Como se preparar para o Enem e vestibulares gastando pouco
O GUIA foi atrás de soluções para quem precisa estudar, mas tem poucos recursos
Quando a grana está curta, fica difícil imaginar como conseguir estudar para o vestibular. Mensalidades caras de cursinhos, livros que custam dezenas ou centenas de reais, taxas de vestibulares que dão vontade de parcelar no boleto em 12 vezes sem juros. E tudo isso misturado com os gastos de alimentação, transporte… Calma! Se você sentiu seu bolso chorar, fique tranquilo. O Guia do Estudante foi atrás de soluções para quem precisa estudar gastando pouco ou mesmo nada.
Este post é parte da programação especial de fevereiro no Guia, que vai trazer dicas de organização de vida e de estudos para começar o ano letivo da melhor forma. Acompanhe todas as publicações da série aqui.
Cursinhos populares
“Tenho uma nota ao lado do computador onde está escrito ‘Quando se nasce pobre, o maior ato de rebeldia contra o sistema é ser estudioso’. Sempre me dá uma gotinha de esperança quando leio”, revela a estudante Paula Faria, de 19 anos, que se prepara para o vestibular de Geografia. Ela estuda há um ano e meio em cursinhos populares, desde que se formou no Ensino Médio. Atualmente aluna da Rede Emancipa, Paula também já frequentou o cursinho do Núcleo de Consciência Negra (NCN) da Universidade São Paulo (USP). Ambos são gratuitos, voltados à preparação para os vestibulares. “Lá me ajuda principalmente com o incentivo. Durante a semana estudo sozinha, e em determinados momentos, querendo ou não, a gente acaba desanimando, e no Emancipa tem aquela dose de ânimo, tanto dos colegas, como dos professores”, explica Paula.
Os cursinhos populares são uma alternativa para quem precisa de auxílio com os estudos e não pode pagar as mensalidades de cursinhos tradicionais. Joice Mendes, coordenadora e professora de Literatura e Redação da unidade Vladimir Herzog da Rede Emancipa, no Grajaú, explica o diferencial das aulas gratuitas: “A grande diferença é sobre valores e acesso. Um cursinho popular muito provavelmente não cobra mensalidade e procura conquistar com o aluno a conscientização do acesso que temos para os espaços públicos da cidade e do estado. O grande intuito é fazer com que o pobre também ocupe lugares que são seus por direito, como a universidade pública”.
Essa postura é elogiada pelo estudante João Vilar de Souza Júnior, que faz as aulas da Rede Emancipa aos sábados e do NCN durante a semana. Ele conta que na sala de aula os professores são atenciosos e querem que você aprenda de verdade. “Os professores não estão preocupados em apenas passar o conteúdo, eles querem se certificar de que estamos preparados para o que vier quando estivermos lá dentro [da universidade] pois aí sim é que o negócio realmente complica!”, conta João. Marina Alves Martins Siqueira, diretora executiva e professora de química do curso pré-vestibular MedEnsina, que oferece aulas gratuitas em São Paulo, acredita que esse processo de estabelecer um bom conhecimento de base é fundamental para o futuro universitário. “Diferente de um cursinho tradicional, buscamos sempre acolher as demandas dos alunos da melhor forma possível e tentamos promover atividades que levem à formação do espírito crítico. Cada aluno representa um caso de superação e busca a realização de um sonho, muito além de um número a mais na lista de aprovações”, explica.
Fontes de materiais de estudo
Além de recorrer aos cursinhos populares espalhados pelo Brasil, o estudante que busca entrar em uma universidade gastando pouco pode fazer uso de duas ferramentas poderosas: livros e internet. “Livros didáticos, aqueles mesmos que utilizamos na escola, são boas ferramentas de pesquisa. A internet também facilita pela abrangência de conhecimento, pois há materiais muito bons para estudar”, diz Joice Mendes.
Os livros podem ser conseguidos principalmente em bibliotecas públicas. Além de serem ótimos ambientes para estudo, elas também estão repletas de saber gratuito. O estudante João Vilar é um dos adeptos ao estudo pelos livros. “Uso muito pouco a internet, prefiro os livros didáticos da escola. Eu nunca tinha aberto um deles, mas quando abri me interessei pelo seu rico conteúdo”, revela. Para ele, a internet é usada como ambiente para tirar dúvidas e para fazer exercícios mais difíceis das matérias.
