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“Mayombe” – Análise da obra de Pepetela

Um livro que retrata os desafios e contradições entre militantes que lutaram pela independência de Angola, país colonizado por Portugal, nos anos de 1970.

Por Redação do Guia do Estudante
Atualizado em 11 abr 2018, 19h58 - Publicado em 16 set 2016, 16h45

“Mayombe” – Análise da obra de Pepetela

Publicado originalmente em 1980, Mayombe foi escrito durante a participação do escritor angolano Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos (Pepetela) na guerra de libertação de Angola na década de 70. Recompõe o cotidiano dos guerrilheiros do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) em luta contra as tropas portuguesas. O romance, inovador, aborda as ações, os sentimentos e as reflexões do grupo, e as contradições e os conflitos que permeavam as relações daqueles que buscavam construir uma nova Angola, livre da colonização.

Foco narrativo

A obra é organizada em seis capítulos nos quais há variação do foco narrativo – um narrador onisciente e onipresente se intercala com as personagens, guerrilheiros do MPLA, no papel de narrador da história. Com isso, Pepetala demonstra que nem mesmo a revolução se organiza como um conjunto, sendo enxergada de forma diferente e conflitante pelos seus próprios membros. Cada um desses observadores-participantes, com origem, ideologia, visão e propostas próprias, possuem também ideais distintos que os impedem de lutar pela mesma unidade libertadora.

Tempo

“O Mayombe começa com um comunicado de guerra. Eu escrevi o comunicado e… o comunicado pareceu-me muito frio, coisa para jornalista, e eu continuei o comunicado de guerra para mim, assim nasceu o livro”, escreve o autor numa obra híbrida entre o romance e a reportagem.

Mayombe, nome de uma região da África, é uma narrativa em tempo cronológico que analisa profundamente a organização dos combatentes do MPLA, lançando luz às dúvidas, que também eram as do autor, sobre as contradições, medos e convicções que impulsionavam os guerrilheiros em busca de liberdade no interior da densa floresta tropical. Eles confrontam-se não só com as tropas colonizadoras portuguesas, mas também com as diferenças culturais e sociais que procuram superar em direção a uma Angola unificada e livre.

Enredo

O livro é dividido em seis capítulos: A Missão; A Base; Ondina; A Surucucu; a Amoreira e o Epílogo. Os personagens são nomeados como alegoria de guerra conforme os objetivos do MPLA. Assim, temos o personagem Sem Medo (o comandante), Teoria (o professor), Verdade e Lutamos (destribalizados) e Mundo Novo, representante da elite africana que vai estudar fora de seu país, entre outros.

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Ondina, a personagem feminina, é a mulher que instaura as transformações em alguns guerrilheiros do Mayombe. Por exemplo, o Comissário Político, seu noivo, é obrigado a amadurecer diante da traição e do rompimento da relação com ela. Sem Medo é impelido a refletir sobre o amor e a sacrificar seu desejo por ela.

Interessante notar que Ondina é a personagem que não tem voz na narrativa de Pepetela, o que reflete a crítica para a desigualdade de gênero na luta instaurada em Angola por libertação e justiça.

Por fim, a floresta – personagem – gesta um novo homem para um novo momento histórico em Angola. Pepetela, por meio da apropriação do espaço do Mayombe, procura, simbolicamente, percorrer a história angolana por meio do território invadido e ocupado pelos colonos, seja no que diz respeito à terra ou à identidade do povo de Angola.

Análise

A obra é uma reflexão, envolta pelos ideais socialistas, sobre a dura realidade da sociedade angolana, sobre as perspectivas do movimento de libertação e da população local em relação aos princípios conflitantes do MPLA.

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Cada personagens luta a seu modo por seus ideais de libertação. Em meio a isso, vimos uma Angola despedaçada e sem unidade. O livro procura retratar esse desfacelamento e critica as lutas de grupos que não se unem por um ideal comum.

A estrutura narrativa polifônica (várias vozes), que retrata os acontecimentos sob o ponto de vista de várias personagens em primeira pessoa, revela o profundo respeito a cada homem na sua individualidade e o desejo do autor de transformar os agentes da revolução em sujeitos da luta.

Durante toda a narrativa, ocorre um mesmo registro linguístico, apesar do abismo existente entre as classes sociais das personagens e as suas origens culturais, o que reforça a ideia de propor a igualdade entre as pessoas. Além disso, há a tentativa de criar um ideal nacionalista que una os diferentes povos da região e o MPLA em oposição ao colonialismo.

Conexões

Ao retratar a luta de tribos em busca da libertação de seu país, Mayombe pode ser comparado ao romance indianista Iracema, de José de Alencar. Ambas apresentam conflitos entre tribos e a tentativa de se isolar do colonialismo português.

 

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Estudo
“Mayombe” – Análise da obra de Pepetela
Um livro que retrata os desafios e contradições entre militantes que lutaram pela independência de Angola, país colonizado por Portugal, nos anos de 1970.

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