Você se preparou por meses, fez dezenas de redações e chegou a hora de fazer a prova. Mas aí, no meio do texto, fica com receio e sente que está fugindo completamente do que foi solicitado na proposta. Qual a melhor forma de se certificar de que não está cometendo esse erro?
Segundo Maria Catarina Bozio, coordenadora pedagógica do Colégio Poliedro de São José dos Campos, é preciso fazer mais de uma leitura atenta do enunciado. “Grife os principais pontos de atenção e analise com calma o excerto para garantir que está no caminho certo. Os textos de apoio costumam dar uma boa linha do que é esperado no desenvolvimento do tema”.
A partir dessas leituras atentas, crie um projeto de texto adequado ao gênero solicitado, determinando o que será abordado em cada tópico, assim, será mais fácil seguir uma linha de raciocínio, sem grandes desvios. “Utilizar um grupo de palavras-chave que esteja relacionado ao contexto também ajuda”, diz a coordenadora.
Milton Costa, professor da da Oficina do Estudante, explica que uma fuga total do tema, que zeraria a redação, é muito difícil e o que costuma ocorrer é a fuga parcial, ou seja, o autor se mantém no assunto, mas foca em outro recorte temático. Mas lembre-se: que mesmo nesse segundo caso também perdem-se pontos.
Uma dica do professor para não fugir da proposta é definir um título logo no início. “Há quem tenha aprendido que o título é a última coisa a se fazer, e é de fato uma recomendação correta e pertinente. Mas o título pode funcionar como a agulha da bússola: aponta um norte para o texto, diminuindo sensivelmente o risco de se fugir ao tema, bem como de tangenciá-lo”, explica Costa.
Criatividade X fuga do tema
Por meio da redação, os exames e vestibulares não analisam só a escrita, mas também a capacidade de leitura e de compreensão do estudante. Bozio explica que a proposta temática não deve ser um limitador de criatividade, mas uma base para que o aluno demonstre seus conhecimentos e habilidades textuais, assim como para que faça conexões pertinentes com outras áreas do conhecimento.
Mas qual será o limite entre fazer um texto criativo e fugir do tema?
Ela ressalta que, segundo o Manual de redação do Enem, a fuga total do tema ocorre “quando nem o assunto mais amplo nem o tema proposto são desenvolvidos”. Portanto, se houver o desenvolvimento explícito do recorte temático proposto, com boa argumentação, ainda há a liberdade de criação de um texto diferente, explorando repertórios socioculturais ou figuras de linguagem, por exemplo.
“O importante é seguir o que é solicitado na prova, abordar o tema e ser claro com relação ao que se quer dizer, sem perder o foco na tentativa de ser inovador”, diz a coordenadora.
Mas Costa lembra que é preciso muito cuidado para não esbarrar em expressões sem graça, ambiguidades não desejadas, lugares comuns ou mesmo frases carregadas de preconceito ou intolerância.
“Fazer dissertações é como fazer arroz, o mais básico dos alimentos. Para fazer o básico, porém, é preciso treino, assim como para se chegar a um arroz tragável é preciso passar pelo arroz queimado, o grudento, o salgado, o sem sal, para só aí se fazer tão somente arroz. A partir desse ponto, pode-se ainda aprimorar o tempero, a quantidade de água, a intensidade do fogo, o tempo para cada um dos ingredientes, e se tentar chegar a um ‘arroz de vó’, mesmo sendo apenas… arroz. Essa diferença aparentemente inexplicável entre um arroz e outro é o que se pode chamar de criatividade”, explica Costa.
A coletânea é um guia
O conteúdo que acompanha a proposta é sempre muito importante para compreender e aprofundar o tema solicitado. Quanto mais abstrato for o texto de apoio, mais relevante se torna a leitura cuidadosa, já que a falha na interpretação pode levar ao erro na identificação do assunto proposto, prejudicando a redação.
O material selecionado pela banca orienta qual o melhor caminho para a elaboração do texto, assim como seus possíveis enfoques. E, segundo Bozio, ainda que os excertos possam reunir materiais muito diferentes, por exemplo, recortes críticos, poemas e até pinturas, essa diversidade ajuda a identificar a necessidade de um texto comparativo, que aproxime e coloque em diálogo domínios distintos das áreas do conhecimento do estudante.
“A coletânea não está ali de enfeite: o candidato deve usá-la a seu favor. Ele jamais deve desconsiderar qualquer texto ali presente, independentemente da extensão, da quantidade ou da qualidade desses excertos. Usar bem a coletânea é prova de boa leitura. E boa leitura significa saber interpretar”, diz Costa.
Os maiores erros cometidos pelos candidatos em relação à proposta
- Esquecer ou deixar de utilizar palavras-chave ou tópicos obrigatórios;
- Não criar uma sequência lógica entre o texto e os aspectos esperados pela banca;
- Fugir do formato textual proposto;
- Desconsiderar o que dizem os textos da coletânea ou se restringir a apenas um elemento dos excertos, não trabalhando o diálogo ou a relação entre eles;
- Valorizar a forma em detrimento do conteúdo, ou seja, investir em perífrases, em rodeios verbais e usar certos jargões, em vez de costurar os argumentos com o que é usual e fluido.