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Quem foi a “patricinha” original? A surpreendente origem da palavra

Antes das "clean girl", a palavra já descrevia um ideário inspirado na Roma Antiga e teve numa socialite carioca a sua grande expositora

Por Luccas Diaz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
13 dez 2025, 19h00 • Atualizado em 15 dez 2025, 12h14
Montagem com duas imagens: à esquerda, uma jovem sentada em uma espreguiçadeira rosa, usando roupas e acessórios cor-de-rosa em estilo “patricinha”, incluindo blusa branca decotada, saída rosa, óculos de sol e colar de estrela; à direita, a capa de uma edição antiga da revista Veja Rio, com fundo vermelho, mostrando uma mulher sentada de pernas cruzadas em um banco metálico, usando vestido vermelho e salto alto, ao lado do título “O que é isso, socialite? A nova geração e o dinheiro novo na festa carioca”.
A personagem Sharpay Evans ao lado da capa histórica da capa histórica da Veja Rio sobre Patrícia Leal (Disney/Abril/Reprodução)
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  • Quem nunca ouviu alguém ser chamado de patricinha — seja na escola, na rua ou em alguma novela? O termo virou sinônimo de um certo tipo de jovem: vaidosa, consumista, pertencente (ou aspirante) a uma elite urbana, sempre pronta para aparecer impecável. Antes das tendências clean girl e old money do TikTok, era esse o termo que descrevia Regina George, Sharpay Evans, Blair Waldorf e tantas outras personagens da cultura pop. Mas qual é a origem da palavra “patricinha”? Existiu, de fato, uma Patrícia “original”?

    A resposta envolve mais do que um simples apelido. Para entender a origem da palavra “patricinha”, é preciso percorrer um caminho que atravessa o latim clássico, passa pelo Império Romano, desembarca no Rio de Janeiro dos anos 1980 e, só então, chega ao rótulo social que conhecemos.

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    Neste texto, o GUIA DO ESTUDANTE revisita dicionários, estudos linguísticos e registros da imprensa para explicar como um nome próprio acabou se tornando um marco cultural no Brasil.

    Mas por que Patrícia?

    Ilustração colorida de quatro homens da Roma Antiga, alinhados lado a lado, vestidos com trajes militares e cerimoniais ricamente ornamentados; à esquerda, um soldado com elmo com penacho vermelho, couraça dourada e saia de couro; ao lado dele, uma figura central em túnica branca e manto vermelho cheio de padrões dourados, segurando um cetro e usando coroa de folhas; à direita, um homem com toga vermelha simples decorada por um painel quadrado, e outro soldado com elmo de penacho azul, couraça dourada e capa vermelha.
    Hierarquia e luxo na Roma Antiga: os patrícios representavam a elite romana (Wikimedia Commons/Reprodução)

    Nos dicionários, “patricinha” é descrita como uma gíria brasileira que descreve meninas de classe alta e/ou que adotam comportamentos associados ao consumismo, vaidade e à elegância ostensiva.

    Linguisticamente, o termo não apresenta nenhum mistério: é o derivado do substantivo próprio “Patrícia” ligado ao sufixo “-inha”, muito usado na Língua Portuguesa para dar um aspecto afetivo, informal, ou pejorativo e inferior. Não à toa, é uma formação muito comum em apelidos — irônicos ou não.

    O ponto de partida para o uso da palavra como conhecemos está na origem do substantivo “patrício”. Do latim patricius, o vocábulo designava os membros da elite romana, descendentes dos “patres”, os “pais” fundadores da cidade e primeiros senadores. Esses patrícios ocupavam posições de prestígio político, militar e religioso, formando um grupo restrito e privilegiado na estrutura social da Roma Antiga.

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    Ao longo dos séculos, esse radical gerou, em línguas românicas, nomes e substantivos ligados à ideia de pertencimento, distinção e status. Em português, passou a descrever uma pessoa que é natural da mesma pátria ou localidade que outra.

    No entanto, o que acabou ficando popular mesmo foi o uso para se referir a algo nobre, superior, distinto e elegante, fazendo referência à tal elite romana.

    “Patrícia”, então, surge como o antropônimo feminino derivado dessa mesma base. Da mesma forma que Benedito significa abençoado e Valentim, valente, Patrícia carregaria em si esse status de nobreza e privilégio.

    Nome que vira apelido

    Mesmo conhecendo o significado por trás de Patrícia, porém, pode ser confuso compreender porque um nome viraria uma espécie de rótulo social. Afinal, ninguém chega categorizando alguém de “Henriquezinho” ou “Priscilinha” do nada. Mas uma analogia moderna que talvez nos ajude a entender esse processo linguístico e social é pensar nos nomes Enzo e Valentina.

