Gótico brasileiro: 4 livros do período “trevoso” da literatura nacional
Inspirados por Lord Byron e Edgar Allan Poe, os autores desse período contemplavam a morte, o amor idealizado e os mistérios que há entre o céu e a terra
Medo, paixão, sentimentalismo, melancolia, desejo, saudosismo… esses são alguns dos elementos presentes na segunda geração do Romantismo no Brasil. Conhecida como Ultra-Romântica, ou Mal-do-Século, essa fase da literatura nacional é marcada pela atmosfera onírica, com autores refletindo sobre a morte, a natureza e a beleza de amores platônicos. Inspirados por Edgar Allan Poe e Lord Byron, esses escritores tecem narrativas sombrias e macabras que flertam com o horror e o mistério. Entre eles, se destaca Álvares Azevedo, o grande percursor do movimento.
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Ai de mim que sou romântica…
Ao pensar em Romantismo, é comum pressupormos que essa corrente literária tem a ver com romance. A associação não está incorreta, mas tampouco completa: no Brasil, o Romantismo é a primeira estética literária decidida a reivindicar uma literatura autenticamente brasileira, focada na construção da identidade nacional. Ainda que inspirados nas temáticas e estilos em voga na Europa, os autores buscaram dar espaço aos valores nacionais, em meio às mudanças políticas, sociais e culturais do período.
O Romantismo brasileiro abarca as produções literárias e artísticas durante boa parte do século 19, aparecendo mais expressivamente entre as décadas de 1830 e 1880. É difícil sintetizar cinco décadas de produção artística em apenas algumas características, mas podemos sublinhar como atributos comuns ao período a busca pela identidade brasileira; a forte presença da emoção e da subjetividade; a exaltação da natureza; e a fuga da realidade. Por isso, é comum o período ser dividido em três gerações, ou fases, que condensam um grupo de características comuns:
- 1ª fase: Nacionalista ou Indianista (1836-1850);
- 2ª fase: Ultra-Romântica ou Mal-do-século (1850-1860);
- 3ª fase: Condoreira ou Social (1860-1880).
+ Linha do tempo: As escolas literárias
Segunda fase: Byron à la Brasil
É na segunda fase do Romantismo que nos concentramos neste texto. A segunda geração é marcada por uma atmosfera única, embebida nos contos de um autor inglês famoso por sua prosa romântica e escândalos sexuais. Lord Byron (1788-1824) é o grande nome por trás dessa fase da literatura brasileira. O autor pode nunca ter pisado no Brasil, e faleceu antes mesmo do que é considerado o início oficial do período, mas é a principal fonte de inspiração para os escritores românticos.
Ao lado dele, temos Edgar Allan Poe (1809-1849), escritor estadunidense também famoso por narrativas macabras, assustadoras e sombrias. Mas, enquanto Byron trazia o pessimismo romântico, Poe envolvia os leitores com mistérios e fantasia. Os dois nomes dão o tom inspirador dessa fase do romantismo, e ditam até mesmo o estilo de vida dos autores da época – que promoviam orgias, passeios em cemitérios, e rituais pagãos.
Podemos descrever a segunda geração romântica como um mergulho introspectivo e melancólico, que explora temas como o amor idealizado, o pessimismo e a fascinação pela morte. É uma fase “trevosa” da literatura brasileira, em que a complexidade da psique humana é apresentada via histórias macabras, implorando por um escape da realidade.
+ “Lira dos Vinte Anos”: resumo da obra de Álvares de Azevedo
4 livros da geração ultra-romântica da literatura
Conheça o período a partir dessas 4 obras que sintetizam as principais características da corrente literária.
1. “Lira dos Vinte Anos”, de Álvares de Azevedo
Lira dos vinte anos
Essa é para quem está perdido nos seus vinte e poucos anos. Ainda que 170 anos separe Álvares de Azevedo (1831-1852) do leitor contemporâneo, “A Lira dos Vinte Anos” apresenta temas universais à idade, como a angústia e a sensibilidade do jovem adulto. Tudo, claro, com uma pitada de romantismo gótico. Temas de amor, morte e melancolia são presente na coletânea. “Se Eu Morresse Amanhã” e “Lembrança de Morrer” são alguns dos poemas mais famosos do ultra-romântico.
+ “Lira dos Vinte Anos”: resumo da obra de Álvares de Azevedo
2. “Noite na Taverna”, de Álvares de Azevedo
Noite na Taverna
O grande clássico da geração! “A Noite na Taverna”, também de Álvares de Azevedo, talvez seja a primeira obra que venha à cabeça quando se fala em segunda fase do romantismo. E não é à toa: o livro é um verdadeiro marco da literatura romântica, considerado o grande representante da segunda geração do movimento no Brasil. Na coletânea, somos apresentados a uma série de contos de mistério, horror e tragédia. Os personagens compartilham histórias de vida e morte durante uma noite de álcool em uma taverna.
+ “Noite na Taverna”: resumo da obra de Álvares de Azevedo
3. “As Primaveras”, de Casimiro de Abreu
As Primaveras
Este poeta, conhecido por ser “o poeta do amor e da saudade”, viveu por apenas 21 anos. E em sua curta passagem, Casimiro de Abreu (1839-1852) publicou um único livro: “As Primaveras”. Ainda que seja classificado na segunda fase do romantismo, sua obra ficou menos conhecida pelos aspectos sombrios e mais pelo romantismo intenso. O sentimentalismo de Casimiro de Abreu é presente nas imagens bucólicas que tece, exaltando a natureza, o patriotismo, mas também a constante (e pessimista) certeza da morte.
4. “Cantos e Fantasias”, de Fagundes Varela
Cantos e Fantasias
“Cantos e Fantasias” é uma coletânea das obras de Fagundes Varela (1841-1875), autor conhecido pela prosa romântica e amarga – marcadas, especialmente, pela perda de um filho. Ao longo do livro, o leitor é envolto em temáticas de amores melancólicos e reflexões sobre a morte, mas também a ideários democráticos e abolicionistas. O estilo do autor é notório por um distanciamento dos excessos lusitanos, se aproximando cada vez do que seria a terceira geração do romantismo, sublinhada pela consciência social.
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