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O que foi a Revolução de 1932? 

Levante paulista não obteve o efeito esperado, mas colocou freios no projeto autoritário de Vargas e dos militares que o apoiavam  

Por Danilo Thomaz
Atualizado em 13 jul 2021, 15h23 - Publicado em 8 jul 2021, 20h40
Quadro da Revolução Constitucionalista de 1932
M.M.D.C. é o acrônimo pelo qual se tornou conhecido o levante revolucionário paulista, em virtude das iniciais dos nomes dos estudantes paulistas Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, mortos pelas tropas federais num confronto ocorrido em 23 de maio de 1932, que antecedeu e originou a Revolução Constitucionalista de 1932.  (Pinterest/Divulgação)
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A chamada Revolução Constitucionalista de 1932 foi um confronto armado entre forças majoritariamente paulistas contra o governo de Getúlio Vargas, que havia ascendido por meio da Revolução de 1930, marco fundador do Brasil moderno. 

 Revolução Constitucionalista de 1932 – chamada pelos getulistas de contrarrevolução – nasceu de uma série de insatisfações. A primeira foi a perda do protagonismo político, uma vez que, até 1930, São Paulo, que ascendia graças ao dinheiro do café, basicamente comandava o processo político brasileiro – em aliança com Minas Gerais, na chamada “política do café com leite”. 

++ Estude a Revolução de 1932 com um site interativo

 A ascensão paulista se deu ainda no século 19, precisamente em 18 de abril de 1873, quando um grupo de oligarcas reuniu-se na cidade de Itu, a 100 Km da capital paulista, para discutir a implantação de uma república no Brasil. A reunião, que entrou para a História como a Convenção de Itu, levou à criação em julho daquele ano do Partido Republicano Paulista (PRP) – que seria a agremiação política mais importante durante a República Velha – e do jornal “A Província de São Paulo” (que viria a ser “O Estado de S. Paulo”), uma “folha pública”, como se dizia à época, voltada à defesa das ideias republicanas. 

A preponderância paulista, sustentada pela ascensão econômica em decorrência do café, durou até a Revolução de 1930. O candidato vitorioso das eleições – Júlio Prestes, que sucederia a Washington Luís, ambos representantes das oligarquias – não chegou a tomar posse. Em seu lugar, Getúlio Vargas, também membro da elite agrária, ascendeu, respaldado pelos tenentes dos levantes de 1922 e 1924, por determinadas oligarquias regionais e parte da classe média urbana ascendente. Começou assim a construção do Estado moderno brasileiro, por meio do processo de industrialização, criação de instituições federais, e de legislações como as leis trabalhistas. 

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E por que os paulistas se levantaram contra o governo Vargas? 

 

A Revolução de 1930 pôs fim justamente àquilo que sustentava o poder paulista: a força do sistema federalista ante um Estado nacional e uma economia baseada no setor agrário. Como São Paulo, até a crise de 1929, exportava o principal produto brasileiro – o café –, o estado acabava, assim, conquistando também maior influência política ante os demais. 

Isso não significa, todavia, que a Revolução de 1930 não tenha contado com apoio paulista. Sim, contou. O Partido Democrático (PD), formado por dissidentes do PRP, apoiou a Revolução, mas deixou o poder ao perder espaço para os tenentes. 

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Vargas procurou ao longo do primeiro semestre de 1932 em acalmar os ânimos paulistas. Entre as medidas tomadas, estava a nomeação de um interventor paulista e civil para comandar o estado – Pedro de Toledo – e a publicação do Código Eleitoral, prevendo eleições para dali a um ano.  

As medidas, no entanto, não acalmaram os ânimos. O PD e o PRP, os dois partidos que rivalizavam em São Paulo, uniram-se na Frente Única Paulista contra o Governo Provisório de Vargas. Entre suas principais demandas estava o estabelecimento de uma nova Constituição – assunto que Vargas evitava, no que era apoiado pelos chamados tenentistas (militares). Setores oligárquicos de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro também apoiavam o fim do regime discricionário de Vargas. 

movimento paulista ganhou ainda mais força em maio de 1932 com a morte por forças legais de quatro estudantes, cujas iniciais dos nomes – Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo – nomearam uma sociedade secreta conspiratória. 

Os paulistas foram arregimentando apoio por todo o estado. Os ataques tiveram início no dia 9 de Julho de 1932 e pegaram o governo Vargas de surpresa.  

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Mesmo com o apoio de boa parte da população de São Paulo, que doou ouro para a Revolução, e de setores industriais, num esforço de guerra, o estado acabou isolado. As oligarquias de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro não aderiram à luta. Em menos três meses, São Paulo foi massacrado pelo governo federal. A revolução foi encerrada no dia 1º de outubro de 1932 com a rendição dos paulistas e um saldo estimado de 634 mortes. 

 

Vitória na derrota 

Apesar da derrota militar, São Paulo obteve ganhos políticos. Com o fim da Revolução, houve as eleições para a composição da Assembleia Constituinte, com vitória da Chapa Única Paulista, dominada por setores do PRP. Em 1934 foi promulgada a nova Constituição, que durou até o golpe do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937. 

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Em agosto de 1933, Armando de Sales Oliveira, ligado às elites paulistas, tornou-se o interventor de São Paulo. Foi nomeado por Vargas numa tentativa de distensão política, que incluiu também o reescalonamento das dívidas dos agricultores em crise.  

À frente do governo paulista, Armando Sales reorganizou a máquina administrativa do estado. Seu principal legado, no entanto, foi a criação da Universidade de São Paulo, que se tornaria a mais influente do país ao longo do século 20.  

 

Fontes consultadas 

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Getúlio (1930-1945), do Governo Provisório à ditadura do Estado Novo (Companhia das Letras, 2013), de Lira Neto 

História da Imprensa Paulista, jornalismo e poder de D. Pedro I a Dilma (Três Estrelas), de Oscar Pilagallo  

Brasil, uma biografia (Companhia das Letras, 2015), de Lilia Schwarcz e Heloisa Starling 

 

 

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