A música “September”, do grupo Earth, Wind & Fire, virou um clássico nas redes sociais. Em todo dia 21 de setembro, é quase impossível passar pela timeline sem esbarrar com a famosa pergunta inicial da letra: “Do you remember?” (‘você se lembra?’, em inglês). E, em fase de grandes provas como os vestibulares, é comum que alguns conteúdos não estejam tão frescos na memória como o refrão da canção de 1978. A explicação para o esquecimento de algumas informações pode estar na forma como se aprende e se revisa o conteúdo. Mas, calma! Algumas práticas simples podem ajudar você a melhorar isso.
Como guardamos informações no cérebro?
O processo de fixação de informação na mente humana nada mais é do que a consolidação, por meio da codificação, das informações com que temos contatos sensoriais no cotidiano. A neuropsicóloga Leonor Bezerra Guerra, doutora em Biologia Celular e autora do livro “Neurociência e Educação: como o cérebro aprende” (Artmed, 2011), explica que “a codificação de uma informação é a transformação do sinal que recebemos – químico no caso do olfato e gustação; mecânico, no caso do tato e audição; ou eletromagnético, no caso da visão – em um código que é característico dos neurônios”.
Essa ativação dos neurônios pode durar pouco tempo – as chamadas memórias de curto prazo – ou ser mais duradoura – a memória de longo prazo. O que transforma uma informação em duradoura na mente humana é a repetição. “É como se um caminho que foi aberto no mato pela primeira vez (a informação nova), fosse ficando mais limpo e mais fácil de ser percorrido à medida que passamos por ele mais vezes (à medida que a informação é processada novamente pelos neurônios)”, explica Leonor.
Esse processo de fortalecimento da conexão entre os neurônios ativados em um raciocínio é chamado neuroplasticidade. É ele que gera a memória de longo prazo. A má notícia: não ocorre de maneira imediata. Como no processo de fortalecimento muscular, é importante revisar e repetir os estímulos em intervalos. Isso significa que não adianta fazer longas sessões de estudo com grandes intervalos de tempo entre elas. A dica é fazer sessões menores e mais frequentes.
Prestar atenção
Parece simples, mas estar atento às informações recebidas é indispensável para registrá-las na memória. Leonor Guerra reforça: “Só registramos na memória as experiências e informações que despertam nossa concentração e para as quais dedicamos atenção”. O cérebro humano não consegue, ao contrário do que alguns dizem, focar em mais de uma coisa ao mesmo tempo. Então distanciar-se de distrações é outro passo fundamental. “Não conseguimos processar, com eficiência, duas informações ao mesmo tempo. O cérebro alterna entre o processamento de uma e outra e, por isso, parte das informações é perdida e, portanto, não será codificada e fixada.”
E, mais importante, é necessário compreender aquilo que se estuda, para que a “decoreba” faça sentido. Senão, a informação aprendida será apenas reproduzida, sem que seja aplicável em avaliações ou análises.
Revisitar o conteúdo de formas diferentes
Segundo Guerra, “quantos mais processarmos novamente uma informação, e de forma diversificada, utilizando mais sentidos – visual, auditivo, tátil, etc. –, para formar representações diversificadas e interconectadas do mesmo conteúdo, melhor”. Isso significa que, além de revisar textos ou resumos escritos, vale também debater os temas em grupos, ver vídeos, ouvir podcasts, fazer testes e exercícios para estimular a associação mais natural da informação no cérebro.
Manter uma rotina de revisões esporádicas
De tempos em tempos, é importante revisitar a matéria aprendida anteriormente, para que as ligações feitas neurologicamente não se enfraqueçam. Para isso, aplicativos de revisão por repetição espaçada (SRS) são extremamente úteis e podem ser adicionados à rotina de estudos. Neles, é possível criar “fichas”, com perguntas e respostas, que são adicionadas às suas sessões de revisão ao longo do tempo, por meio de um algoritmo. Assim, um conteúdo visto há mais tempo aparece mais do que outro mais fresco na memória. Alguns exemplos de ferramentas com esse método são o Anki, o Quizlet, e o Drops (o último mais voltado para o aprendizado de línguas).
Dormir, comer bem e se exercitar
A dica clássica para uma vida mais saudável é imprescindível para a melhora do raciocínio lógico e da memória. “A neuroplasticidade ocorre nos períodos de sono – tanto à noite, como numa soneca –, porque é neste momento que os neurônios têm as condições fisiológicas e bioquímicas ideais para fortalecerem suas sinapses”, explica a neuropsicóloga.
Por fim, manter uma boa alimentação e fazer exercício físico auxilia muito na fixação do conteúdo, já que este “leva o cérebro a produzir os chamados fatores neurotróficos, que atuam no fortalecimento das sinapses.”