Em 1789, um tribunal composto por desembargadores da Casa de Suplicação de Lisboa, julgou e condenou Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido pela alcunha de Tiradentes. Na manhã de 21 de abril de 1792, o herói da Inconfidência Mineira foi morto enforcado em praça pública. De todos os envolvidos, apenas Tiradentes foi executado. Seu corpo foi esquartejado e pregado em postes pelas ruas de Minas Gerais. Alguns estudiosos afirmam que essa foi uma manobra de Portugal para desmerecer o movimento e dar a entender que tudo não passou de uma aventura de um “dentista desequilibrado”, que convenceu outras mentes ilustres apenas com a lábia.
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No entanto, Tiradentes tornou-se um autêntico herói nacional. Foi adotado pelo movimento republicano, que o elegeu como mártir cívico-religioso e antimonarquista, fazendo prosperar as pinturas que o aproximam da imagem de Cristo. O 21 de abril se tornou feriado nacional em 1890, quando o Brasil já ostentava o título de República. Sua imagem como militar patriota foi exaltada tanto pelo governo militar, em 1965, como pelos movimentos de esquerda, que o consideravam um símbolo de rebeldia.
Para recuperar a importância de Tiradentes e numa tentativa de “reparar” um erro histórico, no próximo dia 21 de abril, o Tribunal de Justiça (TJ) do Rio de Janeiro fará um novo julgamento simbólico do mártir em uma encenação teatral que acontecerá no Salão do Tribunal do Júri do Antigo Palácio da Justiça. A peça ‘O desenforcamento de Tiradentes: Justiça ainda que tardia’ vai realizar um júri popular, no qual Joaquim José da Silva Xavier será novamente réu. Mas seu destino será diferente, pelo menos dessa vez. Ao fim da peça, Tiradentes será “desenforcado” e “desesquartejado”.
O evento foi idealizado pelo professor, historiador e escritor Joel Rufino, diretor-geral de Comunicação e Difusão do Conhecimento do TJ. Segundo ele, a intenção é “atualizar, para 2015, a luta e o sacrifício do Tiradentes”. “Nós queremos propor uma reflexão sobre temas que eram discutidos na época e trazê-los para os dias atuais: liberdade, justiça, dominação estrangeira, abuso fiscal”, avalia Rufino, que acrescenta: a classe social ao qual Joaquim José da Silva Xavier pertencia – ele era uma espécie de sargento de polícia – pode ter contribuído para que sua sentença tivesse mais dura do que a dos demais inconfidentes. Eles foram condenados à morte, mas suas penas foram comutadas em chibatadas e degredos para a África”, explica o professor.
O elenco será composto por pelo menos oito atores e nomes de peso do Direito nacional. O ator Milton Gonçalves será Tiradentes e o papel de juiz será interpretado pelo desembargador Claudio dell’Orto. “É um ato simbólico, em que o TJRJ pretende demostrar que esses temas, que foram os temas da Inconfidência Mineira, relacionados à liberdade do Brasil, à questão da exploração, toda a questão colonial, do colonialismo, dessa questão também, do patrimonialismo e da corrupção, permearam a história do Brasil; e Tiradentes foi, na verdade, um insurgente contra esse modelo colonialista que havia naquela época”, disse o desembargador à Rádio EBC.
O espetáculo do desenforcamento do Tiradentes será realizado às 14h do dia 21 no Salão Histórico do 1º Tribunal do Júri, localizado na Rua Dom Manuel, 29. Em seguida, haverá um cortejo que seguirá até a Praça Tiradentes (onde Joaquim José foi enforcado), no Centro do Rio. A direção da peça é de Silvia Monte, que também é responsável pelo Centro Cultural do Poder Judiciário (CCPJ-Rio).