Nesta terça-feira (6), será exibido o primeiro dos dois episódios especiais de Sob Pressão: Plantão Covid-19. A série, que estreou em 2017 na TV Globo, narrou, ao longo das três temporadas, histórias fortes na emergência de um hospital público, envolvendo diversas doenças, falta de recursos e problemas sociais, como abuso infantil, violência e milícias. Neste especial, inevitavelmente, o tema será a pandemia da covid-19.
Em um hospital de campanha cenográfico com mais de 40 leitos em mil metros quadrados, o elenco, encabeçado por Marjorie Estiano, intérprete da Dra. Carolina, e Julio Andrade, que dá vida ao médico protagonista Evandro, homenageará os profissionais da saúde que estão atuando na linha de frente da crise causada pelo novo coronavírus.
Além da homenagem, a série vai continuar a discussão central das outras temporadas: a realidade do sistema público de saúde brasileiro. É o que mostra o teaser acima, em que o médico Evandro (Julio Andrade) fala em adaptar um respirador para conseguir que ele seja utilizado por dois pacientes, já que não há aparelhos suficientes para todos.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o médico Marcio Maranhão, autor do livro “Sob Pressão – A Rotina de Guerra de um Médico Brasileiro”, que deu origem ao filme, e que posteriormente virou série, explica que mesmo escancarando os graves problemas, a produção reforça a importância do sistema público de saúde no Brasil, o SUS.
“A gente tem um desempenho muito trágico em relação à pandemia, mas estaríamos muito pior se não fosse a saúde pública brasileira”, afirmou Maranhão ao jornal. Ele também ajudou no roteiro e atuou como consultor dos programas especiais.
Como o SUS funciona?
O Sistema Único de Saúde (SUS) é o sistema público de saúde do Brasil. Ele proporciona o acesso universal à saúde, ou seja, todos, sem exceções, podem usar os serviços oferecidos por ele sem nenhum custo. Mesmo aqueles que têm acesso à saúde suplementar (planos de saúde) não perdem o direito de usufruir do sistema público. Estrangeiros que estiverem no Brasil e precisarem de alguma assistência também podem utilizar toda rede do SUS gratuitamente.
Antes de sua criação por meio da Constituição de 1988, motivada pela pressão dos movimentos sociais que entenderam que a saúde é um direito de todos, apenas trabalhadores vinculados à Previdência Social tinham acesso ao serviço público de saúde. Atualmente, o SUS é considerado um dos maiores sistemas do gênero no mundo e atende a mais de 190 milhões de pessoas, sendo que 80% dependem exclusivamente dele para qualquer atendimento de saúde.
Se quiser saber mais da história do SUS, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) criou um infográfico com os principais marcos.
O modelo de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) é descentralizado: de forma integrada, os três Poderes, Governo Federal (União), Estados e Municípios, dividem a responsabilidade de fazer o sistema funcionar.
Os percentuais de investimento financeiro das três esferas de poder são definidos atualmente pela Lei Complementar nº 141, de 13 de janeiro de 2012. Ela determina que municípios e Distrito Federal devem aplicar anualmente, no mínimo, 15% da arrecadação dos impostos em ações e serviços públicos de saúde e os Estados, 12%. Já a contribuição da União deve corresponder ao valor empenhado no exercício financeiro anterior, acrescido do percentual relativo à variação do Produto Interno Bruto (PIB) do ano antecedente ao da lei orçamentária anual. Com isso, o sistema garante aumento de investimentos quando a economia vai bem.
Sim, você já usou o SUS
Os serviços oferecidos pelo SUS vão muito além do que a maioria da sociedade imagina. A ideia equivocada de que o sistema único se limita ao atendimento no hospital público e quem tem plano de saúde não precisa contar com a rede gratuita começou a ser debatida nas redes sociais com memes e linguagem informal.
Para a médica e sanitarista Ana Figueiredo, especialista em vigilância sanitária, é paradoxal que, mesmo tendo sido confusa e precária a resposta do SUS à covid-19 (como será retratado em Sob Pressão), pela primeira vez, a percepção da importância do sistema público universal entrou na cabeça das pessoas. “Elas estão vendo que ninguém precisa ter plano de saúde para se internar em uma UTI durante a pandemia”.
Reportagem do jornal O Globo mostrou que em abril e maio, mais de 280 mil pessoas deixaram planos de saúde e agora contam apenas com o atendimento médico do SUS. A maioria delas pararam de pagar porque perderam seus empregos ou sofreram quedas bruscas nos rendimentos.
Sim. Serviços como a vigilância sanitária, os centros de transplantes e o SAMU são de responsabilidade do SUS. Poucos sabem, mas todos usam.