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Unicamp: conheça as Canções Escolhidas do Cartola para o vestibular

Cartola fala sobre amor, desigualdade social, a passagem do tempo. São dez as músicas do artista que podem ser cobradas nas duas fases da prova

Por Julia Di Spagna
Atualizado em 4 Maio 2023, 07h53 - Publicado em 2 Maio 2023, 10h01
Cartola tocando violão em 1966
Cartola tocando violão em 1966 (Domínio público/Acervo Arquivo Nacional/Reprodução)
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O vestibular da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) é conhecido por abordar temas atuais e ter uma “cara” contemporânea que dialoga com o cotidiano dos estudantes e que traz reflexões sobre assuntos relevantes para a sociedade. Um dos pontos que demonstra essa postura mais inovadora da banca é a escolha da lista de obras obrigatórias. Indo além de clássicos da literatura, a Unicamp têm explorado músicas em suas provas.

E, depois de cobrar um álbum dos Racionais (Sobrevivendo no Inferno), o vestibular acrescentou à lista, para os próximos três anos, canções escolhidas do Cartola. São elas:

  • “Alvorada”
  • “As rosas não falam”
  • “Cordas de aço”
  • “Disfarça e chora”
  • “O inverno do meu tempo”
  • “O mundo é um moinho”
  • “Que é feito de você?”
  • “Sala de recepção”
  • “Silêncio de um cipreste”
  • “Sim”

Será que o fato de serem canções interfere na forma de estudar? O que você precisa saber sobre essas músicas? Como a Unicamp pode explorá-las nas questões? O GUIA DO ESTUDANTE conversou com Francielly Baliana, professora de Literatura do Poliedro Colégio, e vai te ajudar com cada uma dessas questões. Confira: 

Afinal, como estudar uma canção?

Segundo a professora, para estudar canções, é preciso entender que elas não foram produzidas no mesmo momento histórico e nem na mesma situação, como normalmente acontece com um livro. Elas refletem a diversidade do compositor e sua singularidade para expressar, muitas vezes, sentimentos parecidos, mas de maneiras diferentes, a partir de figuras de linguagem distintas e em momentos diversos. 

Dessa forma, em comparação a um romance, a escolha de canções pela Unicamp desafia os candidatos a olharem para um autor como uma figura multifacetada.

Além disso, uma dica para mergulhar no universo das canções é ir além da leitura das letras e efetivamente escutar as músicas. Assim como ler o resumos de livros não é a mesma coisa que ler a obra completa, pular essa etapa prejudica uma parte importante da sua experiência.

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Entendendo sobre o que tratam as Canções Escolhidas do Cartola 

Cartola é considerado um dos maiores artistas brasileiros, tanto por composições que contribuíram para a difusão do samba ao longo do século 20, quanto por manter vivo o caráter popular desse ritmo musical, que era cada vez mais apropriado por artistas da elite cultural carioca. 

Ao analisar as canções de Cartola escolhidas pela Unicamp, é possível perceber o quanto o vestibular mantém sua tradição de entender a literatura em um sentido mais amplo, como um espaço de produções variadas, mas extremamente associado à vida e à sociedade, aos impactos da literatura como um fenômeno não apenas cultural, mas também social. 

É importante notar que essas composições constroem uma poética que traduz a sensibilidade de pessoas historicamente marcadas pelas injustiças sociais, pelo preconceito racial e pela marginalização cultural. O samba, afinal, foi diversas vezes alvo de criminalização. 

+ Como sambas clássicos refletem questões sociais e políticas do Brasil

As canções de Cartola escolhidas apresentam, sobretudo, um eu-lírico ligado ao amor, mas também às frustrações trazidas por esse sentimento, a partir de vozes que refletem sobre a passagem do tempo e a natureza de um espaço em transformação, especialmente os morros do Rio de Janeiro.

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As principais características das canções

Cada canção apresenta singularidades e características de seu próprio contexto de criação. E é importante encarar essas produções como poemas, com seu caráter rítmico e pautado na oralidade, perceber o quanto cada eu-lírico constrói sua visão sobre si mesmo e seus sentimentos a partir de suas vivências em um lugar e em um tempo específico. 

