Pode escrever redação em 1ª pessoa no vestibular, como fez Júlia Pimentel?
Entenda por que a estudante não errou ao escrever uma dissertação sobre si mesma
A influenciadora Júlia Pimentel, de 16 anos, foi aprovada recentemente em Medicina e viralizou mostrando a dissertação que escreveu sobre si mesma no vestibular. Nas redes sociais, muita gente ficou em dúvida: pode escrever em 1ª pessoa nas provas? Afinal, o que pede o formato dissertativo-argumentativo? A professora de redação da plataforma Professor Ferretto, Tanay Gonçalves, aponta que o erro pode não ter sido da estudante, e sim da banca da universidade.
Calma, a gente explica melhor.
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Erro na comunicação – da universidade!
A prova que a Júlia Pimentel fez foi da Idomed, Instituto de Educação Médica. Dê só uma olhada na proposta de redação apresentada pela banca:
Embora a instituição tenha pedido uma dissertação argumentativa, os comandos apontavam, na prática, para uma carta de apresentação. “Como a pergunta era sobre ela, a estudante super acertou isso, então faz sentido ela ter ido bem e ter sido aprovada”, comenta a professora.
Não é algo fora do comum cobrar uma carta de apresentação do candidato em vestibulares, principalmente para o curso de Medicina. De acordo com a professora, esse é um método muito comum em universidades norte-americanas e já tem sido uma prática mais recorrente entre as faculdades particulares brasileiras.
Como exemplo ela cita a FGV (Fundação Getúlio Vargas), o Insper, a Faculdade Israelita da Albert Einstein, a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e algumas PUCs (Pontifícia Universidade Católica).
“Ou seja, a Júlia Pimentel seguiu a proposta da universidade. Ela cumpre respondendo ao comando do tema, porque induzia que ela usasse primeira pessoa. Mas se a gente fosse analisar apenas pelo gênero textual cobrado, estaria errando o gênero, porque a dissertação não permite uso de primeira pessoa”, explica Tanay.
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Anna Chillemi, professora de redação do Colégio Oficina do Estudante, reforça a questão.
Para ela, os comentários nas redes sociais sobre o texto da estudante parecem levar em conta que todas as provas que pedem dissertações deveriam seguir os critérios do Enem.
“A dissertação argumentativa deve expressar opinião, e é comum que alunos iniciantes, quando estão começando seus estudos de redação, marquem equivocadamente a primeira pessoa do singular imaginando que essa é a única forma de se expressar – não foi o que ocorreu com a Júlia, que seguiu, com autonomia, o que a prova solicitou.”, aponta a professora.
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A dissertação no Enem
Diferentemente do que ocorreu no vestibular prestado por Júlia, o propósito da redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) é fazer denúncias relacionadas a um tema social, dizer por quais motivos aquele problema existe e o que tem impedido que ele seja resolvido.
Por ter um caráter mais argumentativo e propositivo, trata-se de uma dissertação argumentativa. Por isso, não pode ser usada a primeira pessoa.
“O conhecimento que a gente tem de dissertação argumentativa é muito padronizado principalmente pelo eixo do Enem, em que não se pode ter uso de primeira pessoa do singular.”, conclui Gonçalves.
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Chillemi adiciona que a popularização da prova do Enem gerou mais recentemente, no senso comum, um equívoco sobre o que é uma dissertação argumentativa, confundindo os estudantes sobre o que a define.
A prova do Enem exige uma proposta de solução com cinco elementos para um problema social concreto, além disso, obriga o candidato a citar um “repertório sociocultural” não oferecido pela prova para atingir as notas mais altas.
“Nenhum desses dois critérios são característicos da dissertação argumentativa escolar tradicional; são critérios muito específicos do Enem e não são cobrados na maior parte dos outros vestibulares.”, complementa Anna.
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Leia a redação de Júlia Pimentel
A identidade de cada indivíduo é formada por experiências, valores e sentimentos que, ao longo do tempo, moldam sua maneira de agir no mundo. Em uma sociedade na qual muitas vezes somos pressionados a seguir padrões, preservar uma característica própria é essencial para garantir a autenticidade. Nesse sentido, a marca da minha personalidade que ninguém poderá roubar de mim é a determinação.
Desde situações do dia a dia até desafios maiores, a determinação sempre esteve presente em minhas escolhas. Ela me impulsiona a continuar tentando, mesmo quando as circunstâncias parecem desfavoráveis. Por exemplo, ao enfrentar dificuldades nos estudos, é essa característica que me motiva a buscar novas estratégias de aprendizado, em vez de desistir. Assim, minha perseverança não depende apenas de fatores externos, mas de uma força interna que se renova diante de cada obstáculo.
Além disso, a determinação contribui para a construção de objetivos futuros. Pessoas determinadas tendem a transformar sonhos em metas concretas, agindo com disciplina e paciência. Isso significa que, mesmo em meio às adversidades, a essência dessa característica não pode ser roubada, pois está ligada à forma como cada indivíduo enxerga e reage à vida. Em um mundo em que nem sempre controlamos as situações, manter a capacidade de insistir é uma marca de autonomia e resistência.
Portanto, a determinação representa a parte mais sólida da minha identidade. Ela não se perde com o tempo nem se deixa apagar pela opinião dos outros. É essa marca que me guia, fortalece minhas escolhas e assegura que eu permaneça fiel a quem realmente sou.
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