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“São Bernardo” – Análise da obra de Graciliano Ramos

Entenda os principais aspectos da obra

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 12 abr 2018, 15h34 - Publicado em 17 set 2012, 01h16

– Leia o resumo de São Bernardo

A perda da humanidade

Publicado em 1934, “São Bernardo” é tido como um dos maiores representantes da segunda fase do Modernismo brasileiro. Nos anos conturbados das décadas de 1930 e 40, com crises econômicas, sociais e políticas em todo o mundo, os artistas voltaram-se para as temáticas sociais. No Brasil, os romances dessa época tinham um caráter regionalista, tratando principalmente dos problemas do Nordeste do país, tais como a seca, os retirantes, a miséria e a ignorância do povo.

Porém, apesar do pano de fundo de “São Bernardo” ser os problemas do sertão, Graciliano Ramos foi muito além disso, criando uma obra com uma densa carga psicológica. Para alcançar sua ascensão social, Paulo Honório abre mão de sua humanidade. Endurecido pelas dificuldades do meio onde vive, ele se torna um homem rude, bruto e violento.

Narrado em primeira pessoa, todo o romance irá se desenvolver centrado em dois planos diferentes: o Paulo Honório narrador e o Paulo Honório personagem. Esses planos ficam evidentes através do tempo verbal utilizado na narrativa: o Paulo Honório narrador é demarcado pelo uso do tempo presente; já o Paulo Honório personagem é demarcado pelo tempo pretérito. O narrador irá se debruçar sobre seu passado, tentando entender a si mesmo, ao mundo e como ele se relaciona com esse mundo exterior.

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O narrador expõe no primeiro capítulo como ele planejava contar sua história, delegando funções para pessoas mais cultas. Porém, Paulo Honório descobre que este método de escrita é falho, pois ninguém falava da forma como estava escrito e ele não se via representado ali. A partir de então, ele mesmo resolve tomar a frente e escrever suas próprias lembranças. Através desse processo metalinguístico de exposição do projeto de escrita do livro, coloca-se o próprio ato de escrever em discussão.

Porém, ao contrário do que se pode imaginar, a linguagem utilizada na narrativa não é desconexa e nem tosca. Pode-se dizer, então, que há uma certa inverossimilhança na obra, pois como um homem rústico, que se diz quase analfabeto, iria escrever um texto tão bem escrito? Mas, apesar de esta crítica ser pertinente, observa-se que a linguagem utilizada é extremamente enxuta e direta, o que, além de ser típica do estilo do próprio Graciliano Ramos, combina com Paulo Honório.

De origem humilde, Paulo Honório não mediu esforços para conseguir sua ascensão social, utilizando muitas vezes de meios antiéticos, como ameaças, assassinato e roubo. Sua visão de mundo é totalmente centrada em uma relação de poder entre “opressor” e “oprimido”. Para ele, o que importa é “ter”. Essa visão de mundo entra em choque com a de sua esposa, Madalena, que é da esfera do “ser”, ou seja, ela não se preocupa com posses, mas com a qualidade e dignidade humanas.

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Por fim, Paulo Honório não consegue compreender o mundo de sua esposa e a acusa de infiel e “subversiva”; por sua vez, Madalena não consegue resgatar Paulo Honório de sua desumanidade. Sem sua esposa e abandonado também pelos amigos, Paulo Honório assume em partes seus erros que levaram à tragédia que se abateu sob a fazenda São Bernardo. Porém, ele joga a culpa de seu endurecimento, de sua perda da humanidade no ambiente em que vive.

Comentário do professor
O prof. Marcílio Lopes Couto, do Colégio Anglo, lembra que “São Bernardo” é uma obra narrada em primeira pessoa, onde o narrador também é a personagem central da história: Paulo Honório. Este é um homem que se vê abandonado e resolve refletir sobre seu passado e escrever um livro. Para tal, ele contrata especialistas, mas, por não se ver refletido naquele português escrito de modo afetado, decide escrever por si mesmo. Paulo Honório é um homem que vai acumulando coisas em sua vida de modo frio, inclusive seu casamento com Madalena, e muitas vezes antiético. Vivendo na esfera do “ter”, ele não consegue compreender sua esposa, que é mais preocupada com o “ser”, e isso acaba destruindo seu casamento de diversas formas, até que Madalena se suicida.

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Assim, destaca o prof. Marcílio, “São Bernardo” é uma obra que mergulha na alma humana no que ela tem de mais sombrio. Com uma decadência material e uma fragmentação psicológica, Paulo Honório vai tentar quem ele é e porquê tudo aquilo aconteceu. Dessa forma, mais do que tratar somente das questões sociológicas, esta obra se aprofunda muito em discussões psicológicas. Além disso, o professor destaca que ao contrário de Vidas Secas, que é narrado do ponto de vista do oprimido (Fabiano), “São Bernardo” é narrado do ponto de vista do opressor, que é Paulo Honório.

No vestibular, os alunos devem ficar atentos à questões que dizem respeito à caracterização de Paulo Honório, pois ele não diz quem é ou como ele é de forma direta, mas sim através da narrativa. Ou seja, ele não fala de seus próprios defeitos, mas através de sua relação com o mundo a seu redor pode-se depreender como é Paulo Honório. Por fim, por mais que a linguagem de Paulo Honório possa soar inverossímil, pois tem um certo rebuscamento para quem se considera semianalfabeto, a forma que ele escreve é fiel a sua personalidade. Isso porque a linguagem é “sem enfeites”, seca, direta e reduzida ao essencial, o que combina com a personalidade de Paulo Honório, que é um homem rude e seco, e também com o próprio estilo de Graciliano Ramos, finaliza o prof. Marcílio.

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Estudo
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