No entanto, justamente por serem canções feitas por um artista popular, a relevância de cada uma ganha proporções distintas à medida que não alcançam apenas um público mais próximo de uma literatura historicamente elitizada, mas também grupos populares, principalmente por darem voz a essas subjetividades marginalizadas. 

As músicas manifestam momentos subjetivos, épocas difusas e sentimentos precisos, pessoas de quem se gosta, amizades e amores que se aproximam e que se vão.

Sobre o que falam as canções?

As canções de Cartola, nesse sentido, apresentam a experiência sensível de um homem que circula por esses espaços, traduzindo a linguagem poética que se vê inclusive na geografia desses lugares, como em “Alvorada”, e mesmo os desalentos e frustrações de pessoas que amam, como em “O mundo é um moinho”.

Assim, a natureza dura dos morros, seja pelas marcas estruturais de uma desigualdade histórica, seja pelo contraste estético em relação à vida no asfalto, é ressignificada em suas canções. 

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Em “As rosas não falam”, Cartola propõe a presença de flores como interlocutoras vivas de um sujeito que se queixa de um abandono amoroso. Já em “Sala de Recepção”, quando homenageia a escola de samba que ajudou a fundar, a Mangueira, o autor se questiona como um lugar habitado “por gente simples e tão pobre / Que só tem o sol que a todos cobre” é capaz de cantar. 

Ao perceber o quanto a relação com a música é um alento para pessoas em situação de vulnerabilidade social e que possuem poucas perspectivas em relação à vida, Cartola vê o espaço da construção cultural do samba também como uma das maiores esperanças e possibilidades de acolhimento e de construção da identidade desses indivíduos.

Agrupando as canções

Alguns pesquisadores da obra de Cartola costumam analisar suas produções de acordo com o momento em que foram produzidas e com as características que elas apresentam em termos de melodia e conteúdo. 

As dez canções escolhidas pela Unicamp apresentam características similares, mas também diferenças principalmente no que se refere à temática principal que traduzem. Segundo a professora do Poliedro, um agrupamento possível entre essas canções poderia ser feito a partir de três eixos: 

  • O primeiro seria sua relação com o “Morro“, especialmente o Morro da Mangueira, onde cresceu e de onde tirou boa parte de suas inspirações. As músicas “Sala de Recepção” e “Alvorada” se encaixam nesse primeiro grupo. 
  • Na sequência, é possível sugerir a categoria “Tempo“, que incluem questões existencialistas, como uma associação entre as músicas  “O que é feito de você?”, “Silêncio de um Cipestre”, “O Inverno do meu Tempo” e “O Mundo é um Moinho”. 
  • Por fim, “Amor“, divisão em que poderiam entrar as canções “Sim”, “Cordas de Aço”, “Disfarça e Chora” e “As Rosas não falam”.

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Como as canções de Cartola podem ser cobradas pela Unicamp?

A inserção de composições de samba como leitura obrigatória manifesta uma preocupação latente da Unicamp com uma poesia de caráter popular, tanto em termos de linguagem, quanto no que se refere ao conteúdo e ao contexto dessas produções. 

Nesse sentido, a banca pode cobrar as canções de Cartola de diversas maneiras, seja por meio de uma análise da relação entre a letra da música e o contexto histórico de produção, seja a partir de intertextualidades ou mesmo de análises mais detidas a respeito da forma popular que se estabelece nessas composições. 

Também é possível estabelecer uma intertextualidade tanto com poetas românticos, como Casimiro de Abreu, que reflete sobre a nostalgia envolvida na passagem do tempo, quanto com Drummond, com poemas muitas vezes marcados pelo contraste entre a dureza da realidade social e a potência transformadora e afetiva da natureza.

+ Análise: redação nota máxima da Fuvest 2023 citou Drummond

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Cartola fala sobre amor, desigualdade social, a passagem do tempo. São dez as músicas do artista que podem ser cobradas nas duas fases da prova

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