Se o acesso à educação não era igualitário, agora em meio à pandemia e no cenário do ensino a distância, as coisas ficaram ainda menos justas. Claro que para acabar com o problema são necessárias medidas maiores por parte das autoridades, mas os próprios estudantes têm criado projetos importantes para amenizar a desigualdade e ajudar quem sonha entrar na universidade, mas tem pouquíssimos recursos.
É o caso destas quatro iniciativas que o GUIA separou para explicar como funcionam. São exemplos de solidariedade e, ao mesmo tempo, dicas para quem precisa de alternativas gratuitas e acessíveis.
Estudar é Resistir
A universitária e youtuber de educação Débora Aladim, que se posicionou fortemente a favor do adiamento do Enem em suas redes sociais, criou o curso Estudar é Resistir. O objetivo é auxiliar os estudantes que não estão conseguindo estudar sem o amparo da escola. “Por conta desse momento em que estamos vivendo, estudar se tornou um ato de resistência”, afirmou no vídeo de divulgação do curso.
Para participar é preciso pagar apenas R$ 1,99, valor mínimo para os vídeos ficarem hospedados na plataforma. Débora garante que nenhum valor será repassado para ela. O curso é formado por quatro aulas, nas quais Débora fará um resumão sobre redação simplificada, com várias dicas e macetes, e reservará uma aula para falar sobre interpretação de textos e imagens. Além de uma aula sobre organização e motivação para ajudar os alunos na rotina.
O curso ainda é composto por uma aula de Matemática, ministrada pelo também youtuber de educação Umberto Mannarino. Para completar, os vídeos são acompanhados por materiais de apoio em pdf, com conteúdos das aulas e dicas de organização.
Para participar, o estudante precisa entrar no site da Débora Aladim e adquirir o curso. Quando a compra for aprovada, será enviado um e-mail para acessar o conteúdo. Ficará disponível por um ano após a data da compra.
Quarentenáticos
A atriz Giovanna Coimbra, junto com a amiga Nick Câmara, decidiu compartilhar seus conhecimentos de matemática e ajudar alunos de escolas públicas que estão se preparando para o Enem durante a quarentena. Então, a jovem, de 20 anos, estudante de engenharia civil na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) criou no Instagram o perfil Quarentenáticos, em que posta conteúdos, dá aulas ao vivo e tira dúvidas.
Além de postagens no feed com os principais conteúdos, elas deixaram um link disponível na descrição do perfil, para que estudantes possam colocar suas dúvidas imediatas sobre qualquer assunto dentro do cronograma programático de matemática do Enem.
Expansão do cursinho popular
Os cursinhos populares sempre foram uma esperança para os alunos que precisavam reforçar o estudo para lutar pela vaga na faculdade, mas não conseguiam pagar por mais aulas ou ferramentas necessárias. Conscientes desse papel, voluntários de cursinhos populares encontraram maneiras de continuar o trabalho durante o isolamento social.
O Cursinho Carolina Maria de Jesus, que atende jovens das periferias de São Carlos (SP), também precisou adaptar suas metodologias para o ensino remoto. Para ajudar na adaptação, os voluntários criaram uma área no site com um tutorial de aulas a distância, explicando como a rotina funcionaria durante a pandemia. Além de garantir o conteúdo para os seus 120 alunos atendidos antes do isolamento, eles ampliaram, disponibilizando aulas, exercícios e plantões para todas os estudantes interessados.
No site, eles explicam que “a única diferença é que os alunos do cursinho terão prioridade na correção de exercícios e redações, mas, dependendo da demanda, todos poderão ser atendidos”. Nas redes sociais também são promovidas conversas abertas sobre temas atuais e relevantes.
Aluno Ensina
A ideia de criar um cursinho online gratuito já estava forte nos planos dos estudantes Marcio Henrique de Jesus Oliveira e Deir Grassi, do segundo ano de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia. O primeiro deles, jovem da periferia, conseguiu sua vaga graças à ajuda dos professores voluntários do MedEnsina, curso comunitário (gratuito) organizado por alunos da Faculdade de Medicina da USP. Já Deir sempre teve uma realidade diferente do amigo, com mais recursos, mas também enxergou a educação como instrumento de transformação e a importância de democratizá-la, de alguma forma.
A pandemia, e, consequentemente, a suspensão de aulas presenciais, acabou acelerando o início desse projeto. E, assim, em meio ao cenário complicado, nasceu o Aluno Ensina. A plataforma reúne videoaulas de diversos conteúdos para o Enem e os principais vestibulares, acompanhadas por lista de exercícios e resoluções de provas dos anos anteriores.
O curso, ainda, conta com um módulo de planejamento, técnicas e metodologias de estudo. Além de tratar sobre desenvolvimento pessoal, profissional e acadêmico. A ideia também é trazer coisas úteis, como educação financeira, que muitas vezes não fazem parte da formação dos jovens durante a educação básica. “O curso ajuda quem quer passar no vestibular, mas também é uma porta de saída para quem está terminando o Ensino Médio e não quer se enquadrar no contexto de já entrar direto em uma faculdade, mas deseja começar a empreender, por exemplo”, explica Marcio.
Com menos de dois meses de projeto, eles contam com a ajuda de 50 professores voluntários, a maioria deles universitários, 90 corretores de redação, e mais de 3.300 alunos matriculados. Marcio afirma que estão analisando o funcionamento da plataforma, para abrirem mais vagas futuramente, atendendo todos com qualidade.
“Sabemos que 70% dos alunos da rede pública não têm acesso à internet e, por isso, fica difícil falar de democratização. Mas acreditamos que futuramente vamos conseguir ajuda para levar computador e internet para a galera que quer estudar e não tem condições”, afirma Marcio. Ele acredita que não basta passar no vestibular, mas entender que o estudo é uma ferramenta de transformar coisas que estão no seu alcance. “Ajudar não é caridade, é nossa função social”, completa.
Mais ajuda! Voluntários nas redes sociais
Além de projetos gratuitos, universitários, educadores ou mesmo quem simplesmente já passou pela experiência do vestibular se oferecem para tirar dúvidas, corrigir uma redação ou mesmo propiciar um lugar de apoio e escuta para quem enfrenta a prova esse ano. E assim, por meio do Whatsapp, Instagram ou Facebook, as correntes de solidariedade ganham cada vez mais adeptos. O GUIA conversou com alguns voluntários, que estão fazendo a diferenças nesse momento tão difícil. Confira a matéria completa.
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