Assine Guia do Estudante ENEM por 15,90/mês

Maceió vai afundar? Entenda o desastre envolvendo a Braskem

Moradores de diversos bairros da cidade ficaram desalojados e denunciam os impactos da extração de sal-gema na região

Por Julia Di Spagna
Atualizado em 7 dez 2023, 13h29 - Publicado em 7 dez 2023, 12h28
Bairro do Mutange, em Maceió, evacuado por risco de afundamento do solo (Maira Erlich/Bloomberg/Getty Images)
Continua após publicidade

Nos últimos dias, milhares de pessoas que moram em Maceió (AL) tiveram de deixar suas casas por conta do risco de colapso de uma mina de sal-gema que pertence à empresa petroquímica Braskem. O solo de diversos bairros está afundando e, segundo a Defesa Civil, uma cratera do tamanho do estádio do Maracanã pode se abrir no local. 

Embora a repercussão tenha aumentado nas últimas semanas, o problema não é recente e se arrasta pelo menos desde 2018. Afinal, Maceió vai afundar? O GUIA DO ESTUDANTE explica neste texto o que está acontecendo na cidade, o histórico de exploração do minério e quais as consequências para a população. Também conversamos com professores de Geografia e Química para mostrar como o tema pode aparecer nos vestibulares.

Por que Maceió está afundando?

casa pichada em maceió
(Cibele Tenório/Agência Brasil)

O problema ocorre pela longa exploração de sal-gema na região, combinada com a localização das minas em uma área de falha geológica. A extração desse minério gera pontos de fragilidade no subsolo, que começa a ceder. É como se fossem formados grandes buracos nessa camada que, se não são preenchidos, levam ao afundamento do solo. A partir disso os bairros da área afetada começam a afundar, pois parte da estrutura rochosa que lhes dava sustentação foi retirada pelo processo de mineração.

Especialistas afirmam que ainda será necessária uma longa investigação para entender como a situação chegou a este ponto, mas que, definitivamente, o agravamento da situação não tem um fundo somente natural. Provavelmente houve atraso ou inadequação nas medidas de prevenção ao ocorrido.

+ O que é racismo ambiental e como ele ocorre no Brasil e no mundo

A exploração histórica de sal-gema em Maceió

A situação que Maceió enfrenta hoje tem origem em décadas atrás. Desde os anos 1970, diferentes empresas, com liderança da Braskem no período mais recente, vêm extraindo sal-gema do subsolo de bairros da cidade. Essa extração intensiva e prolongada, especialmente em áreas de falha geológica, vai deixando buracos no subsolo. Esses buracos se transformam em cavernas artificiais e as paredes entre essas cavernas começam a ceder – o que também acontece com a estrutura rochosa como um todo.  

Continua após a publicidade

Em 2018, isso começou a resultar em rachaduras e afundamento do solo, afetando principalmente os bairros de Pinheiro, Mutange e Bebedouro, e deslocando milhares de pessoas até chegar na situação atual. Já foram mais de 60 mil pessoas removidas da região, que hoje está próxima de um colapso.

O que é sal-gema e como é realizada sua extração?

Para começar, é importante saber que tudo que se chama ‘gema’ é minério. O sal-gema é o minério de sal, ou seja, é um minério de NaCl (cloreto de sódio). Também chamado de halita, ele é encontrado em jazidas subterrâneas formadas a partir da evaporação do oceano, como explica Pietro Escobar, professor de Química do Curso e Colégio Oficina do Estudante.

No Chile, o sal-gema é extraído do deserto; aqui no Brasil, é extraído das minas, localizadas principalmente em estados da região Nordeste como Alagoas. Essa matéria-prima é usada pela indústria química na produção de soda cáustica e bicarbonato de sódio, além de produtos de limpeza e higiene.

sal-gema extraído
(Tawatchai/freepik/Reprodução)

A extração do sal-gema pode ser feita de diferentes maneiras. Quando o minério está em uma região mais profunda e já existem bairros ou outras ocupações em cima das áreas a serem exploradas, a extração ocorre por meio de túneis. Eles são escavados e recebem água para dissolver o sal-gema, posteriormente bombeando esse material dissolvido para a superfície. Era isso que a Braskem fazia. 

Continua após a publicidade

O problema é que esses túneis precisam, depois, ser preenchidos com areia, o que nem sempre é feito de maneira adequada. Cria-se então uma situação de muita instabilidade nos solos — especialmente quando por cima desse local existem edificações pesadas, como casas, prédios e avenidas, além da passagem de máquinas, tratores, ônibus.

Segundo Augusto Neto, autor de geografia do Sistema de Ensino pH, a melhor forma de explorar sal-gema sem causar tragédias envolve duas ações: um monitoramento geológico preciso e meticuloso, buscando evitar áreas com falhas tectônicas, e o preenchimento das cavidades que são criadas pela extração, evitando que o solo ceda.

