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“Joguei futebol de cegos e senti na pele as dificuldades de ser um cadeirante em São Paulo” – PARTE 1

Na série GUIA no Trote, repórter vivencia, junto com calouros, a experiência do trote inclusivo da Unifesp

Por por MARIANA NADAI
Atualizado em 16 Maio 2017, 13h50 - Publicado em 4 mar 2011, 18h52

Atualizado em 9 de março, às 17h20

“Joguei futebol de cegos e senti na pele as dificuldades de ser um cadeirante em São Paulo” – PARTE 1

No gol, repórter do GUIA joga “futebol de cegos” no trote da Unifesp
Créditos: José Luiz Guerra – Comunicação / Unifesp

 

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Durante os primeiros dias de março, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) realizou a Semana de Calouros. Até aí, nada anormal. Há uma tradição dentro das universidades brasileiras de fazer, na primeira semana de aula, uma recepção aos novos alunos, com aulas magnas, festas e palestras sobre o curso ou a faculdade. A diferença dentro da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, do campus de São Paulo, é o chamado trote inclusivo.

Realizado há dois anos, essa recepção faz parte do Trote Solidário Abaetê e tem como diferencial proporcionar aos novos estudantes da área de saúde um maior contato e vivência com portadores de necessidades especiais. No ano passado, os calouros jogaram uma partida de basquete com a seleção brasileira de basquete em cadeira de rodas.

Neste ano, o desafio dos novos alunos seria jogar futebol com os olhos vendados, para sentir como um deficiente visual pratica o esporte. Além disso, os estudantes teriam um passeio diferente: uma volta no quarteirão sentados em cadeiras de rodas. Para saber como seria esse trote diferente, decidi conferir de perto as atividades dos calouros da Unifesp.

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– Repórter do GUIA DO ESTUDANTE se infiltra entre os “bixos” da Unicamp e conta como foi Recepção da bateria Assim que cheguei na faculdade, fui recebida pela presidente da Atlética, a estudante Priscila Rodrigues Armijo, do 3º ano da Medicina, que me levou até o ginásio da faculdade, onde aconteceriam as atividades. Já fui logo explicando a proposta da minha matéria. A intenção era participar de tudo o que os calouros fizessem. Eu não estaria disfarçada, mas não queria nenhuma regalia.

Priscila aceitou a proposta e foi me explicando sobre a recepção aos calouros. Na realidade, esse era o 4º dia de atividades do trote Abaetê. “Abaetê é uma palavra indígena que significa ‘homem bom’. E, pensando nisso, a nossa idéia é envolver os estudantes em atividades solidárias e voluntárias. Desde segunda-feira – primeiro dia do trote – estamos arrecadando livros que serão entregues a uma instituição carente e montamos kits de higiene para a cruz verde – uma instituição que auxilia portadores de paralisia cerebral”, me disse a estudante.

Ela ainda explicou que nesse dia a recepção seria com todos os calouros da faculdade, de Medicina, Fonoaudiologia, Biomedicia, Enfermagem e Técnica em Saúde – até então estavam acontecendo atividades em cada um dos cursos, separadamente. A ideia era misturar todos os estudantes, que seriam divididos em tribos.

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Tribos? Sim, Priscila disse que durante o trote eles não utilizam o termo grupo, e sim tribos. Como me explicou outra veterana da Atlética, a faculdade tem uma ligação muito forte com os índios, por isso o nome do trote e o uso do termo tribo. De acordo com a garota, essa ligação vem desde o Projeto Xingu, primeiro projeto de extensão da faculdade, criado em 1965.

– “Doei sangue no trote. E gostei”

Logo, pude perceber que a relação com os índios ia além do nome do trote, estava também na cabeça dos estudantes. Os calouros eram facilmente reconhecidos pelo corte de cabelo moicano. Priscila, minha fonte segura dentro trote, confirmou que o estilo já era uma marca da faculdade. “Todos os primeiro anistas usam esse penteado, virou uma tradição fazer o moicano, imitando os índios mesmo”, explicou a garota.

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A diferença entre eles era a cor do cabelo. Cada faculdade tinha a sua. O vermelho predominava entre a cabeça dos meninos, eram os calouros da Medicina. Já o azul, era a marca registrada dos alunos da Biomedicina. Algumas meninas, para não ficarem para trás, estavam com as pontas dos cabelos pintadas.

Depois de toda a explicação do trote inclusivo, fui me sentar junto aos calouros. Assim como eles, estava curiosa para saber como seria o dia.

Ao som da bateria da Atlética, todos nós fomos recebidos com boas vindas, para começar mais um dia de atividades. Veteranos e calouros se empenharam no batuque, mostrando o primeiro passo da interação do trote.

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