Veteranos recebem calouros com festa em trote na USP
Não faltaram camisetas rasgadas, rostos pintados e cabeças raspadas ao longo do dia
Alunas têm rosto pintado na Cidade Universitária
por Fábio Brandt
O relógio-obelisco situado na principal praça da Cidade Universitária já amargurava o escaldante Sol da manhã paulistana quando Henry Gandelman, 18 anos e cabelos longos, chegou à Escola Politécnica da USP nesta segunda, 8 de fevereiro. Às 10h, ele caminhou pelo estacionamento descampado da Poli em direção ao local onde se matricularia no curso de Engenharia Química – que queria fazer desde o segundo ano do Ensino Médio, há quatro anos. Era o primeiro dia de trote na maior universidade do Brasil.
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Enquanto isso, os calouros de Relações Internacionais, Lucas Ribeiro e Adriana Fraiha, ambos de 17 anos, já estavam pintados da cabeça aos pés e se enturmavam com os estudantes mais velhos na entrada da Faculdade de Economia e Administração (FEA).
Ao lado deles, Rodolph Blatner Mendes, de 22 anos, passava apressado, acompanhado de sua mãe Heloísa. Vestindo uma camiseta em retalhos e também coberto de tinta, Rodolph explicou que havia se matriculado em Turismo, na Escola de Comunicações e Artes (ECA), e cortava caminho pela FEA para chegar ao Instituto de Matemática e Estatística (IME), onde encontraria sua irmã.
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BOAS-VINDAS
No estacionamento da Poli, Henry andou tranquilo ao lado do irmão mais velho Allan, de 21 anos – que está no quinto ano de Engenharia de Computação, também na Poli. Juntos, eles passaram por grupos de estudantes limpos e arrumados até encontrar os primeiros calouros cobertos de lama e de tinta. Henry, prevenido, vestia uma camiseta já cheia de tinta, usada para receber o trote do primeiro colegial. Sobre o cabelo, ele não reclamava de vê-lo raspado. “Cresce depois”, afirmou.
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Os irmãos logo deram de frente com um enorme gramado cercado por plástico laranja. Allan sorriu e Henry apenas observou. Dentro do cercadinho, tinta e barro para todo lado. Veteranos e calouros corriam de lá para cá, formavam rodas e se abraçavam para eternizar poses com recém-conhecidos.
Uma enorme poça de lama permitia aos calouros mais exaltados lavar a alma após o ano de preparação para o vestibular. Barraca de churrasco e campo de futebol de sabão também compunham a cena. “Quando é maneirado desse jeito, sem exagero, não ligo. Não tem nada não”, comentou Henry sobre o trote.
Mas antes de cair na brincadeira, o estudante entrou no fim de uma longa fila, formada logo ao lado da bagunça. “É para a matrícula”, indicou Henry, enquanto Allan reconhecia alguns estudantes emblemáticos da escola: “aquele ali deve estar no nono ano”, disse, referindo-se a um aluno que recepcionava os calouros fantasiado de Lester, o rato gigante que era personagem do saudoso programa O Mundo de Beakman, exibido no Brasil nos anos 1990 na TV Cultura.
RITMO DE FESTA
Estrondo de surdo, caixa e apito era escutado por quem passava pela Escola de Comunicações e Artes (ECA). De fato: num dos jardins da escola, em frente aos prédios dos cursos de Artes Cênicas, Artes Plásticas e Música, calouros cantavam e dançavam ao ritmo comandado pelos veteranos da Batereca – a bateria da ECA.
À essa altura, o Sol já carregava o peso do meio dia. Tinta fresca escorria dos rostos recém-chegados à ECA. Mas isso não era problema. No epicentro da muvuca, grande gritaria. Sob a sombra de uma árvore ali ao lado, as estudantes Daniela Alves, Natália Alcântara e Gabriela Rosa, todas de 19 anos, levavam uma conversa entre ingressantes nos cursos de Jornalismo, Relações Públicas e Ciências Sociais.
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NOVO CICLO
Entre os veteranos da ECA que passaram pela USP neste 8 de fevereiro – primeiro dia da matrícula para os ingressantes de 2010 – esteve Paulo Serson, de 25 anos, que entrou no curso de Turismo em 2003 e se formou em 2006. Mas Serson não esteve na universidade para aplicar trote, muito pelo contrário.
Interessando em ampliar sua bagagem acadêmica, Serson prestou Fuvest novamente e foi aprovado para o curso de Administração da FEA. Por isso, saiu da matrícula esborrifado de tinta, como há sete anos.
“Trouxe mochila com toalha e sabonete”, comentou o estudante, animado por poder aproveitar a festa da recepção e chegar limpo no trabalho mesmo assim. Mas esse tipo de precaução não vale para todos: só para os calouros que sabem da possibilidade de se banhar no centro de práticas esportivas da USP. Um macete que vem com o tempo.
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