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Fuvest 2022: veja 9 possíveis temas de redação

Necropolítica, ataque à imprensa e precarização das relações de trabalho são algumas das apostas dos especialistas

Por Julia Di Spagna
Atualizado em 21 dez 2021, 15h15 - Publicado em 20 dez 2021, 11h20
Montagem com 3 fotografias coloridas. A primeira é de um grupo de militares, a segunda é de um motoqueiro e a terceira é um tablet.
 (Pexels/Reprodução)
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A segunda fase da Fuvest 2022 acontece nos dias 16 e 17 de janeiro e, no primeiro dia, os candidatos irão encarar uma etapa temida por muitos: a prova de redação. Inclusive, a lista de aprovados para a próxima etapa e os locais de prova já estão disponíveis, confira aqui.

A diferença entre a redação da Fuvest e a de outras bancas não está na estrutura textual, mas na abordagem temática, segundo Arthur Rodrigues Medeiros, coordenador e professor de redação no Poliedro Colégio (SP).

Ele explica que, em vez de se debruçarem sobre um problema social específico que precisa de resolução objetiva e imediata, como ocorre no Enem, os temas tendem a ser mais teóricos e mais provocativos, de modo a levar o candidato a uma análise ampla da sociedade, mas ainda bastante pautada na realidade contemporânea. 

“De maneira geral, existe uma característica que se replica ano a ano na redação da Fuvest: espera-se que o texto argumente sobre como se constitui a estrutura social em que vivemos, tanto em seus aspectos culturais, quanto econômicos ou políticos.” 

Nesse contexto, o coordenador do Poliedro e Thiago Braga, professor e autor do Sistema de Ensino pH, ajudaram o GUIA a separar nove possíveis temas que podem ser cobrados direta ou indiretamente na prova de redação da Fuvest 2022. 

Mas lembre-se: a ideia aqui não é adivinhar o que será cobrado, mas permitir que você consiga ter uma preparação mais direcionada, entendendo qual tipo de temática é a cara da Fuvest. Confira:

1) Excesso de informações

“Nos últimos anos, a velocidade com que a informação se propaga tem afetado a vida cotidiana de todos aqueles que participam do ambiente virtual. Não à toa, a palavra “infodemia” passou a ser reconhecida pela OMS (Organização Mundial da Saúde), em 2020, para caracterizar o excesso de informações, verdadeiras ou falsas, que tornam difícil a busca por conhecimentos confiáveis por parte dos usuários da internet”, destaca Medeiros. 

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Em uma sociedade cada vez mais informatizada, cabem, então, algumas provocações: a humanidade está preparada para lidar com esse fenômeno? Quais são as consequências a que a infodemia pode levar? 

2) Importância da arte para o desenvolvimento crítico dos cidadãos

A arte ajuda a desenvolver o senso crítico e uma série de percepções sociais, políticas e, segundo Braga, essa seria uma discussão importante neste ano, em meio à pandemia.

“Seria importante que os jovens que vão fazer a prova conseguissem argumentar sobre como o desprezo pelos nossos processos artísticos perpetua uma sociedade menos desenvolvida intelectualmente, menos reflexiva e menos crítica.” 

3) Necropolítica

Desde 2020, esse conceito, criado pelo pensador camaronês Achille Mbembe, tem ganhado destaque no entendimento político da sociedade. 

“A pandemia de Covid-19 mostrou como governos têm a capacidade de determinar as oportunidades de sobrevivência de grupos sociais específicos – em outras palavras, de decidir quem vive e quem morre. Mais recentemente, a tomada de Cabul pelo Talibã também trouxe à tona o poder que um governo detém sobre a vida e a morte em uma população”, explica Medeiros. 

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Essa reflexão pode levar a assuntos já abordados em outros temas da Fuvest: como são constituídas as relações de poder na nossa sociedade? Quem as determina? O que as explica? 

