UFRJ investiga mais de 200 alunos por fraudes em cotas raciais
Outras universidades como a UFMG, a UFRGS e a Unesp já investigaram e até expulsaram estudantes por fraude
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) se juntou às universidades públicas que investigam fraude nas cotas raciais dos processos seletivos. O que surpreende, nesse caso, é o número expressivo de possíveis fraudes: ao todo, são 230 alunos investigados por se autodeclararem pretos, pardos ou indígenas, apesar de não corresponderem ao fenótipo dessas etnias. Quem conduz as investigações é uma comissão interna da universidade criada este ano.
O dado foi revelado em uma reportagem da revista Época, que relatou que o aumento no número de investigações aconteceu depois de denúncias anônimas que expuseram nome e foto dos supostos autores da fraude em cartazes pelos corredores de um dos prédios da faculdade de Direito. Além de denunciados à universidade, alguns desses cotistas também foram denunciados ao Ministério Público Federal. O MPF está à frente de 23 ações em todo o Brasil para cancelar matrículas e nomeações em diversas instituições por fraude de cotas.
Outras universidades
Assim como a UFRJ, a Unesp também instaurou uma comissão para averiguar casos de fraudes no seu processo de ingresso, que ainda acontece majoritariamente pelo vestibular da Vunesp. Dos 1.330 alunos cotistas averiguados até o meio deste ano, 475 não passaram pela primeira etapa de análise e foram notificados de que deveriam passar por outra fase de averiguação.
Depois disso, 56 deles decidiram abandonar seus cursos. Os membros da comissão acreditam que esses estudantes tenham saído antes de passar pela etapa seguinte por medo de serem expulsos e perderem a chance de concorrer no vestibular da Unesp nos próximos cinco anos — pena imposta pela universidade. No ano passado, 27 estudantes foram desligados da Unesp por fraude nas cotas.
Já na UFRGS, o percentual de fraude foi ainda maior. Dos 1.336 alunos que fizeram uso das cotas no ano passado, 574 foram desligados. A comissão de investigação da universidade também foi instaurada a partir de diversas denúncias de entidades estudantis, especialmente coletivos negros, em 2017.
As comissões de investigação de fraude nas cotas raciais são amparadas por uma decisão do Supremo Tribunal Federal, e a recomendação é que a investigação leve em consideração o fenótipo e não somente a ascendência do candidato, já que o racismo no Brasil, segundo o STF, perpassa por uma pessoa ser reconhecida como negra.