“Para evitar esse cenário, essas cavernas deveriam ter recebido areia, mas das 35 minas da Braskem, só 5 foram preenchidas pela empresa. Isso significa que a grande maioria ficou fragilizada. Em 2019, a extração foi paralisada, mas o processo de afundamento continuou e se aprofundou nas últimas semanas”, explica Murilo Medici Navarro da Cruz, Coordenador Pedagógico do Poliedro

Em comunicado oficial, a Braskem afirma o afundamento no bairro do Mutange, o mais recente e que ganhou visibilidade nas últimas semanas, está sendo monitorado e que toda a área já foi evacuada. Segundo a empresa, a situação pode se desdobrar de duas maneiras: “um cenário é de acomodação gradual e estabilização; o segundo é uma possível acomodação abrupta”.

Quais são as principais consequências?

casa pichada em Maceió
(UFAL/Reprodução)
Continua após a publicidade

O principal dano causado pelas minas da Braskem em Maceió é humano. Mais de 60 mil pessoas já foram deslocadas às pressas, abandonando seus lares e bairros inteiros. Os custos para relocação, indenizações, aterramento e reconstrução de imóveis é imensurável. Em entrevista à BBC Brasil, uma moradora que ainda morava no bairro do Mutange contou que foi despejada às pressas na madrugada da última quinta-feira (30). Ela ainda não havia deixado a região porque considerou a oferta de indenização da Braskem muito abaixo da avaliação. 

“Esse movimento de remoção forçada das pessoas é muito grave porque já se trata de um bairro onde vivem pessoas socioeconomicamente vulneráveis”, afirma Luis Felipe Valle, professor de Geografia do Colégio Oficina do Estudante. “Ou seja, a maioria dessas pessoas não têm recursos financeiros para comprar ou alugar casa em outro lugar, para se sustentar e se manter, por exemplo, em um hotel. São pessoas que têm limitações financeiras e não é apenas sair de casa – é uma questão que envolve a escola das crianças, o local do emprego, e deixar para trás um lar, uma história, uma vida”, 

O caso da Braskem em Maceió é mais um exemplo de crime ambiental no Brasil, assim como o rompimento de barragens nas cidades de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais. Luis Felipe reforça que não se tratam de acidentes, pois as grandes companhias envolvidas nesses casos em geral sabem dos riscos envolvidos e do potencial de tragédias como essas acontecerem. 

+ Por que o Brasil tem tantas barragens perigosas?

“A crise em Maceió não é a primeira, e infelizmente não deve ser a última desse tipo, e ela destaca a importância da gestão responsável dos recursos naturais e da prevenção de desastres ambientais. É urgente que todas as empresas compreendam, além das óbvias questões éticas, que esse tipo de despesa não é gasto, mas um investimento”, completa Augusto Neto, autor de geografia do Sistema de Ensino pH.

Continua após a publicidade

Como o tema pode ser abordado nos vestibulares?

Professores ouvidos pelo GUIA acreditam que esse assunto pode aparecer em vestibulares sob o guarda-chuva de diversos temas, como impactos ambientais, impactos sociais, atividade mineradora, gestão de recursos naturais e geologia

Também pode haver comparações com outros fenômenos, como os casos de Brumadinho. “Minha maior aposta é a comparação entre esse tipo de movimentação e os tremores tectônicos, mostrando que nem todo terremoto vem do interior da Terra, mas também pode vir de ações humanas”, diz Augusto Neto.

+ Como cai na prova: problemas ambientais

Ele também destaca que o assunto pode abranger temas em Biologia e Química, enfocando aspectos ecológicos e químicos do sal-gema. Além disso, pode ser usado como pano de fundo em questões de Matemática e Física, ou mesmo na área de linguagens com textos sobre o ocorrido ou um tema de redação. 

Em Geografia, pode aparecer uma questão sobre a formação das jazidas de minérios, que acontecem por meio da sedimentação. O sal-gema vem do sal do mar, a água marinha evapora e se formam camadas de sal-gema, que ao longo do tempo podem ser cobertas por outros terrenos. Por esse motivo é utilizado o termo formação sedimentar. 

Busca de Cursos

Continua após a publicidade

Por fim, os impactos sociais da mineração também podem ser abordados, questionando os candidatos sobre a situação de Maceió e o desalojamento das famílias.

Entre no canal do GUIA no WhatsApp e receba conteúdos de estudo, redação e atualidades no seu celular!

Compartilhe essa matéria via:

Prepare-se para o Enem sem sair de casa. Assine o Curso GUIA DO ESTUDANTE ENEM e tenha acesso a todas as provas do Enem para fazer online e mais de 180 videoaulas com professores do Poliedro, recordista de aprovação nas universidades mais concorridas do país.

Publicidade

Maceió vai afundar? Entenda o desastre envolvendo a Braskem
Atualidades
Maceió vai afundar? Entenda o desastre envolvendo a Braskem
Moradores de diversos bairros da cidade ficaram desalojados e denunciam os impactos da extração de sal-gema na região

Essa é uma matéria exclusiva para assinantes. Se você já é assinante faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

MELHOR
OFERTA

Plano Anual
Plano Anual

Acesso ilimitado a todo conteúdo exclusivo do site

a partir de R$ 15,90/mês

Plano Mensal
Plano Mensal

R$ 19,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.