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“Ela”: saiba como utilizar o filme no vestibular

Explore o enredo e enriqueça seu repertório

Por Julia Di Spagna
Atualizado em 15 abr 2019, 19h00 - Publicado em 21 jun 2018, 14h29

A ideia desta série de matérias é permitir que você consiga desenvolver um repertório mais amplo e um pensamento crítico mais aguçado com base nas diversas camadas que a sétima arte pode apresentar. As análises dos filmes que faremos aqui buscam mostrar certas relações entre o enredo e temas contemporâneos que podem ser abordados na redação e em outras questões do Enem e dos principais vestibulares do Brasil.

Sinopse

O filme “Ela” se passa em futuro próximo. Theodore é um homem solitário que trabalha em uma agência especializada em enviar cartas manuscritas de teor sentimental sob encomenda para pessoas queridas.

Recém-separado, o personagem demonstra sentir falta de sua ex, Catherine, e passa boa parte do tempo em seu apartamento jogando videogame ou em salas de bate-papo virtuais.

Certo dia, ele se depara com uma propaganda de um revolucionário sistema operacional baseado na inteligência artificial e resolve comprá-lo.

Tal sistema, fruto de alta tecnologia, consegue aprender com a experiência e com a interação com outras pessoas. Além disso, entende o que acontece ao seu redor e passa a se comunicar com Theodore.

O personagem começa a desenvolver uma relação com aquela voz, chamada Samantha, e entre flertes, conversas sobre seus interesses e divagações sobre a vida, se apaixona.

Nessa relação, que passa por estas e outras fases já conhecidas de diversos romances retratados pela sétima arte, Theodore se encanta pelo sistema que aparenta um enorme amor pela vida e encara um relacionamento mediado pela tecnologia.

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“Ela”: saiba como utilizar o filme no vestibular

É possível explorar “Ela” a partir de diversos aspectos. Conversamos com Carolina Achutti, professora de redação do Anglo, para estabelecermos os principais e qual a melhor forma de aplicá-los na hora da prova.

Avanços tecnológicos e suas consequências

O avanço da tecnologia, como já foi trabalhado na análise do filme “A Ilha”, pode trazer tanto benefícios quanto prejuízos à sociedade.

No caso do filme “Ela”, podemos perceber como essa mudança desencadeou um vazio nas pessoas, que se tornam emocionalmente dependentes de um sistema, e a perda de consciência da realidade por parte dos personagens.

Eles passam a viver uma ilusão, construída com a ajuda da tecnologia. As concepções de relacionamentos e amor são alteradas, interferindo diretamente na maneira como vivem suas vidas.

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Construção de uma nova ideia de amor

Durante o enredo, podemos relacionar a ideia de amor com um certo individualismo do ser humano. O amor seria realmente um sentimento de companheirismo ou apenas vontade de compartilhar, por exemplo, os próprios sonhos, pensamentos e acontecimentos do dia a dia?

O filme levanta o questionamento sobre o que foi construído até então em relação ao que seria um relacionamento e as diferenças de relações de origem real e cibernética.

Neste contexto, podemos analisar a maneira como o sociólogo Zygmunt Bauman aplicou o conceito de liquidez para tratar das relações contemporâneas. Para ele, estas relações afetivas se dão por meio de laços momentâneos e volúveis e se tornam superficiais e pouco seguras (amor líquido).

Quer se aprofundar nas ideias trabalhadas pelo autor? O Guia preparou um especial sobre ele, que você pode conferir no link.

Relações mediadas pela tecnologia

A história de um homem que se apaixona por um sistema dotado de inteligência artificial não parece algo tão distante da nossa realidade. Outros filmes até já chegaram a abordar situações parecidas com máquinas e robôs, como Ex Machina e Blade Runner.

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Entretanto, podemos ampliar esse conceito e analisar não apenas as relações estabelecidas com as tecnologias, mas as intermediadas por ela.

É importante refletir sobre o porquê desse tipo de relação estar tão presente na sociedade atual. Trabalhar essa noção no contexto da ascensão das novas tecnologias, do boom das redes sociais e, mesmo com o aumento do contato virtual entre as pessoas, do crescimento dos casos de depressão, que já foram associados à solidão, é extremamente relevante para entender a contemporaneidade.

Na invisibilidade do meio virtual, novas formas de relacionamentos começam a surgir e concepções de amor até então sedimentadas passam a sucumbir.

