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Por que comemos ovos de chocolate durante a Páscoa?

Chocolates, em formato de ovos, são entregues por um coelho durante um feriado cristão? Entenda como surgiu essa tradição curiosa

Por Luccas Diaz
30 mar 2024, 19h00
gôndola suspensa de ovos de páscoa no supermercado
 (Marcelo Camargo/Agência Brasil/Reprodução)
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Vamos combinar: há uma grande distinção alimentar entre um ovo e um chocolate. Os dois alimentos são presentes o ano todo nos pratos ao redor do mundo, mas é somente durante um período do ano que eles se cruzam e mesclam. Combinar as duas coisas é uma ideia, no mínimo, peculiar, mas tornou-se tão comum que sequer paramos para pensar em seu significado. É claro que estamos falando da Páscoa e de seus famosos ovos de chocolate. Já se perguntou por que comemos o doce durante o feriado?

Neste texto, o GUIA DO ESTUDANTE traz a resposta para essa curiosidade – e, de quebra, te ensina um pouco mais sobre a influência das culturas europeias durante os séculos 19 e 20.

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Feriado pagão incorporado pelo Cristianismo

A deusa Ostara
Deusa nórdica Ostara era associada ao período. Seu nome deu origem ao nome da celebração: Páscoa é “Easter”, em inglês (Wikimedia Commons/Reprodução)

Como explicamos neste outro texto, a origem da Páscoa remonta aos tempos anteriores ao cristianismo. Ainda que hoje seja associada à figura de Jesus Cristo, a data é ainda mais antiga. A festa era uma celebração para a chegada da primavera, em nome de comemorar o fim do inverno (no Hemisfério Norte; verão, no Sul) e o renascimento da natureza, com as colheitas florescendo novamente.

Por esse motivo, os ovos eram um símbolo associado ao período, especialmente por representarem fertilidade e renovação – o início da vida após um período de dificuldades. Em algumas culturas, o coelho, ainda que nada tenha a ver com os ovos, também foi associado à celebração, uma vez que é um dos mamíferos que se reproduzem com mais rapidez e facilidade.

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Com a chegada – e predominância – do cristianismo, essas celebrações foram incorporadas ao período que comemora a ressurreição de Jesus Cristo, o filho de Deus. Definiu-se, então, que a data seria anualmente comemorada, sempre no domingo seguinte à primeira Lua Cheia do início da primavera/outono. Esse, inclusive, é o motivo que explica porque o feriado cai em diferentes datas todos os anos.

Ainda que, para o cristianismo, a figura dos ovos (muitas vezes, com as cascas decoradas) e dos coelhos não tenha sido incorporada ao feriado religioso, o teor lúdico das duas figuras garantiram a sua resistência na cultura popular. Surgiram até mesmo lendas que juntaram as duas, como a que conta que um coelho traz doces e ovos coloridos para as crianças na manhã de Páscoa.

 

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Introdução do ovo de chocolate

Se até este momento a explicação para os ovos da Páscoa estava cheia de elementos culturais e folclóricos, o porquê da introdução do chocolate será um pouco menos lúdica – e mais capitalista. Ao longo da História, o cacau, principal matéria-prima por trás do chocolate, sempre foi um alimento prestigiado e associado a momentos sagrados ou de celebração. No Império Asteca, era consumido em formato de bebida, tendo as suas propriedades medicinais associadas a momentos cerimoniais e religiosos. Os grãos chegaram a ser moeda de troca para bens e serviços.

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No século 16, quando os europeus chegaram na América e se depararam com esses costumes, não demorou para que incluíssem na exploração das colônias o comércio de cacau para o velho continente. A bebida indígena era considerada amarga demais, mas em pouco tempo, os espanhóis já passaram a misturar açúcar para deixá-la mais doce e alinhada aos paladares europeus. A demanda pelo produto se tornou crescente, e logo virou uma febre entre as monarquias e as camadas mais nobres da sociedade.

+ A história do cacau e o trabalho escravo nos mercados de chocolate

Nos séculos seguintes, a produção e comercialização só evoluiu. A adição do leite foi uma das mais importantes etapas para se chegar ao formato que conhecemos hoje. Nessa jornada, alguns países ficaram famosos por contribuir para a popularização do alimento, como Alemanha, Bélgica e Suíça. No século 19, as indústrias desses países foram pioneiras a refinar a produção de chocolate, com máquinas que introduziam novas técnicas de moagem, prensa, temperagem e conchagem. Esta última, inclusive, foi criada por Rodolphe Lindt, o fundador da marca de chocolates que existe até hoje.

A evolução das máquinas permitiu que a produção fosse barateada e, consequentemente, popularizada para as camadas além da monarquia e da nobreza. Assim, na segunda metade do século 19, com os preceitos do capitalismo já reinando sobre o mercado, os proprietários das fábricas viram na Páscoa uma oportunidade de transformar um dos seus símbolos mais famosos em chocolate. O alimento, afinal, fora sempre associado a momentos de felicidade e celebração, e a tecnologia das máquinas já permitia a modelação e a personalização do chocolate.

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Nascia, assim, na década de 1870, os chocolates em formato de ovo, que mais tarde ficaram conhecidos mundialmente como ovos de Páscoa.

Importado para o Brasil

ovos de chocolate na década de 1960
Mercearia Carioca expõe ovos de Páscoa, década de 1960 (Zeca Silvares/Facebook/Reprodução)

A importação do costume para o Brasil não tem grandes mistérios. Assim como os Estados Unidos é para os dias de hoje, a Europa era a grande lançadora de tendências no século 19 e 20. A máxima valia ainda mais se tratando de países colonizados por europeus, uma vez que já tinham enraizados em sua cultura alguns costumes e hábitos do Velho Continente. O Brasil, colonizado por Portugal, era um desses. 

O costume de presentear ovos de chocolate chegou por aqui entre o fim do século 19 e o início do século 20. No entanto, era restrito somente às camadas mais altas da sociedade, visto que o produto não era fabricado no país e tinha que ser importado. Os altos custos de logística, somados ao próprio preço do produto, faziam com que somente a elite tivesse acesso à iguaria.

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A partir das décadas seguintes, com o desenvolvimento da indústria nacional de chocolates, os ovos passaram a ser comercializados entre o público geral. Foi durante a década de 20 que marcas nacionais como Lacta, Kopenhagen e Garoto nasceram por aqui. A abundância de cacau nas plantações brasileiras incentivou a chegada de grandes nomes estrangeiros, como a suíça Nestlé, em 1959.

Em 1940, o primeiro ovo de Páscoa brasileiro foi lançado pela Lacta, embrulhado em papel celofane e vendido em lojas especializadas e supermercados.

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Chocolates, em formato de ovos, são entregues por um coelho durante um feriado cristão? Entenda como surgiu essa tradição curiosa

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