Um novo relatório divulgado nesta terça-feira (28) mostrou que o desmatamento do Cerrado ultrapassou o da Amazônia. As informações são do Relatório Anual de Desmatamento (RAD), do MapBiomas, referente ao ano de 2023. É a primeira vez, desde o início da série histórica da organização, em 2019, que o bioma ultrapassa a Amazônia em área desmatada, representando 61% de todo o desmatamento em solo nacional.
De acordo com o relatório – produzido por especialistas, entidades e universidades nacionais e internacionais –, 1.110.326 hectares foram desmatados no Cerrado durante 2023, um número 68% maior em relação ao ano anterior. Para se ter uma ideia, o território equivale a sete vezes a cidade de São Paulo.
Em contrapartida, o desmate na Amazônia representou 25% do desmatamento de todo o país. É a primeira vez que o bioma não ocupa o topo do ranking. Foram 454,3 mil hectares desmatados, 62,2% menos do que em 2022. Se considerarmos ainda todo o país, a notícia é positiva: a média total de desmatamento no Brasil reduziu 11,6% em 2023. Foram 1.829.597 hectares desmatados contra 2.069.695 em 2022.
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Matopiba
A tendência sublinhada pelo relatório é que há uma nova concentração de desmatamento na região conhecida como Matopiba – isto é, os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. A região, que corresponde por cerca de 10% da produção de grãos e fibras (como soja, milho e algodão) de todo o país, está sendo apontada como o grande novo vetor do desmatamento brasileiro.
O crescimento seria influenciado justamente pelo aumento de empreendimentos agro na região, que conseguem licenças ambientais para atuar. É no Matopiba que se encontra o maior território em alerta de desmatamento do país: são 6.691 hectares no município de Alto Parnaíba, no Maranhão.
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É o Maranhão também o estado que mais desmatou durante o ano passado. É a sua primeira vez no topo da lista, com 331,2 mil hectares desmatados em 2023. O crescimento é bastante expressivo: representa um aumento de 95% em relação ao ano anterior. Em seguida, estão os estados da Bahia, com 290,6 mil de desmate, e Tocantins, com 230,2 mil.
Com legislação permissiva, agro é o protagonista no desmate
Segundo o relatório, a expansão agropecuária é o principal motivador do desmatamento no Brasil. Acredita-se que ela esteja por trás de 97% de todos os desmatamentos ocorridos no país. Com a crescente da prática na região do Matopiba, é a primeira vez que o relatório observa a predominância dela em territórios de savana, representando 54,8% do total. Atrás, estão as florestas – antes protagonistas –, com 38,5%.
Com um aumento de 136%, o Cerrado foi o bioma com o maior desmate em reservas locais. No Mato Grosso do Sul, por exemplo, somente 0,01% do desmatamento foi autorizado.
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“Combater o desmatamento no Cerrado se torna um desafio a mais em um contexto onde a legislação é permissiva no bioma. Por isso, precisamos ter mais transparência e controle sobre a questão da legalidade para que se possa aprimorar e desenhar politicas públicas e privadas, que acabem com o desmatamento ilegal e desincentive o desmatamento legal, visando uso mais eficiente das áreas já desmatadas”, afirmou Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) ao UOL.
Principais características do Cerrado
O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, ocupando uma área de 2 milhões de quilômetros quadrados, o que equivale a 24% do território nacional. A vegetação característica do bioma é a savana. Mas antes de imaginar a savana africana, lembre-se que estamos falando do Brasil! Por aqui, este tipo de vegetação é caracterizado pela presença de pequenos arbustos e árvores retorcidas, de casca grossa, gramíneas e o cerradão, tipo mais denso de cerrado que abriga formações típicas de florestas esparsas e disseminadas entre arbustos.
São mais de 11 mil espécies vegetais, sendo 44% delas endêmicas – isto é, que não ocorrem em nenhum outro lugar do planeta. A fauna também é riquíssima, com centenas de espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios. Alguns animais típicos da região são: lobo guará, onça pintada, tatu canastra, carcará, macaco-prego, maritacas, lontra, e o tamanduá bandeira.
Infelizmente, toda essa riqueza é ameaçada. O bioma é classificado como um hotspot, isto é, uma região de grande diversidade ameaçada de extinção. Ao lado da Mata Atlântica, é o bioma brasileiro que mais sofreu alterações com a ocupação humana – sobretudo, a agropecuária.
A agropecuária fez aumentar a deterioração de uma terra já ferida com o garimpo, com a contaminação dos rios por mercúrio, a erosão do solo e o assoreamento dos cursos de água. Técnicas que causaram a perda de mais da metade de sua vegetação nativa. Para alguns especialistas, o bioma já se encontra em um ciclo irreversível de extinção e que sua cobertura original não pode mais ser recuperada.
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