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    A retomada crescente que esses dois nomes tiveram na última década causaram uma espécie de imaginário em torno deles. Quando falamos em Enzo e Valentina, estamos falando de indivíduos, em sua maioria, menores de idade, que nasceram já com acesso à internet, viveram a pandemia ainda muito jovens e são personificações de algumas das características (elogiosas ou não) da Geração Alpha.

    Os dois nomes deixaram de ser apenas nomes e se tornaram signos de algo maior e, consequentemente, passíveis de serem usados como rótulos ou apelidos — um Fernando pode ser um Enzo, por exemplo.

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    Boom nos anos 1980 com Patrícia Leal

    Capa da revista Veja Rio de setembro de 1991, com fundo predominantemente branco e, ao centro, um grande retângulo em tons de vermelho mostrando uma mulher sentada em um banco metálico preto, usando blazer e sapatos de salto altos na cor vermelha, com as pernas cruzadas e o rosto parcialmente voltado para o lado; acima da imagem, o logotipo “Veja Rio” em letras grandes; ao lado da mulher, um texto em branco identifica seu nome e idade; na parte inferior da capa, em letras maiúsculas, aparece o título “O QUE É ISSO, SOCIALITE?” seguido de um subtítulo em menor tamanho.
    Capa histórica da Veja Rio de 1991 apresenta Patrícia Leal, uma socialite carioca em destaque para discutir a nova geração de ricos (Abril/Reprodução)

    Embora seja difícil cravar quando exatamente “patricinha” passou a ser usado como um rótulo social, os primeiros registros da palavra nos dicionários brasileiros datam da segunda metade do século 20. As definições registradas no Caldas Aulete, Aurélio e Houaiss apontam para um uso já consolidado quando os verbetes foram incluídos, o que sugere que a palavra já circulava na oralidade alguns anos antes de chegar aos dicionários.

    O que a maioria dos linguistas e pesquisadores concordam é que “patricinha” ganhou força principalmente a partir dos anos 1980, nos grandes centros urbanos do Rio e São Paulo — vale lembrar que, sem internet e redes sociais, as coisas não “viralizavam” tão facilmente.

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    Havia na época um contexto de expansão da cultura do consumo, da popularização dos shoppings e do crescente interesse pela vida das elites, que eram registradas nas colunas sociais dos jornais. Uma jovem socialite, inclusive, é apontada por alguns especialistas como a grande percursora do estilo de vida patricinha.

    O colunista social Zózimo Barroso do Amaral, dos jornais O Globo e Jornal do Brasil, usava o termo para se referir a Patrícia Leal, trineta do conde Modesto Leal (dono de uma das maiores fortunas da República Velha), e uma verdadeira influencer do seu tempo, com presença frequente nos eventos da alta sociedade carioca.

    Nascida em berço de ouro, ela representava a transição da velha aristocracia para uma nova geração menos preocupada com pedigree e mais voltada ao mundo do trabalho e o lazer. Para se ter uma ideia, o fascínio por Patrícia era tanto que a primeira edição da revista VEJA Rio, de 1991, contou com ela na capa: “Patrícia Leal, 29 anos, a versão anos 90 das Carmens, Lourdes e Teresas”, em referência a mulheres da alta sociedade.

    Uso consolidado

    Montagem em tons de rosa com duas fotos lado a lado; à esquerda, uma jovem loira com roupa rosa segura um telefone fixo antigo cor-de-rosa em um ambiente retrô, com brilhos digitais espalhados e a palavra “cinema” escrita no canto superior; no canto inferior esquerdo, lê-se “festas”; à direita, aparece o tronco de uma jovem usando cardigan creme decotado, saia rosa plissada e bolsa branca, com a palavra “shopping” acima; ao centro, em letras grandes brancas com contorno rosa, está escrito “como se tornar uma PATRICINHA”.
    Thumbnail de vídeo do YouTube que promete ensinar como se tornar uma patricinha (YouTube/Reprodução)

    Com o passar do tempo, “patricinha” extrapolou a referência a um grupo social estrito e ganhou espaço na cultura pop, em novelas, filmes, músicas e, mais recentemente, em redes sociais. Ainda que seja um termo brasileiro, o arquétipo descrito por ele é universalmente reconhecido. Quase sempre, é a caricatura dessa mulher que tem comportamentos ligados à valorização da aparência, consumo e um estilo de vida extrovertido.

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    Ao mesmo tempo, não dá para ignorar o caráter discriminatório que pode acompanhar esse tipo de palavra. Rotular alguém como “patricinha” implica atribuir um lugar social e um conjunto de traços de personalidade de modo reducionista.

    Nos dias de hoje, a palavra não tem mais o mesmo brilho que já teve. Depois do boom nos anos 1980, a palavra (e todo o lifestyle que ela carrega) parecer ter atingido um pico nas décadas de 2000 e início de 2010, com grande presença nos filmes e séries da cultura pop, mas perdeu força na de 2020. Atualmente, se traduz em outros termos, muitos difundidos pelo TikTok, como as tendências clean girl e old money.

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