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“Os cem melhores poemas brasileiros do século” – Análise

Entenda os principais aspectos da obra

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 12 abr 2018, 15h51 - Publicado em 17 set 2012, 00h12

– Leia o resumo de Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século

“Poema de sete faces”, Carlos Drummond de Andrade
Publicado originalmente no livro “Alguma poesia”, de 1930, este poema pode ser lido como uma autobiografia do poeta. As “sete faces” do título são trabalhadas em cada uma das sete estrofes do poema, onde vemos o eu-poético em conflito com o mundo. Trata-se do gauche (do francês, “esquerdo”), do indivíduo desajustado no mundo, que não consegue se situar no contexto social.

As sete estrofes são independentes entre si e não têm uma unidade temática. Além disso, ao intercalar humor e ironia, subjetividade e objetividade, harmonia e desarmonia, pode-se dizer que o objetivo final da palavra nesse poema não é o da comunicação, mas sim o de criar sensações e estranhamentos no leitor.

Na primeira estrofe o poeta se insere no poema ao dar seu próprio nome, Carlos, ao eu-lírico. O “Eu” tem o destino de ser gauche, ou seja, estar à margem da sociedade, desajustado com o mundo em que vive. Na segunda estrofe passa-se para a questão do desejo individual dos homens, que muito maior do que isso é a questão da coletividade, que aparece na terceira estrofe. O eu-lírico reclama a um deus que não lhe dá atenção, que o abandonou impotente perante as adversidades do mundo. E, frente essas adversidades, o poeta declara a incapacidade da poesia de dar uma solução ao mundo (“seria uma rima, não seria uma solução”). Porém, ao utilizar uma rima (“solução” e “coração”) logo depois de dizer que as rimas de nada adiantariam, o eu-lírico cai em contradição e em um ciclo vicioso: a poesia pode ser impotente, mas cá estou eu a fazer poesia.

“Vou-me embora pra Pasárgada”, Manuel Bandeira
Pasárgada representa no poema uma espécie de paraíso, onde o eu-poético poderia alcançar a felicidade. Para tanto, Bandeira faz uso de uma construção muito comum em sua poética que é a contraposição de dois pontos extremos: o que se nega e o que se deseja, o presente e o imaginário. Através dessa oposição, cria-se a possibilidade de um futuro onde se tem liberdade e felicidade, um local onde qualquer carga social não existe.

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Outra característica da poesia de Manuel Bandeira que aparece nesse poema é a presença do erotismo. Em Pasárgada tem-se também a liberdade sexual e amorosa: pode-se escolher a mulher que quiser e tem-se prostitutas bonitas para namorar.

Há também o retorno à infância, aos tempos felizes onde se andava de bicicleta, ouve-se histórias contas pelos outros, sobe-se em pau-de-sebo e muitas outras coisas. Levando-se em conta a biografia de Bandeira, que passou boa parte da vida acometido pela tuberculose, a volta à infância pode representar a vontade de buscar esse tempo perdido. Assim, pode-se dizer que “Vou-me embora pra Pasárgada” tem um caráter autobiográfico, pois há uma busca pela felicidade que lhe foi negada devido a seus sofrimentos pessoais. Pasárgada é o lugar onde se pode encontrar amor, liberdade e prazer, é a solução para todas as tristezas humanas.

“A rosa de Hiroxima”, Vinícius de Moraes
Através do constante uso do verbo “pensar”, Vinícis de Moraes convida os leitores a refletirem sobre as atrocidades causadas pelo ser humano, em especial sobre a bomba atômica. Durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos lançou duas bombas atômicas sobre o Japão, uma na cidade de Nagasaki e outra na cidade de Hiroshima (ou Hiroxima).

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Neste poema fica de lado o poeta dos sonetos amorosos e entra em cena o Vinícius de Moraes engajado socialmente e marcado pela impotência do homem frente a um mundo cruel. Há uma comparação entre a bomba atômica e a rosa, que nasce de uma analogia entre a forma que adquire a nuvem de poeira e fumaça ao explodir a bomba e uma rosa com caule. Essa comparação cria uma imagem de contraste entre destruição e fragilidade, terror e beleza.

“Motivo”, Cecília Meireles
O poema é escrito em primeira pessoa, bastante demarcado pela presença de um eu-lírico muito subjetivo e íntimo. A passagem do tempo, a transitoriedade da vida e a descrição dos sentimentos aparecem de modo muito delicado, feminino e sensorial, e são traços muito característicos da poesia de Cecília Meireles. Além disso, por ter estudado música, sua poesia tem na própria questão da musicalidade (métrica, ritmo, etc.) uma temática importante.

O poema é uma metáfora para a transitoriedade da vida, e é construído através de oposições entre opostos (antítese): alegre versus triste, noite versus dia, desmorono versus edifico, entre outros. O eu-lírico só sabe que “canta”, que pode ser interpretado como uma metáfora para o próprio ato de escrever poemas, e segue vivendo de modo conformado com a normalidade até que um dia estará “mudo”, ou seja, morto.

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“A educação pela pedra”, João Cabral de Melo Neto
A linguagem calculada, seca e objetiva é uma característica importante na poesia de João Cabral. Para ele, a arte não é intuitiva, é calculada. Esta forma calculada, arquitetônica de se fazer poesia aparece bem demarcada também na pontuação, que serve para delimitar temas e mostrar diferenças entre partes diferentes do poema. Este é o caso desse poema, onde cada estrofe trata de uma “educação” diferente.

Na primeira estrofe temos “uma educação”, que começa pela lição da “dicção”. A lição da lapidação da fala e do poema através do som das palavras é expresso no uso da aliteração (repetição de consoantes) do fonema “p”, que remete ao som de lapidação da pedra. Após a lição da dicção, vem a lição da “moral”, que é marcada pela frieza, ou seja, inexistência de sentimentalismo. A próxima lição é a da “poética”, que sugere poemas concretos e objetivos (“carnadura concreta”); a quinta lição é a da “economia”, que é a economia das palavras, pois a poesia deve dizer muito através de poucas palavras. Estas lições ocorrem de “fora para dentro”, ou seja, é uma lição que se aprende pela observação da pedra (que pode ser uma metáfora para o sertão).

A segunda estrofe é “outra educação”, dessa vez de “dentro para fora”. Esta lição aparece como sendo “pré-didática”, ou seja, algo que não é ensinada e que não se aprende. Assim, pode ser interpretada como a própria lição do viver, principalmente no sertão, que é o tema dessa estrofe. Porém, ao contrário da pedra da primeira estrofe, a pedra do sertão não pode ensinar, afinal de contas ela é iletrada como a maioria dos sertanejos. No sertão, não se aprende ou se entende, vivencia-se. A pedra do sertão é uma “pedra de nascença” e que acompanha o homem desde a infância e aos poucos vai modelando sua alma (“entranha na alma”) e acaba por endurece-lo.

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