Agora não restam mais dúvidas de que o esqueleto encontrado em 2012 em um estacionamento em Leicester, na Inglaterra, é mesmo de Ricardo III, Rei da Inglaterra entre 1483 e 1485. A descoberta do esqueleto foi feita por pesquisadores da Universidade de Leicester, em colaboração com a Richard III Society e com o Conselho Municipal da região. Muita gente esteve envolvida porque o projeto era ambicioso: escavar a tumba perdida do último rei da dinastia dos York e do último rei inglês a morrer durante uma batalha.
Mesmo sabendo a localização aproximada da tumba com registros históricos com mais de 527 anos, muita coisa mudou na geografia urbana da região de Leicester. Depois de morto, o monarca foi enterrado em um convento sem nenhuma cerimônia especial. Por isso, diferentemente de outros membros da realeza britânica, seus restos mortais acabaram desaparecendo.
Para ter certeza absoluta
Depois de quase um ano da descoberta do esqueleto, em 2013, os cientistas já tinham quase certeza de que a ossada pertencia à Ricardo III, devido a análises de cicatrizes e com base na curvatura da coluna vertebral. A pesquisa definitiva, no entanto, só foi publicada agora, na revista Nature Communications. E, graças a essas investigações, os resultados concluem um dos casos de investigação forense mais antigos da história do Reino Unido.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores combinaram o DNA do esqueleto com o de sete parentes vivos de Ricardo III: dois pela linhagem feminina da família e cinco pela linhagem masculina. O DNA dos parentes e do esqueleto foi coletado e analisado sob vários tipos de marcadores genéticos, incluindo os genomas mitocondriais completos (herdados através da linha materna) e os marcadores dos cromossomos Y, herdados da linha paterna.
Pulada de cerca real
Só que, por essa ninguém esperava: os cientistas encontraram uma combinação positiva apenas entre os parentes da linhagem feminina, com o genoma mitocondrial. Não houve combinação entre o cromossomo Y dos restos mortais de Ricardo com a linhagem masculina da família. Ou seja, alguém, em algum momento da história da família real inglesa, teve filhos fora do casamento, o que poderia colocar em xeque a linha de sucessão. Mas, para os cientistas, isso não é um fator significante, “dada a conhecida possibilidade de uma falsa-paternidade em algum momento da história das diversas gerações”.
Se houve mesmo a “pulada de cerca”, o resultado poderia questionar a legitimidade de Henrique IV, Henrique V, Henrique VI e “toda a dinastia Tudor”, a começar por Henrique VII, seguido de Henrique VIII, Eduardo VI, Maria I e Elizabeth I, segundo conta o próprio estudo. Porém, os pesquisadores não têm o objetivo de contestar a legitimidade da atual Rainha da Inglaterra, Elizabeth II. “O que nós descobrimos é que há uma quebra na cadeia… Nós não sabemos quando esta quebra ocorreu. […] De forma alguma estamos indicando que Sua Majestade não deveria estar no trono”, afirmou em coletiva o vice-chanceler da Universidade de Leicester, Kevin Schurer, para quem a história real inglesa foi submetida a “todo tipo de reviravolta”.
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Mudança na aparência do retrato real
Os pesquisadores também usaram marcadores genéticos para determinar o cabelo e a cor dos olhos de Ricardo III e constataram que, provavelmente, a aparência do monarca se assemelha mais com uma das primeiras versões de seus retratos, a que pertence à Sociedade de Antiquários de Londres. A chance de ele ter cabelo loiro é de 77% e a de ter olhos azuis é de 96%, bem diferente da versão morena como ele é frequentemente apresentado em quadros e estátuas de cera.
Para os cientistas, esse é um grande avanço no estudo da aparência de esqueletos tão antigos. “Fazer inferências sobre o cabelo ou a cor dos olhos de uma pessoa só a partir de alguns fragmentos de DNA obtidos a partir de um esqueleto teria sido impensável há apenas alguns anos atrás”, relatam.
Com informações da Nature.com e BBC.com