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“Niketche – Uma História de Poligamia”: resumo da obra de Paulina Chiziane

A obra é leitura obrigatória da Unicamp 2024 e discute temas contemporâneos como empoderamento feminino e a reflexão sobre tradições

Por Karolina Monte
Atualizado em 4 Maio 2023, 16h50 - Publicado em 4 Maio 2023, 16h48

Prestar Unicamp não é moleza! Além de estudar todas as disciplinas, das exatas às humanas, os estudantes também precisam dar conta da leitura de nove obras obrigatórias. Entre elas, está “Niketche – Uma História de Poligamia“, da escritora moçambicana Paulina Chiziane.

É essencial que os candidatos façam a leitura completa do livro, e, paralelamente, estudem seu contexto geral e histórico. Só assim serão capazes de analisar o livro da forma como a prova costuma pedir.

Para ajudar nesta tarefa, o GUIA O ESTUDANTE conversou com Fernando Marcílio, professor de literatura do curso pré-vestibular Anglo, e elencou as principais características de “Niketche – Uma História de Poligamia”. Confira!

Contexto histórico do livro

O livro “Niketche – Uma História de Poligamia” foi lançado em 2002, exatos dez anos após o fim da guerra civil que assolou Moçambique. O conflito foi motivado pelas disputas políticas que sucederam a conquista da independência do país, até então colônia de Portugal. A guerra durou 17 anos, terminando apenas em 1992.

“É uma obra ainda marcada pelos efeitos dessas sucessivas tragédias nacionais. Por isso, coloca-se como representante da literatura africana contemporânea, que se caracteriza pela temática da luta pela liberdade e pelo resgate de raízes culturais.”, explica o professor Marcílio.

Resumo de Niketche

Rami, narradora do livro, conta em “Niketche” sobre a descoberta de que seu marido, Tony, tem outras esposas espalhadas por toda Moçambique. Ao decorrer da história, ela narra os encontros e relacionamentos com estas outras mulheres. A poligamia era um costume em Moçambique, e a narradora mostra os efeitos dessa tradição em uma sociedade que estava se modernizando.

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Aos poucos, Rami assume uma posição de liderança das esposas de Tony e, unidas, elas conseguem independência financeira e se sentem estimuladas a buscar relacionamentos amorosos que contemplem suas necessidades afetivas, libertando-se do domínio do marido.

Com um narrador-personagem, o tempo da ação não é especificado, mas, do início ao fim, decorrem alguns meses, durante os quais ocorre a organização das esposas de Tony e a consolidação de seus negócios. 

Principais características da obra

Em “Niketche”, surgem diversos diversos temas relevantes às discussões contemporâneas que podem ser pertinentes dentro e fora dos vestibulares. São eles:

  1. Reflexão em torno da condição feminina: Rami é uma voz que fala em nome de uma coletividade. Ela expressa anseios, desejos, angústias e esperanças de todas aqueles que enfrentam o machismo e o patriarcado de uma sociedade conservadora, que reserva à mulher um papel de submissão;

  2. Empoderamento feminino: a união das esposas, tema central do livro, é apresentada como forma de resgate da dignidade pessoal e também como instrumento de afirmação da capacidade de participação na vida social em termos de igualdade com os homens;
  3. Construção de uma identidade pessoal: ao longo da narrativa, Rami vai aos pucos buscando rever seus conceitos (muitos dos quais ligados à tradição que coloca em discussão) e encontra para si uma nova identidade. Nesse sentido, ganham importância os constantes diálogos que ela mantém com o espelho, símbolo da tentativa de superação de uma imagem social consolidada da mulher que se limite a ser um apêndice do marido;

  4. Tradição repensada: o costume local da poligamia é colocado em discussão. Rami tem consciência de que enfrenta um hábito enraizado no povo moçambicano e busca apresentar seus efeitos para a autoestima feminina.
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“Niketche” e outras obras da Unicamp

A literatura lusófona, isto é, aquela produzida em países que têm a Língua Portuguesa como seu idioma oficial, vem ganhando projeção e importância nos últimos anos. Os vestibulares são reflexo disso, com a inclusão de obras como “Mayombe, de Pepetela (Angola), “Terra sonâmbula, de Mia Couto e “Nós matamos o Cão Tinhoso!, de Luís Bernardo Honwana (ambos de Moçambique).

A inclusão de “Niketche” nesse conjunto ainda traz a contribuição fundamental de apresentar a perspectiva feminina no cenário de luta pela libertação que ocorria no país, tanto política quanto social e de gênero. Nesse sentido, vemos uma convergência entre o livro moçambicano e a obra da escritora brasileira Conceição Evaristo, “Olhos d’Água” que também faz parte da lista da Unicamp 2024. Ambos retratam a sociedade e costumes através da perspectiva feminina, além das condições enfrentadas pela comunidade africana e afro-brasileira.

Sobre a autora: quem é Paulina Chiziane

Paulina Chiziane nasceu em Moçambique, no ano de 1955, mais precisamente nos arredores da capital Maputo. Foi a primeira mulher moçambicana a publicar um romance. “Niketche” é uma das maiores representações da escrita de Chiziane, que, com muito humor carregado de delicadeza, expressa as ideias, pensamentos e “papéis” da mulher na sociedade africana.

Paulina foi ativa na luta política contra a dominação e exploração portuguesa pela então colônia de Moçambique, sendo membro da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), junto com Luis Bernardo Honwana, autor de “Nós Matamos o Cão Tinhoso!”, obra que compõe a lista de livros obrigatórios da Fuvest.

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Alguns recursos linguísticos presentes na narrativa, e que são traços da escrita de Paulina, são as metáforas e as alegorias, que, por vezes, aludem ao universo mítico da cultura moçambicana.

Assim como Hownana, Chiziane foi agraciada em 2003 com o prêmio José Craveirinha de Literatura (mais importante prêmio literário de Moçambique), e, em 2021, com o Prêmio Camões (maior honraria literária dada por Brasil e Portugal).

Em 2016, Paulina anunciou sua aposentadoria da escrita literária, alegando cansaço das lutas travadas ao longo de toda sua vida.

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