? Onde ele costuma ser realizado?
Prof. Alliprandini: Sim, é necessária, pelo menos, a comprovação de 160 horas de estágio. Os estágios são realizados em empresas manufatureiras do setor automobilístico, do setor da linha branca (geladeiras, fogões etc.), fabricantes de grandes equipamentos (turbinas, máquinas de produção etc.), produtoras de alimentos, bancos, seguradoras e empresas de consultorias. Uma área crescente é o setor de saúde (hospitais, laboratórios etc).