Caso o estudante prefira ter seus próprios livros, ele pode recorrer a sebos, lojas que vendem livros usados por um preço mais em conta. Marina, professora do MedEnsina, conta que também é possível adquirir materiais de diversos cursinhos, doados por pessoas que passaram recentemente no vestibular e que optam por doá-los a quem precisa: “As redes sociais, por exemplo, possuem grupos de doação de materiais, em que o aluno pode demonstrar interesse pelas doações e combinar com o doador a entrega desse material”.
Cursinhos e aulas online
Além dos cursinhos populares gratuitos, existem também diversos cursos online preparatórios para o Enem e vestibulares a preços acessíveis. Alguns deles oferecem planos com assinaturas mensais, trimestrais e anuais. Caso o aluno se interesse em estudar por algum deles, é preciso verificar a estrutura de aulas disponíveis e também se o valor da mensalidade não pesa no bolso. A professora Marina alerta sobre a necessidade de avaliar o conteúdo acessado e explica que há opções gratuitas de qualidade na rede. “Sites como Projeto Medicina e História Online são bons exemplos de acesso a exercícios, teoria e videoaulas”, recomenda.
Alessandro Paulino Pereira, aluno da rede pública de São Paulo e da Rede Emancipa, atualmente usa a plataforma Hora do Enem, oferecida de graça pelo Ministério da Educação (MEC) para os candidatos que estão se preparando para o exame. Ele quer cursar Relações Internacionais na USP e estuda para o vestibular há um ano e meio. “Estudo pelo Hora do Enem, que usa a plataforma do Geekie Games. Eles têm uma licença gratuita para estudantes do 3º ano do Ensino Médio da rede pública. Os conteúdos são bons e servem de complemento ao cursinho. Utilizo muito as videoaulas para sintetizar as coisas que aprendo principalmente nas matérias de exatas”, explica o estudante. Qualquer pessoa pode utilizar os recursos gratuitos da plataforma Hora do Enem, que oferece videoaulas, simulados e questões comentadas de edições anteriores do exame.
O YouTube também é uma excelente fonte de conteúdo. São inúmeros os canais que oferecem aulas para vestibular e Enem. O estudante Michel Brito, que se prepara para cursar Geografia na faculdade, recomenda o canal Carecas de Saber. O grupo de professores do canal tem como objetivo oferecer conteúdo gratuito para ampliar o acesso à educação. O vestibulando João Vilar usa principalmente os canais Ferreto Matemática e do POTI (Polos Olímpicos de Treinamento Intensivo), voltados à resolução de exercícios de matemática. Já a estudante Paula Faria recomenda os vídeos do canal AulaDe, com professores de todas as áreas do Ensino Médio.
Aplicativos de celular e redes sociais
Vilãs para uns, boas ferramentas para outros, as redes sociais são sempre alvo de preocupação para os professores. “As redes sociais devem ser utilizadas com cuidado pelos alunos. Durante o tempo destinado ao estudo, o acesso a elas pode prejudicar a concentração. Entretanto, também proporcionam vários benefícios quando usadas corretamente”, diz a professora Marina. Para ela, as redes sociais podem servir como meio de comunicação entre professores e colegas para discutir dúvidas, aproveitar sugestões de materiais de estudo e sites com conteúdo interessantes. A professora Joice Mendes concorda e sugere um uso consciente, principalmente do Facebook. “Se o estudante ficar horas no Facebook sem nenhum intuito, não alcançará nada, porém a rede social é uma boa ferramenta para grupos de estudo”, explica. Já existem diversos grupos voltados para o Enem e para tirar dúvidas no Facebook, basta escolher um por meio da pesquisa do site e começar a participar.
Da mesma forma, o celular também pode ser usado para o “bem”. Como ferramenta de estudo, é possível aproveitá-lo para estudar nos momentos livres. “Quando não tenho nada a fazer fico me desafiando a responder a algumas questões”, conta o vestibulando Michel Brito. Ele usa o AppProva, um aplicativo para o Enem, que contém um banco com questões já aplicadas pelo exame. Todas precisam ser respondidas em até três minutos e é possível escolher pelos níveis de dificuldade. Já Alessandro Paulino Pereira usa o Pense+Enem, que disponibiliza provas antigas do Enem para os estudantes treinarem e se acostumarem com o formato e o tempo de realização de cada questão. Além dessas sugestões existem vários outros com a mesma proposta disponíveis na Play Store do Google e na App Store do iOS.