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Fuvest defende ciência e democracia sem panfletagem: a análise da 1ª fase

Fuvest dá nome aos bois: vacina salva vidas, cloroquina pode matar e em 1964 o Brasil estava sob ditadura militar. Professores avaliam a prova

Por Juliana Morales
Atualizado em 13 dez 2021, 18h05 - Publicado em 12 dez 2021, 20h15
Montagem com duas fotografias. A primeira é colorida, e mostra um braço sendo vacinado. A segunda é em preto e branco e mostra um grupo de militares em frente a uma parede, onde está escrito "Ditadura"
 (Wikimedia Commons/Luccas Diaz/Reprodução)
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Neste domingo (12), inscritos na Fuvest enfrentaram a primeira fase do vestibular, composta por 90 questões de múltipla escolha. De acordo com Fernando Santo, gerente de Inteligência Educacional e Avaliações do Poliedro, a prova se manteve conectada com a realidade dos estudantes, sem perder a essência de um vestibular tradicional.

“Atualizada e contextualizada, a Fuvest dá o recado: vacina salva vidas, cloroquina pode matar e em 1964 ocorreu de ditadura militar no Brasil”, diz. Ao mesmo tempo, manteve a característica tradicional com a cobrança de temas clássicos da educação básica.

Santo destaca que a temática da covid-19 apareceu em três questões. Uma da disciplina de geografia fazia a relação entre o problema das doenças tropicais e os países de baixa renda. Em outro item, que era interdisciplinar de biologia e geografia, associava a imunização completa com a queda na mortalidade na cidade de São Paulo, aliado ao desafio de vacinar todos nas regiões com baixo IDH. Em matemática, apareceu um gráfico sobre a circulação de pessoas em função das restrições no primeiro semestre de 2020.

Daniel Perry, diretor do Curso Anglo, descreve a prova como consistente, atual e também destaca o diálogo com diversos aspectos da contemporaneidade. “Sem ser panfletária, deixou claro o seu posicionamento de defesa dos valores democráticos e da ciência”, diz. Além da pandemia, a prova abordou questões ambientais, como queimadas, manchas de petróleo e inundações.

Perry chama atenção também para o diálogo da prova com a cultura pop, por meio de uma questão que tratava do filme “Pantera Negra”, desenvolvendo uma leitura biológica sobre os os superpoderes do herói. “No que se refere a fonte, o exame foi bastante diversificado. Apresentou mapas, charges, gráficos, fotos, ilustrações esquemáticas, textos literários, poemas, textos científicos”, analisa.

Vinícius Haidar, do SAS Plataforma de Educação, observa que a avaliação foi muito parecida com as dos últimos anos. O nível de dificuldade, segundo ele, foi intermediário, com questões muito mais fáceis e outras mais complexas. “Uma prova que vai selecionar, com certeza, aqueles candidatos que sabem o conteúdo porque não foi uma prova somente interpretativa. Teve questões, inclusive, bem diretas”, afirma.

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Confira os comentários dos professores por disciplina

Química

Na prova de Química, não houve nenhuma questão relacionada à vacinação, mas a maioria delas trazia algum contexto externo para o candidato. Os professores do curso Anglo consideraram a prova de nível médio para fácil, seguindo uma linha parecida com a do ano passado. “Questões diretas, ou com textos curtos, cobrando temas como tabela periódica, lei de rés, modelo de reações, atomística, cinética e radioatividade”, afirmam.

Para Pietro Escobar, professor de Química do Curso Pré-Vestibular da Oficina do Estudante de Campinas, alguns temas ficaram de fora da prova, como eletroquímica e estequiometria, mas outros assuntos esperados foram bem abordados.

Uma questão um pouco mais fora da curva envolveu física quântica, mas, para Vinícius Haidar, professor do SAS Plataforma de Educação, foi uma questão simples, com um cálculo tranquilo de fazer.

Biologia

A prova de Biologia da Fuvest 2022 trouxe muitas questões alinhadas com temas da atualidade. Os professores do Poliedro e do SAS comentam a forte presença da temática do coronavírus em parte das questões, bem como a relação da prova com o cotidiano do estudante.

A equipe do Anglo considerou a prova mais difícil do que as últimas edições, uma vez que exigia mais análise de gráficos e textos. Em um contraponto, os professores do SAS avaliaram a prova como “relativamente fácil”, com mais questões simples e apenas poucas exceções mais desafiadoras. Houve consenso entre as equipes sobre a importância da interpretação correta de gráficos para o bom desempenho na prova.

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A interdisciplinaridade também foi bem presente, segundo os professores, com questões que abordavam temas da Geografia, Matemática e até Filosofia. Os conhecimentos cobrados cercam os temas de genética, biologia celular, ecologia, transporte celular, ciclo celular, fisiologia vegetal, teoria sintética da evolução, circulação e eutrofização.

Física

Para os professores do Poliedro, a prova de Física foi bastante tradicional, tratando de conceitos clássicos abordados no Ensino Médio. “Foi uma prova simples, com questões tradicionais e pouco contextuais, mais fácil que a edição anterior“, acrescentam os professores do Anglo.

