A vontade de entrar no mercado de trabalho pode fazer com que muitos jovens profissionais se joguem no primeiro emprego que for oferecido a eles. As crises econômica e de trabalho pelas quais o Brasil passa também contribuem para esse comportamento, já que muitos profissionais perderam a fonte de renda. Mas antes de aceitar a primeira oferta que aparecer, é preciso saber avaliar os riscos de escolher um emprego em detrimento de outras oportunidades. Pelo menos, é o que defende a economista e consultora Allison Schrager.
Em artigo publicado na Harvard Business Review, ela argumenta que escolher o que define como o caminho certo nunca foi tão crucial para o sucesso ao longo da vida. Mas, para quem ainda não sabem bem para onde quer ir, Schrager afirma que é possível fazer a escolha certa aplicando algumas ferramentas básicas de gerenciamento de risco ao ativo mais valioso dos jovens profissionais: seus ganhos futuros.
Como avaliar os riscos de escolher um emprego
O segredo para fazer uma boa escolha, segundo a economista, é definir metas claras. Ainda que seja simples, a estratégia também pode ser a parte mais difícil o processo, porque a maioria das pessoas não sabe o que quer. Há quem saiba claramente desde muito jovem, mas outros podem não ter a melhor ideia mesmo em idade mais avançada. Para driblar um pouco essa incerteza, uma alternativa é pensar muito sobre o que se deseja para a própria carreira, ao invés de conquistas e cargos específicos.
Enquanto alguns profissionais incentivam ir atrás dos sonhos, outros tendem a recomendar encontrar um emprego estável e deixar a paixão para os hobbies. Lisa aponta que ela tende a se inclinar para o campo da paixão com uma grande dose de realismo. Mas de toda forma, ela indica que é preciso considerar os riscos que envolvem os objetivos pessoais dos profissionais, principalmente no momento de escolher o primeiro ou um novo emprego.
Os principais tipos de risco
De acordo com a executiva, existem dois principais tipos de riscos de escolher um emprego: risco idiossincrático (que pode ser exclusivo para a pessoa ou para um trabalho específico) e risco sistemático (que se aplica a toda a economia). Para esclarecer, ela exemplifica que um risco idiossincrático ocorre quando o profissional trabalha em uma empresa que fecha por causa de má gestão ou ele pede demissão por se adaptar mal à cultura. Esse é um tipo de risco que pode ser gerenciado diversificando as habilidades e opções de trabalho.
Já um exemplo de risco sistemático é perder o emprego (e o salário) se a economia entrar em recessão. Schrager analisa que esse tipo de risco pode ser mais prejudicial porque o profissional pode perder seu emprego no pior momento: quando o mercado de ações está em baixa, há mais desemprego e é mais difícil encontrar um novo emprego, como ocorreu com a pandemia do coronavírus.
O lado bom é que profissionais que enfrentam riscos mais sistemáticos tendem a ganhar mais, de acordo com a economista. Se vale a pena ou não assumir um risco mais sistemático por mais dinheiro, a resposta depende de preferências pessoais e estilo de vida. Quando se fala dos riscos de escolher um emprego, algumas pessoas preferem maior estabilidade no emprego a salários mais altos.
Por isso, é importante considerar o risco que se é capaz de tolerar. Existe o risco sistemático de que um trabalho desapareça porque pode ser feito por uma máquina. E há o risco idiossincrático do profissional acabar em uma empresa que não pode competir no mercado.
E se for o primeiro emprego?
O risco de escolher um emprego pode ser maior se ele for o primeiro, por conta da inexperiência do candidato no mercado. A economista defende que o tipo de empresa ideal para um profissional depende de sua tolerância ao risco, necessidades financeiras e do que o profissional é capaz de conseguir. Ela complementa que escolher um tipo de empresa é apenas o primeiro passo e também demanda um plano de gerenciamento de risco. As empresas que a maioria dos profissionais querem trabalhar como Google e Netflix, por exemplo, não necessariamente serão opções adequadas para todos os perfis.
Schrager opina que, para ter sucesso nesse tipo de organização, é preciso navegar por burocracia e política e evitar ficar restrito à mesma função. Outro risco de escolher um emprego em grandes empresas é que muitas vezes elas têm uma cultura em que o profissional deve ser grato por trabalhar lá e usando isso ao favor da corporação, de acordo com a economista. Além disso, ela pontua que só porque uma empresa é grande e bem-sucedida não significa que o profissional não corre nenhum risco idiossincrático.
Já em start ups os profissionais ficam menos presos a uma determinada função, têm mais responsabilidade e aprendem novas habilidades, de acordo com a avaliação da executiva. Mas o risco de escolher um emprego nesse tipo de empresa é muito grande para questões idiossincráticas. A organização pode falir, ser mal administrada, incentivar maus hábitos, entre outras questões. As start ups também representam um risco mais sistemático porque precisam de financiamento externo que depende do ciclo de negócios.
Uma terceira opção apontada por Schrager são empresas que estão subvalorizadas ou em declínio. A vantagem de ser contratado nessas organizações é que elas têm uma probabilidade maior de dar uma chance a uma pessoa jovem e ambiciosa com poucas credenciais. Também há um grande aprendizado quando uma empresa está fazendo coisas erradas porque saber o que não funciona pode ser igualmente valioso. Mas há chances do profissional se perder em burocracia ou ser demitido.
A economista finaliza afirmando que não é possível saber o futuro de nenhuma empresa, por isso os profissionais devem arriscar. Para ela, a melhor aposta é ir com a empresa que parece ser a mais adequada, onde o profissional sente que vai aprender mais e encontrar bons mentores. Além disso, Schrager pontua que provavelmente o primeiro emprego não será o último mas, começar da maneira certa fornece uma boa base para assumir os riscos e gerenciar tudo o que uma economia em mudança causa.
Este texto foi originalmente publicado no portal Na Prática, parceiro do Guia do Estudante.