Por onde começar a ler Freud? Veja 4 obras ideais para iniciantes
Inconsciente, histeria, desejo... Antes de encarar os textos mais difíceis, veja por quais livros começar sua leitura de Freud

Você já deve ter ouvido falar dele por aí: Sigmund Freud. O nome aparece em aulas de Filosofia, em filmes, séries e até em memes de internet. Mas por que, afinal, ele é tão importante? Segundo Lucas Maciel, psicanalista, psicólogo e professor mestre pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS): “Freud foi aquele que ousou desafiar a medicina da época ao levar em conta o doente antes da doença. Ao escutar pacientes com sintomas de histeria – considerados incuráveis na época – ele percebeu que, por meio da fala, o sofrimento podia se transformar”.
Foi assim que nasceu a psicanálise, uma nova forma de entender o ser humano e seus desejos mais profundos. E a grande virada da teoria freudiana foi esta: o “eu” não é o dono da própria casa.
Ou seja, nossas ações e decisões são influenciadas por algo maior e invisível – o inconsciente. “Freud desmonta a tese de que somos seres totalmente racionais. A proposta da psicanálise é investigar o desejo recalcado que nos movimenta na vida”, explica Lucas.
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Freud na redação (e na vida!)

Ok, mas por que vestibulandos deveriam se interessar por Freud?
Além de ter influenciado profundamente a Psicologia, Freud também deixou marcas fortes na Filosofia, na Literatura, nas Artes e até na forma como a gente pensa a sociedade.
“Freud nos legou um espírito científico, de um pesquisador que não teme desafiar certezas nem rever suas próprias teorias. Ele foi um autor generoso ao expor não só suas descobertas, mas também seus erros”, destaca o psicólogo.
E mais: seus textos são organizados, recheados de argumentos e super úteis para quem quer escrever bem e sustentar boas ideias na redação.
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Não é autoajuda, nem explicação para tudo
Lucas faz questão de lembrar: “A psicanálise não é uma receita de bolo. Freud não entendia a psicanálise como uma visão de mundo, mas como um método de investigação do inconsciente. Utilizar Freud para explicar por que fazemos o que fazemos é desconsiderar seu valor: o de pensar as pessoas em suas singularidades.”
A psicanálise não acredita em soluções mágicas ou frases prontas – pelo contrário.
Para Freud, cada pessoa tem sua própria forma de se relacionar com o mundo. “Como nos alertava Freud, a uma pessoa que sofre bastaria escutar uma palestra… e a gente sabe que não é bem assim”, diz o psicanalista.
Por onde começar a leitura?
Que tal começar a ler Freud? Muita gente trava quando pega um texto dele pela primeira vez. Mas calma, dá para começar sem surtar — e até gostar! Lucas Maciel indica quatro textos fundamentais e acessíveis (tem para download de graça!). Confira aqui!
1. Psicopatologia da Vida Cotidiana (1905)
Este livro foi o que tornou Freud mais conhecido na comunidade científica, sendo uma das obras mais acessíveis dele. Aqui o autor vai em busca de nos trazer exemplos da vida cotidiana aparentemente banais, como esquecimentos de nomes e equívocos, que são cometidos na vida de pessoas consideradas saudáveis, mas que teriam relação direta com o inconsciente.
Ele traz exemplos da própria vida, de seus pacientes, de colegas e pessoas em geral, escrevendo num linguajar mais informal, desprovido de termos técnicos.
“Nessa obra, Freud demonstra de que maneira as motivações inconscientes podem estar por trás de uma chave trocada, por exemplo, abordando assim os limites entre o normal e o patológico. É um dos textos fundadores de seu método que traz fenômenos presentes no dia a dia de todos nós, como uma evidência de que a psicanálise pode ser um método para tratar de sintomas tanto quanto a medicina”, fala Lucas.
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2. Cinco lições de Psicanálise (1910)
Aqui temos uma introdução acessível aos conceitos-chave da psicanálise. A obra se divide em cinco partes e apresenta a história e os fundamentos desta disciplina, bem como a análise de casos com explicações sobre a teoria psicanalítica. Freud dá ênfase no poder do inconsciente.
“Ele aborda as noções de trauma, sintoma, histeria, a função dos sonhos e dos lapsos na clínica e ressalta a importância dos mestres que o formaram, mas também o seu abandono da hipnose e seu investimento na cura pela palavra”, conta o especialista.
É um texto que traz elementos importantes para pensar a técnica psicanalítica e para oferecer um panorama sobre as descobertas freudianas.
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3. Psicologia das Massas e Análise do Eu (1921)
Neste livro, Freud aborda a questão sobre o que faz um grupo se manter unido, coeso, e vai em busca de compreender as relações de poder que se estabelecem nas massas por intermédio de um líder.
“O autor quer compreender o que leva as pessoas a colocarem suas vidas nas mãos de um líder autoritário, se despindo, muitas vezes, da capacidade de pensar de maneira individual e agindo de maneiras ilógicas em nome de uma causa”, ressalta o psicólogo.
Uma leitura importante para pensarmos os discursos de dominação que se propagam desde sempre e que ficam mais evidentes em eleições ou em delitos cometidos por grupos. É um grande tratado sobre os problemas das relações humanas e que oferece formas de pensar uma sociedade mais livre e menos reprimida.
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4. O mal-estar na cultura (1930)
Esta é uma obra fundamental para pensar as relações do homem com a cultura. Freud vai trabalhar a questão da busca pela felicidade e pela ausência de sofrimento, que acaba, muitas vezes, levando o homem a adoecimentos ainda maiores.
“O autor vai afirmar que viver em sociedade pode causar angústia porque nos choca com a relação com os outros, com a convivência que exige que não tenhamos toda satisfação em troca de alguma segurança e ordenamento social”, afirma Lucas.
Lidar com o nosso próprio corpo e com a finitude, mas também com a natureza e sua imprevisibilidade, são desafios que afastam o homem de ser feliz. É um texto sempre atual porque toca em temas que sempre foram de interesse da humanidade e que nunca saem de moda.
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