Conheça o brasileiro que trabalha na vacina de Oxford contra a covid-19
Pedro Folegatti está no time que, até o momento, tem resultados promissores na busca pela vacina contra o novo coronavírus
Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou como pandemia o novo coronavírus, universidades e indústrias farmacêuticas protagonizam uma corrida sem precedentes em busca da vacina para o vírus. O processo de desenvolvimento de novas vacinas, que costuma durar anos, já está em fases finais de testes em muitos desses laboratórios – entre eles, o do Instituto Jenner, na Universidade de Oxford, que firmou uma importante parceria com o Brasil.
O nosso país, assim como alguns na África, Ásia e os Estados Unidos, foi escolhido pela universidade inglesa para a fase de testagem em massa da vacina (a fase 3). Cinco mil profissionais da saúde de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador já começaram a receber a primeira dose. A escolha do Brasil perpassou, é claro, pelo fato de sermos um dos países do mundo onde a doença mais avança.
Mas a universidade também considerou a “infraestrutura de ciência atual do país, que permite que a gente faça essas coisas com o rigor e a qualidade necessários.” Quem afirma é o médico infectologista Pedro Folegatti, o dedo brasileiro por trás da vacina de Oxford, em uma entrevista recente à BBC News. Folegatti contou que esse é, sem dúvidas, o maior desafio de sua carreira, que começou há nove anos no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. Descubra a trajetória do único brasileiro na linha de frente do desenvolvimento da vacina britânica, considerada pela OMS a mais avançada e promissora até o momento.
O caminho para Oxford
A pouca idade pode até sugerir o contrário, mas o médico de 34 anos percorreu uma considerável trajetória profissional e acadêmica. Em julho, ele figurou como autor principal do artigo publicado na revista científica The Lancet revelando os resultados promissores da vacina desenvolvida em Oxford.
Nascido em São Paulo, Pedro iniciou sua trajetória na área aos 18 anos, quando ingressou no curso de Medicina da Universidade Federal do ABC (UFABC). Entre estágios e pesquisas, foi nos anos da residência médica (uma modalidade de pós-graduação para formados em Medicina) que ele se aproximou de vez de sua especialidade atual, a infectologia. Durante três anos, especializou-se no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, uma das maiores referências em todo o país (para se ter uma noção, foi lá que os primeiros casos de HIV do Brasil foram tratados).
Muitos não sabem, mas o concurso para ingressar em uma residência médica pode ser tão trabalhoso quanto um vestibular. Além de concorrer com candidatos com formação e nível de preparação muito semelhante, a oferta de vagas é quase sempre menor que o número de interessados. Para a área de infectologia, por exemplo, na qual Folegatti se especializou, eram 27 vagas para 184 candidatos na cidade de São Paulo este ano.
Depois de finalizar a residência no Emílio Ribas e passar por alguns hospitais no Brasil, o médico brasileiro partiu em 2014 para o Reino Unido e deu início ao seu mestrado em Saúde Pública na London School of Hygiene and Tropical Medicine. Nos anos seguintes, esteve, além da Inglaterra, também em Uganda e na Tanzânia para estudar doenças infecciosas tropicais. Essas pesquisas o levaram a Oxford, em 2016.
A exaustiva busca pela vacina
Pedro Folegatti entrou no Instituto Jenner, na Universidade de Oxford, em um programa que estuda vacinas contra o vírus influenza (causador da gripe). Desenvolvia seu doutorado nessa área, até que, em fevereiro deste ano tudo mudou e ele mergulhou no que define como o maior desafio de sua carreira. Junto a outros cientistas, ele conduz agora as pesquisas de uma das mais promissoras candidatas à vacina contra a covid-19. Desde que começaram os estudos, Pedro tem dormido quatro horas por noite e trabalhado todo o restante do tempo, afirmou em entrevistas à BBC e ao Estado de S.Paulo.
Como um dos responsáveis pela pesquisa, seu papel é bastante variado, mas com foco especialmente nos ensaios clínicos – ou seja, nas etapas de teste. A concepção do estudo em si, a elaboração de protocolos e as tarefas relacionadas à escolha, testagem e monitoramento dos voluntários fazem parte da sua rotina. O objetivo final, como explicou à BBC, é garantir a segurança dos voluntários que participam dos testes para a vacina.
O que, especialmente neste caso, está longe de ser uma tarefa simples. Considerando que apenas na fase 1 do teste os pesquisadores de Oxford convocaram 1.077 voluntários em um mês (quando em geral são 25 a 50 pessoas em um prazo de seis meses a um ano), não é exagero afirmar que Pedro enfrenta não apenas o maior desafio da sua carreira, mas um dos maiores desafios já enfrentados pela ciência.