Este texto foi originalmente publicado no portal Na Prática, parceiro do Guia do Estudante.
Por mais que nem sempre possamos ouvir (ou dar a devida atenção), todos nós temos uma “voz interna” que pode tanto nos tranquilizar – quando parece nos dizer que está tudo bem, apesar de qualquer desafio – quanto nos colocar para baixo. Qual é o tom dessa voz? É compassiva, ou se assemelha mais com a de um ditador? Refletir sobre como tratamos nossas próprias emoções é o pilar para desenvolver autocompaixão, segundo o psicólogo gaúcho Luiz Eduardo. Formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ele é um dos três fundadores da Eurekka (empresa que oferece atendimentos médicos e psicoterapia) e foi o quinto e último entrevistado da Super Week, uma semana de encontros exclusiva para participantes dos cursos da Fundação Estudar. A conversa foi conduzida por Felipe Regys, facilitador do curso de Inteligência Emocional da instituição.
Característica em eterno desenvolvimento
Para Luiz, a autocompaixão não é algo que está pronto e acabado. O empreendedor diz que, na verdade, existem tons de autocompaixão, e uma pessoa que desenvolve essa característica está constantemente desenvolvendo “uma relação mais saudável com sua autocrítica e autocobrança, entendendo que erros vão ocorrer”. A ideia, portanto, é que a gente consiga de tornar, dia após dia, profundos conhecedores das emoções que nos rodeiam. “Se isso não ocorre, a experiência será aversiva e desconfortável cada vez que elas aparecerem”.
Por esse motivo, é fundamental não negar sentimentos, nem mesmo os mais densos – e é aí que vem a principal sugestão do terapeuta: encará-los como amigos “convidá-los” para tomar um café, na tentativa de compreendê-los melhor. Já as falhas devem ser encaradas como o que, de fato, são: absolutamente naturais.
Em uma analogia com um dia de chuva, Luiz aconselha que a gente nunca se esqueça de que “somos o céu, não as nuvens”.
Autocompaixão nas relações profissionais
Quando ressaltamos a importância da inteligência emocional no mercado de trabalho, também estamos falando, ainda que indiretamente, sobre autocompaixão. Na visão do confundador da Eurekka, quando um profissional se cobra excessivamente, ele está em desequilíbrio com essa habilidade. Exemplo disso é uma pessoa que sempre pensa que será demitida (maximizando algum erro cometido no dia a dia do trabalho), mesmo quando seu gestor não demonstra qualquer indício de que isso possa ocorrer. “Ter autocompaixão é reconhecer que há algo errado, mas pensar sobre como lidar com isso”, define Luiz. A dica, segundo o terapeuta, é contrabalançar a responsabilidade pelo que não deu certo, com a necessidade de seguir em frente.
A armadilha das redes sociais
O processo de desenvolvimento da autocompaixão requer alguns cuidados, que equivalem a manter uma espécie de “radar” ligado em meio ao excesso de informações que estão o tempo todo sendo disponibilizadas. As redes sociais podem seguir na via oposta, na medida em que as pessoas tendem a compartilhar em seus perfis pessoais somente demonstrações de felicidade. Assim, se rolamos o feed e só vemos conteúdos goodvibes quando estamos “na bad”, como exemplifica Luiz, “é muito provável que a comparação comece a surgir e que o contraste fique evidente”.
No entanto, não se trata de abandonar as redes, mas de reconhecer que, de maneira geral, elas não são ambientes propícios para demonstrações de vulnerabilidade – o que também não difere muito da vida em sociedade. Ou seja: todo mundo é vulnerável, só não (necessariamente) vai mostrar isso publicamente. O lado bom é que, quando essas demonstrações ocorrem, abrem espaço para reconhecermos no outro uma insegurança que também é nossa.
Treinando empatia
Luiz explica, ainda, que, na Psicologia, o conceito de inteligência emocional tem diversos significados, mas que ele gosta de encará-la como o ato de “se abrir ao desconforto no momento em que ele está surgindo e, ainda assim, poder tomar atitudes efetivas que estejam em congruência com aquilo que para você é importante”. Entretanto, centrar-se exclusivamente em si não basta. O primeiro passo é desenvolver empatia, para, durante a jornada, caminhar aos poucos rumo à autocompaixão. É um treino constante.
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