No filme, podemos observar várias pessoas gesticulando e conversando com seus sistemas operacionais e, embora as ruas estejam lotadas, cada um age como se estivesse sozinho.

Globalização

Não fica claro em que cidade a história acontece. Com exceção do idioma falado no filme, observando as construções, roupas, ruas e o clima não conseguimos definir se a história se passa em Nova York, em São Paulo ou em Tóquio.

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Com isso, é possível estabelecer uma relação com a globalização. Um mundo globalizado é aquele em que eventos políticos, econômicos, culturais e sociais estão interconectados e onde um acontecimento em um lugar tem a capacidade de ecoar por outros cantos do globo.

Nesse contexto, seguindo a linha do filme, cidades e pessoas entram em um padrão mundial, individualidades culturais são apagadas e todo lugar parece igual.

Lógica do aqui e agora

“A vida é curta, e todos merecemos um pouco de felicidade”, afirma a vizinha de Theodore em uma cena.

Existe toda uma lógica do aqui e agora, da instantaneidade, que permeia essa sociedade pós-moderna retratada no filme.

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Se Theodore tivesse analisado os possíveis desfechos desse relacionamento com Samantha, poderia ter levado a relação de outra forma. Entretanto, o que importava era aquela realidade, aquele instante e aquela sensação vivida pelo personagem.

“Ela”: saiba como utilizar o filme no vestibular

Ficou na dúvida de como esse conteúdo poderia ser aplicado na sua redação? Vamos ajudá-lo nessa missão.

É impossível prever qual será a proposta dos vestibulares. Entretanto, seja qual for o tema, se você estiver munido de diversos exemplos e relações relevantes na hora da prova, o resultado será muito melhor do que imagina.

No caso do filme “Ela”, é importante identificar os principais tópicos (como os citados anteriormente) e memorizar algumas cenas que exemplificam as situações.

Você não precisa assistir ao filme com um caderno fazendo várias anotações. O importante é entender o enredo como um todo e refletir sobre determinados acontecimentos que achar adequados.

Se quiser, anote alguns tópicos e pesquise mais sobre os temas que achar mais pertinentes ou que tiver alguma dificuldade.  

“Ela”: saiba como utilizar o filme no vestibular

Selecionamos algumas propostas de redações de vestibulares de anos anteriores em que você poderia utilizar seus conhecimentos sobre o filme para desenvolver o tema, tanto em termos de relações estabelecidas quanto em forma de exemplos.

Universidade Federal de Goiás (UFG) 2013 – Amor na contemporaneidade: condição para a realização pessoal ou aprisionamento de subjetividades?

Um dos textos apresentados pela coletânea menciona e trabalha as ideias de Bauman sobre o amor.

O estudante não precisa se preocupar em escolher a opção “correta” para o questionamento feito no título – até porque ela não existe. O importante é definir uma tese e defendê-la baseado em bons argumentos.

Partindo deste pressuposto, é possível utilizar o filme trabalhando a questão de como Theodore lida com esse novo relacionamento. Ele ama o sistema ou seria apenas uma forma que encontrou de compartilhar suas experiências com alguém que tinha interesse em ouvi-lo?

“O amor romântico é baseado na idealização do outro, a invenção de uma pessoa, atribuindo a ela características que não tem”. Com essa frase da coletânea também podemos analisar toda a construção que Theodore faz em sua relação com Samantha.

Enem 2011 – Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado

A coletânea trabalha a questão das redes sociais e como elas têm interferido no comportamento das pessoas.

O filme pode ajudar o estudante a analisar o impacto das novas tecnologias como um todo na vida de uma pessoa. Embora a situação deste sistema operacional seja um caso à parte, é possível refletir sobre como Theodore cria uma dependência da relação que estabelece por meio da tecnologia.

Muito jovens se dedicam intensamente às relações que criam nas redes. E, embora possa ser um mecanismo útil para pessoas que vivem distantes, é preciso ficar alerta para não perder o contato com a realidade fora da tela.

Como um dos trechos da proposta aponta que “faz parte da própria socialização do indivíduo do século XXI estar numa rede social”, é válido refletir sobre como o comportamento do personagem muda depois que ele passa a se relacionar no mundo virtual.

Filme: Ela
Ano:  2013
Direção: Spike Jonze

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Estudo
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