Em termos de incidências dos assuntos, nada fora do previsto: questões de mecânica, leis de Newton, cinemática, termologia, calorimetria, eletrodinâmica, e aplicação das trocas de calor. “Uma questão que surpreendeu foi a que cobrou eletromagnetismo, que tem uma incidência muito baixa nas provas”, afirma Idelfranio Moreira, professor de Física do SAS Plataforma de Educação.

Uma questão, entretanto, está sendo apontada como passível de anulação, trata-se da questão 54 da prova V (equivalente à 90 da prova K; 7 da prova Q; 38 da prova X; e 88 da prova Z). Para Wander Azanha, professor de Física do Curso Pré-Vestibular da Oficina do Estudante de Campinas, “uma gafe da Fuvest, que esqueceu de inserir a velocidade na alternativa correta.” Até o momento, a Fundação Universitária para o Vestibular não se posicionou sobre a questão.

Matemática

De acordo com Fernando Santo, a prova de Matemática foi clássica: se o aluno dominasse o tema, ele lia os enunciados e já sabia o que deveria ser feito. “Caiu um exercício de combinatória bem conhecido pelos estudantes, por exemplo. A questão comparava as placas de carro do modelo antigo com as placas brasileiras do modelo novo, e perguntava quantas vezes mais placas poderiam ser produzidas com esse modelo novo”, conta.

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Rodrigo Serra, professor de Matemática do Curso Pré-Vestibular da Oficina do Estudante de Campinas, avalia a prova como de nível médio de dificuldade, sem questões polêmicas. “Observa-se a presença de quatro questões que se aproximam do cotidiano do candidato, porém, sem abordar o tema pandemia; além da ausência de uma questão de sistemas lineares”, afirma.

Segundo Vinícius Haidar, professor do SAS Plataforma de Educação, houve maior presença de questões fáceis do que difíceis. “Tiveram questões muito simples e diretas, algumas com contextualização, e várias onde a conta era basicamente de divisão”, diz. Entre os temas já esperados, destacam-se algarismos, grandezas proporcionais, porcentagem, questões envolvendo valores financeiros, e geometria plana e espacial.

Geografia

De acordo com os professores, a prova de geografia apresentou um nível de dificuldade médio. A avaliação mesclou questões clássicas e atualidades. Apareceram temas como a covid-19, queimadas no Cerrado, o desmatamento na Amazônia, a diferenciação entre os gêneros na hora do trabalho e das atividades dentro do lar. 

Dario Francisco Feltrin, professor de Geografia do Curso Pré-Vestibular da Oficina do Estudante de Campinas (SP), afirma que não apareceram itens polêmicos, porém a questão 62 (da prova Tipo V), apresentou um grau complexidade técnica, como termos pouco falados referentes à maré de sizígia e quadratura. 

História

Segundo Perry, a prova de história foi conteudista, ou seja, exigia memorização de conteúdos. Assim, o grau de dificuldade variou de acordo com o conhecimento do candidato em relação àquele conteúdo específico. 

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Fernando Santo destaca a questão que explicava como a noção de ditadura variou ao longo do tempo, com uma alternativa abordando a ditadura militar brasileira de 1964. “Uma outra questão interessante tratava do Cais de Valongo, no Rio de Janeiro, como um patrimônio histórico da humanidade”, complementa. O enunciado citava o local onde chegavam os escravos trazidos da África para o Brasil como um retrato de um trecho da história da humanidade.

Temáticas tradicionais como o Homem Vitruviano, a Guerra do Peloponeso e a Segunda Guerra Mundial também marcaram presença na prova.

Português

Na prova de Português, não houve muitas surpresas. Muitas questões de gramática, sobre uso de pronomes, identificação de função sintática, relações semânticas entre orações. De acordo com os professores do Poliedro, também foi cobrada muita interpretação de texto, bem como conhecimento da escola literária do Realismo. 

De acordo com os professores da Oficina do Estudante, as questões foram mais simples do que as do ano anterior, além de serem de melhor entendimento “A prova do ano passado parecia antiga, com enunciados que pareciam ter saído dos anos 80. Esse ano, estava mais contextualizada”, comenta Marcelo Maluf, professor de Literatura e Redação do Curso Pré-Vestibular da Oficina do Estudante de Campinas.

Inglês

A prova de Inglês conteve bastante interpretação de texto, com temáticas relevantes. Um dos textos, usado para 3 questões, abordava a relação entre os aplicativos de entrega e os restaurantes, refletindo os lados positivos e negativos. “Foi uma prova com pouca coisa de gramática e muita interpretação de texto”, avaliam os professores do Poliedro. 

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Nível de dificuldade entre médio e alto, comparado à edição anterior, classifica Alexandre Torres, professor de Inglês do Curso Pré-Vestibular da Oficina do Estudante de Campinas. “Como sempre, questões bem contextualizadas e com perguntas claras, trazendo temas importantes de serem discutidos na sociedade, com viés cultural e científico, apresentando um bom desafio para o vestibulando”, completa.

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