Quem foi Ruth de Souza, personagem de ‘Garota do Momento’ que marcou a história na vida real
A atriz mudou para sempre o cinema, a televisão e o teatro brasileiro. Conheça sua trajetória

Quem acompanha a novela “Garota do Momento“, exibida na faixa das 18h na Rede Globo, foi apresentado há alguns capítulos a uma nova personagem: Ruth de Souza. Na novela, Ruth é uma atriz em ascensão, que junto com o Teatro Negro Experimental (TNE) está transformando a cena da dramaturgia. E se te contássemos que Ruth, na verdade, é uma das figuras mais importantes do teatro, cinema e televisão brasileira, e que ela fez tudo isso na vida real?
Pois é, se hoje o Brasil comemora a indicação de Fernanda Torres ao Oscar de melhor atriz, também é graças a essa grande pioneira. Ruth foi a primeira atriz brasileira a ser indicada a um prêmio internacional, no Festival de Veneza de 1953, por seu papel em “Sinhá Moça”.
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Também acumulou prêmios nacionais e diversas homenagens por sua contribuição artística e para o movimento negro. Em diversas entrevistas, Ruth lembra que quando decidiu que gostaria de ser artista, ainda criança, recebeu comentários de desaprovação e deboche. “Muitos riram de mim, se divertiam à minha custa, dizendo que não havia artistas negros”, afirmou em conversa com Maria Angela de Jesus para o livro “Ruth de Souza, estrela negra”.
Com resignação, provou o contrário, mas não deve ser reconhecida somente como uma “atriz negra batalhadora”, como afirmou certa vez o professor, advogado e político Artur da Távola, grande amigo de Ruth:
O artista de alta qualidade possui um dom misterioso, o carisma de chegar aos demais sem qualquer explicação, mas também depois de todas as explicações. Ruth de Souza possui essa marca divinatória, o carisma. Ela não é apenas uma atriz negra batalhadora. É uma grande atriz, matéria bem mais complexa.
Artista nata
A habilidade de contar histórias, essencial para quem interpreta, já fazia parte da vida de Ruth desde a sua infância. Nascida em 12 de maio de 1921 no Rio de Janeiro, mudou-se com a família para Minas Gerais quando ainda tinha poucos meses de vida. Nove anos depois, regressou à cidade natal, após a morte do pai. A partir de então, sua mãe passou a sustentar os filhos trabalhando como lavadeira. Ruth morava em uma pequena vila de trabalhadoras em Copacabana, e foi na cidade maravilhosa que começou a ter contato com a arte.
“Quando cheguei ao Rio, a primeira coisa que me deixou encantada foi o cinema. Minha mãe me levou para ver o primeiro filme da minha vida, Tarzan, o Filho da Selva, com Johnny Weissmuller. Fiquei deslumbrada!”, relata no livro “Ruth de Souza, estrela negra”.
Alaíde Pinto de Souza, mãe da atriz, vivia com o dinheiro de casa contado, mas fazia questão de estimular essa formação da filha. Além das idas ao cinema, Ruth também passou a frequentar óperas e peças de teatro, sempre com ingressos que Alaíde ganhava das patroas. Ao chegar em casa, contava para a mãe, com riqueza de detalhes, tudo que havia visto.
Cada dia mais, a jovem tinha a certeza de que pertencia aos palcos. Seu destino confirmou-se quando resolveu procurar o Teatro Negro Experimental (TNE), uma companhia fundada por Abdias Nascimento e composta apenas por atores negros. Em seu primeiro teste, foi aprovada e apresentou-se no Teatro Municipal do Rio de Janeiro com a peça “O Imperador Jones”, em 1945.

Ruth de Souza não parou mais. Ao longo do caminho, cruzou com pessoas que se fascinaram por seu talento e lhe abriram portas. Uma delas foi o escritor Jorge Amado, que a escolheu para estrelar a adaptação do seu livro “Terras do Sem-Fim” nos cinemas. Naquele mesmo ano, em 1948, também foi indicada por Paschoal Carlos Magno para uma bolsa de estudos da Fundação Rockefeller, e passou um ano nos Estados Unidos estudando na Universidade Howard – uma instituição historicamente negra.
Segundo ela, foi uma das experiências mais marcantes de sua vida.
“Quando menina, li uma matéria sobre a Harvard University, em Washington, na revista Life. Tinha uma foto belíssima, que mostrava estudantes negros, muito elegantes na frente da universidade. Durante anos alimentei o sonho de um dia poder frequentar um lugar como aquele. Anos mais tarde, quando fui estudar nos Estados Unidos, me senti entrando naquela foto da Life, naquele recorte de revista que vinha guardando fazia anos”
Ao longo de sua carreira, Ruth fez mais de 40 papéis na televisão e participou de filmes dirigidos por grandes nomes como Edmond Francis Bernoudy, Tom Payne, Aluísio Abranches e Walter Salles. Seu último trabalho foi na minissérie “Se Eu Fechar os Olhos Agora”, exibida no começo de 2019. Ruth faleceu em 28 de julho de 2019.
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