Você com certeza já ouviu a história do amigo-de-um-amigo que desenvolveu um projeto inovador e hoje ganha milhões; ou já leu uma matéria sobre uma jovem de 13 anos que criou um experimento revolucionário. Então, você se olha no espelho e faz aquela pergunta: quando será a minha vez?
Ser criativo e ter ideias inovadoras não é tarefa fácil, mas é algo que pode ser trabalhado. Pelo menos é o que acredita o Psicólogo Organizacional Adam Grant.
Em seu TED Talk “The surprising habits of original thinkers”, Adam apresenta o conceito de “originais”: pessoas que são inconformistas, possuem ideias inovadoras e agem para defendê-las. Muitas vezes, eles não se parecem nada com o que achamos que deveriam e por isso podem não inspirar confiança. O próprio Adam já se enganou ao se deparar com uma ideia original.
Há sete anos ele foi convidado por alguns alunos a investir na Warby Parker, uma empresa de venda de óculos online. Como toda a companhia girava em torno de um website, que um dia antes do lançamento nem estava pronto, Adam desconfiou. O resultado? O psicólogo estava errado. Não só isso: a Warby Parker foi considerada a companhia mais inovadora do mundo pela revista Fast Company, sendo avaliada em mais de 1 bilhão de dólares.
A partir dessa experiência, ele resolveu se dedicar aos estudos dos “originais” e identificar o que eles têm diferente das pessoas menos criativas. Como os reconhecer e reconhecer suas ideias inovadoras? Seria possível moldar o nosso cérebro em busca de ideias mais inovadoras? Essas perguntas foram respondidas a partir de pesquisas em várias empresas, baseadas na frequência em que as pessoas procrastinavam versus o quão criativas e inovadoras elas eram. O resultado lhe apresentou três pontos importantes:
#1 Os “originais” estão sempre atrasados
Todos nós sabemos o que são procrastinadores, certo? O que muitos não sabem é que procrastinar na medida certa pode ser uma boa coisa – ao contrário do que nos foi dito até então. Segundo a pesquisa de Grant, “procrastinar pode ser um vício da produtividade, mas pode ser uma virtude para a criatividade”.
Ele descobriu que ser procrastinador é uma característica dos “originais” e que é justamente nesse momento que eles trabalham a criatividade. O importante é saber dosar: não ser uma pessoa ansiosa – que por entregar tudo o mais rápido possível não consegue liberar ideias inovadoras –, nem aquela que procrastina até o último minuto e não tem tempo para reflexão.
Outro ponto é só utilizar a procrastinação após ter contato com a ideia, deixando-a no fundo da mente para ser trabalhada futuramente. Assim você consegue incubar novidades e organizar opiniões divergentes. Um exemplo prático é o de Martin Luther King, que mudou o seu discurso até o último minuto – enquanto estava no palco se apresentando – e entrou para a história com seu “I Have a Dream”, que nunca esteve em seu script inicial. Martin só chegou a esse ponto por ter deixado em aberto às possibilidades de mudança.
Adam também comenta sobre a falsa necessidade de sermos pioneiros – o que nos faz focar na urgência da entrega das ideias e não na reflexão cuidadosa. Um conselho? É mais fácil melhorar um projeto existente do que criar algo novo. O próprio Google fez isso!
#2 Os “originais” são cheio de dúvidas
Uma das razões que levou Grant a não confiar em seus alunos foi o fato deles estarem em dúvida sobre o negócio. O que ele concluiu é que existe grande diferença entre a dúvida sobre si mesmo x a dúvida sobre a ideia – e que a segunda opção pode, na verdade, contribuir para o desenvolvimento do seu projeto.
Assim como nós, os originais têm inquietações, porém as administram de forma diferente. Em vez de eles pararem de acreditar em si mesmos – o que é paralisante –, eles transformam a dúvida em questionamentos energizantes: “os primeiros rascunhos sempre são um lixo e eu só não cheguei lá ainda”.
#3 Os “originais” têm muitas ideias ruins
A maioria de nós já deixou de sugerir uma ideia com medo de ser julgado, certo? Isso é bastante comum e, para Adam, uma das particularidades que nos diferencia dos “originais”.
Ao contrário do que você pensa os “originais” têm várias ideias ruins e muitas vezes são as pessoas que mais fracassam. Mas isso também acontece porque eles são os que mais tentam. Um exemplo são os grandes compositores clássicos, como Beethoven e Mozart, que criaram centenas de composições até chegar à suas obras-primas. A matemática é simples: quanto mais você produz, mais variedade você tem e, sucessivamente, mais chance de conquistar um resultado original.
No fim, os “originais” não são tão diferentes de nós: eles têm medos, dúvidas, procrastinam e têm ideias ruins – e o sucesso deles é por conta disso. “Ser original não é fácil, mas é a melhor maneira de mudar o mundo ao nosso redor”, resume Adam.
Este texto foi originalmente publicado no portal Na Prática, parceiro do Guia do Estudante.