Existe redação perfeita? Sim e não. Se partirmos do pressuposto de que todo texto pode ser aperfeiçoado ao infinito, não. Mas se considerarmos o universo dos vestibulares e as notas máximas estabelecidas pelas bancas, é possível dizer que o texto perfeito é aquele que cumpre todos os critérios preestabelecidos, alcançando a maior pontuação.
Nesse contexto, uma das primeiras dúvidas que podem surgir entre os estudantes é: qual o passo a passo para conquistar a nota máxima no Enem? Afinal, uma bom resultado nessa parte do Exame pode fazer toda a diferença para o ingresso no curso e universidade desejados. Segundo Fabiula Neubern, coordenadora de Redação do Curso Poliedro em São José dos Campos, é preciso ter em mente, em primeiro lugar, que cada candidato deve desenvolver a sua estratégia, aquela que o deixa mais confortável.
E para definir o melhor método, a dica é treinar estratégias diferentes em simulados. Se isso já foi feito e definido, o ideal é não mudar no dia da prova, pois tentar algo novo neste momento pode provocar ansiedade e prejudicar o desempenho. “Minha recomendação é que o candidato faça, na prova oficial, aquilo que se acostumou a fazer durante o treinamento (sim, tal qual um atleta mesmo!)”, diz a coordenadora.
Mas para quem ainda não encontrou a estratégia ideal, temos um guia que pode ajudar. Confira:
Passo a passo
Segundo Neubern, o ideal é, assim que receber a prova, ler a frase ou recorte temático já sublinhando as palavras-chave, ou seja, o primeiro passo é delimitar o tema e o seu recorte.
Para exemplificar, vamos pensar na prova de 2019: o grande tema era cinema, mas o recorte era a democratização dele, ou seja, o acesso igualitário a um bem cultural. “As palavras-chave eram: acesso + democratização + cinema + Brasil. Todas as quatro precisavam estar presentes mais de uma vez no texto”. Segundo a coordenadora, isso é importante para que não haja desvio ou tangenciamento do tema. “Esse tangenciamento aconteceria, por exemplo, quando um candidato escrevesse somente sobre cinema ou somente sobre democracia”. E isso pode ser classificado como fuga parcial ao tema, com perda de pontos.
O segundo passo é uma leitura cuidadosa dos textos motivadores, pois eles podem ajudar na composição do projeto de texto (que é o terceiro passo). Esse projeto é uma espécie de esqueleto, ou seja, um conjunto de anotações do tipo: qual será a minha tese, isto é, meu posicionamento? Qual ou quais referências externas vou usar? Qual a ideia central de cada parágrafo de desenvolvimento? Qual será a proposta de intervenção?
Depois de anotar algumas ideias, é hora de partir para as questões objetivas. “Os erros se escondem, o olhar está viciado, as inseguranças crescem, o relógio gira mais rápido, a temperatura está alta, o cérebro está fervendo”, diz Milton Costa, professor do Oficina do Estudante. Por isso, segundo ele, o rascunho precisa esfriar, maturar. É preciso se distanciar o máximo que puder desse primeiro esquema.
“O ideal é ler a proposta, fazer o esquema ou o rascunho do texto, encostar, e partir para as primeiras 30 questões. Depois, tome uma água, vá ao banheiro, dê uma primeira revisada de uns 5 min no que produziu – corta, acrescenta e altera o que achar necessário no texto. Aí volte para as próximas 30 questões, faça um novo distanciamento, retome as últimas 30 questões. Passe as respostas para o gabarito e, no último ato, passe a limpo a redação”, explica o professor.
Ele explica que o tempo dedicado às outras questões é o único refrigerador de ideias de que o vestibulando dispõe. Sem isso, não há o saudável e bem-vindo descolamento do texto que está sendo produzido. “Fazer toda a redação – leitura, planejamento e execução – em um momento concentrado da prova (começo, meio ou fim) só vai dar certo para quem está muito bem treinado a proceder assim, ou está tão tranquilo a ponto de isso ser indiferente. Texto tem que descansar para crescer, feito massa de pão”, diz Costa.
Neubern também não recomenda que se deixe a redação para o final da prova, porque o aluno pode se perder com o tempo e não conseguir concluir o texto. E, assim como Costa, diz que o ideal é anotar as primeiras ideias e deixar a cabeça trabalhar um pouco o amadurecimento do tema enquanto faz algumas questões objetivas. “Afinal, várias ideias e referências podem aparecer na mente, enquanto as questões objetivas são resolvidas”, completa.
Depois desse planejamento, a próxima etapa é escrever o texto. “Há alunos que fazem um rascunho completo, outros que escrevem os primeiros parágrafos e finalizam o texto já na folha oficial e outros, ainda, que escrevem o texto todo diretamente na folha oficial a partir do projeto”, explica Neubern. Mas a coordenadora reforça que cada um deve definir a estratégia que lhe dá mais segurança e conforto.
E não se esqueça: independentemente da tática escolhida, é fundamental fazer uma revisão gramatical ao final, pois isso pode ser a diferença para a nota 1000. São permitidos apenas dois desvios gramaticais e um de sintaxe para a obtenção da nota máxima na competência 1, que avalia o domínio da norma culta.
Antes da prova
Mesmo com todas essas dicas em mãos, tem algo fundamental a ser feito durante a preparação que fará toda a diferença para que você consiga colocá-las em prática: a leitura. Além do treino em si, tentar fazer um redação por semana e entender os pré-requisitos exigidos pela banca, esse hábito vale tanto para uma compreensão bem feita da coletânea quanto para um arranjo bem feito na hora da escrita.
“Não é simples compreender certos textos, e isso demanda treino. Ou seja, dedicar uma hora diária, de domingo a domingo, para ler textos da imprensa tradicional é essencial para a hora da prova”, diz Costa. Segundo o professor, se o vestibulando não tem o hábito de ler, vai conhecer poucos textos que possam dialogar com os da coletânea. Por isso, ficará difícil promover intertextualidade para fundamentar o posicionamento, trazer dados extras e outros pontos de vista.
“Se o vestibulando não lê, ele não se apropria das várias arquiteturas a que se submetem os mais variados discursos, nos mais variados gêneros discursivos, sobre as mais variadas sintaxes. Sem isso, fica preso a uma bolha discursiva restrita a textos bem avaliados de outros vestibulandos, o que é muito pouco. Um passo a passo ideal depende de muito treino antes do primeiro passo”, explica Costa.
Fazer ou não um rascunho?
Como os especialistas ressaltaram, é fundamental fazer um projeto, visto que uma das habilidades observadas em qualquer texto dissertativo-argumentativo é a organização. Mas além desse projeto, pode ficar uma dúvida se o rascunho é ou não necessário. “Fica a critério do estudante. Isso tem a ver com o treino e a sensação de segurança. Não é demérito pra ninguém rascunhar e, depois, passar a limpo, mas não se pode perder de vista o tempo de prova”, explica Neubern. E por isso reunir as ideias de maneira bem estruturada é tão crucial: se o tempo apertar e não for possível fazer um rascunho completo, o fato de haver projeto garante que seja possível escrever diretamente na folha oficial.
Então, atente-se ao tempo e se planeje. “Todo texto sempre pode melhorar. Mas o vestibular quer saber se o melhor que você pode fazer naquele tempo de que dispõe é melhor do que o que fariam os concorrentes. Há que se virar com as linhas que tem, no tempo que tem”, finaliza Costa.
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