4) Precarização das relações de trabalho

“A uberização do trabalho, a perda de direitos, uma maior exploração na relação de trabalho com pessoas sem os direitos mais básicos, como entregadores e motoristas de aplicativo, a relação que não cria um vínculo entre empregador e empregado são temas que têm sido discutidos no mundo inteiro e que podem aparecer na prova”, diz Braga. 

Segundo o professor, a discussão sobre os direitos dos trabalhadores e que tipo de suporte as empresas deveriam oferecer ainda está muito embrionária no Brasil e poderia ser usada como tema para que os alunos desenvolvessem argumentos sobre a questão.

5) Educação 

Em 2021, comemorou-se o centenário de Paulo Freire, um importante teórico da educação. As ideias de Freire propunham um novo olhar sobre o processo pedagógico, que passava a incluir a perspectiva e os interesses daqueles historicamente menos favorecidos pelo sistema econômico. 

Essa visão de educação, no entanto, tem encontrado resistência em alguns setores da sociedade brasileira. Qual deve ser, então, o papel da educação no contexto atual? Como se alcançaria uma educação verdadeiramente libertadora? Esses tipos de questionamentos podem aparecer na prova, segundo Medeiros.

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6) Importância da memória para a construção da identidade do brasileiro

“O brasileiro é geralmente apontado como um povo que não tem lembrança do seu passado, ou não se conecta tanto com seu processo histórico e por isso perpetua uma série de desigualdades e de preconceitos”, diz Braga. 

Por isso, discutir a memória da nossa sociedade, os eventos, os fatos, aquilo que nos constitui enquanto sociedade para que isso fortaleça o nosso senso identitário enquanto comunidade seria uma discussão com a cara da Fuvest, segundo o professor.

7) Relação entre mídia e violência

Medeiros destaca que, neste ano, uma feroz caçada a um assassino no interior de Goiás, Lázaro Barbosa, foi acompanhada em tempo real por todo o Brasil por meio dos mais variados tipos de mídia. Além disso, dois filmes foram produzidos sobre um dos crimes mais repercutidos no início dos anos 2000: o assassinato de Manfred e Marísia von Richtofen. 

“A ocorrência da violência é um processo complexo e que tem suas bases em estruturas da sociedade, mas a sua íntima relação com os meios de comunicação em massa é uma associação relativamente recente e que levanta algumas questões.” 

Existem prerrogativas éticas para a publicação ou ficcionalização de atos de violência? Por que o público se interessa tanto pelo espetáculo criado em torno dela? Pode-se dizer que ele é danoso à sociedade? 

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8) Relação entre ser humano e meio ambiente

“A ocorrência da COP-26 levou diplomatas de todo mundo a Glasgow, na Escócia, para discutir em tom de urgência as mudanças climáticas cada vez mais alarmantes. No Brasil, as manifestações contra o polêmico Marco Temporal, que estabelece quais terras devem pertencer aos povos indígenas, levaram à discussão sobre a intrínseca relação entre os recursos naturais e a população”, lembra Medeiros. 

No contexto em que vivemos, o embate entre o ser humano contemporâneo e o meio ambiente é sempre uma constante. O que determina essa relação? Quais são as prioridades da sociedade: desenvolvimento econômico predatório ou sustentável?

Outra temática importante dentro desse assunto é o crescimento do desmatamento no Brasil. “É sempre um tema absolutamente possível, que a gente chama de ‘tema verde’. Poderia estar relacionado à falta de consciência ambiental do brasileiro, à despreocupação com o aumento da exploração madeireira no país ou à pecuária extensiva, por exemplo”, completa Braga.

9) Ataque à imprensa e a jornalistas no Brasil

O Brasil tem registrado altos índices de violência contra jornalistas. “A imprensa livre está diretamente associada à ideia de democracia, de liberdade de informação e, portanto, esse é um tema bastante importante que poderia ser aproveitado pela banca”, explica Braga.

+ Liberdade de Imprensa: a situação atual do Brasil

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