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‘Brasil Imperial’: entenda o contexto da nova série do Amazon Prime Vídeo

Da chegada da Família Real até a Independência

Por Wender Starlles
Atualizado em 10 nov 2020, 20h14 - Publicado em 10 nov 2020, 18h40

As consequências da chegada da Corte Portuguesa ao Brasil, em 1808, que favoreceu diversas transformações culturais e pouco tempo depois resultou na Independência do país, em 7 de setembro de 1822, e o retorno de D. Pedro I a Portugal, em 1831, serão tema da série “Brasil Imperial”. Os dez episódios, uma produção original da Fundação Cesgranrio, estreiam nesta terça (10) no Amazon Prime Video.

A trama é narrada por Joaquim Gonçalves Ledo (1781-1847), jornalista e político que foi uma das lideranças da luta pela independência e pela democratização da sociedade brasileira. Durante a temporada, o público vai conferir diversas histórias de conspirações políticas, negociações e batalhas da época.

Uma delas é conhecida como a Noite das Garrafadas. O conflito ocorreu nas ruas do Rio de Janeiro, em 13 de março de 1831, e ganhou esse nome porque brasileiros insatisfeitos com o reinado de D. Pedro I utilizaram pedras e garrafas para atacar portugueses que o apoiavam. Menos de um mês depois, sem apoio político ou militar devido às sucessivas crises políticas no governo, o Imperador renuncia ao trono em nome do filho D. Pedro de Alcântara, de cinco anos de idade, e retorna a Portugal.

Na trama, também é possível acompanhar o casamento conturbado de Dom Pedro I com a princesa austríaca Leopoldina. Ela sofria com as inúmeras traições do marido, que buscava novas amantes quase todas as noites. A mais conhecida delas era Domitila de Castro, nomeada Marquesa de Santos pelo monarca.

Leopoldina na série “Brasil Imperial”
(Fundação Cesgranrio/Divulgação)
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Leopoldina era conhecida na Corte pela inteligência e astúcia. Chegou com 20 anos de idade ao Brasil, em 1817, para conhecer o marido, com quem já havia se casado por procuração na Áustria. Um detalhe curioso é que eles nunca haviam se visto anteriormente, apenas trocado cartas. Na aristocracia da época, o casamento funcionava numa espécie de acordo de interesses para manter o poder das famílias reais europeias.

A série dá espaço a personagens femininas que acabam deixadas de lado pelos registros históricos oficiais. “Temos toda representatividade de mulheres fortes. Vamos falar de Carlota Joaquina, Leopoldina, Domitila, entre outras. Vale a pena assistir para conferir a personalidade de cada uma delas”, disse o diretor Alexandre Machafer.

Para trazer a atmosfera do século 19, toda a trama foi gravada em locações reais do Rio de Janeiro. “Na história de Domitila, por exemplo, filmamos na casa que foi dela. A atriz vivenciou onde a personagem morou de verdade”, afirma Machafer.

Além disso, questões importantes relacionadas à escravidão estão presentes na série. Vale lembrar que o Brasil foi o país que mais recebeu escravos entre 1501 a 1900. De acordo com o Banco de Dados do Comércio Transatlântico de Escravos, desenvolvido por diversas instituições internacionais, como a Universidade Harvard e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 4,86 milhões desembarcaram em território brasileiro.

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Mercado de escravos da série “Brasil Imperial”
(Fundação Cesgranrio/Divulgação)

Um romance ficcional inesperado para o período entre o português Arrebita e a ex-escrava Ana do Congo guiará a narrativa da primeira temporada. “Acompanharemos toda a dificuldade para manter esse amor vivo diante do preconceito”, afirma Machafer.

Mas por que a Família Real veio ao Brasil?

Família real no Brasil, cena da série “Brasil Imperial”.
(Fundação Cesgranrio/Divulgação)
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A chegada da Família Real portuguesa ao Brasil, em 22 de janeiro de 1808, na cidade de Salvador, e posteriormente no Rio de Janeiro, é uma consequência direta da Era Napoleônica (1799 a 1815). Esse período se iniciou com o Golpe do 18 de Brumário e terminou com a derrota de Napoleão Bonaparte na batalha de Waterloo. O general francês chegou ao poder com apoio da burguesia e do exército para dar continuidade aos ideais da Revolução Francesa, que colocou em xeque a existência das monarquias absolutistas europeias.

Desde a derrota dos portugueses na Guerra das Laranjas, em 1801, as relações de Portugal e França eram delicadas. Napoleão fazia pressões constantes para os lusitanos cortarem relações diplomáticas com os ingleses. Em 1804, ele havia se autonomeado imperador e tinha planos de dominar todos os países do continente. Mas encontrou um grande obstáculo no caminho: a Inglaterra. O conflito estabelecido entre França e Inglaterra foi a principal causa da fuga da Corte portuguesa. A partir de 1806 essa disputa se acirrou. Como os franceses não conseguiam derrotar os ingleses e, por consequência, invadir seu território fortemente protegido pela marinha, Napoleão decidiu impor o Bloqueio Continental.

Ou seja, nenhum país da Europa continental poderia fazer comércio com a Inglaterra, sob a pena de ser invadido pela França. “Napoleão literalmente mandou um comunicado a todas as monarquias, que foram obrigadas a concordar”, afirma o professor Alfredo Terra Neto, coordenador do Curso Pré-Vestibular Oficina do Estudante.

Porém, em Portugal a situação foi um pouco diferente. Como D. João, regente do país, não queria entrar em guerra com o exército francês e muito menos abrir mão da aliança com a Inglaterra, decidiu adotar a chamada diplomacia pendular. “Os portugueses falavam para Napoleão que iriam aderir ao bloqueio. Mas, ao mesmo tempo, diziam aos ingleses que isso jamais aconteceria”, afirma Neto.

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Cansado de esperar, Napoleão Bonaparte deu um ultimato para que os portugueses cumprissem uma série de imposições: convocar o embaixador que estava em Londres; expulsar o embaixador inglês de Lisboa; fechar os portos para navios ingleses; e declarar guerra à Inglaterra. Mas D. João se recusou a aceitar os termos, então o imperador francês enviou tropas para invadir Portugal e pôr fim ao domingo da Casa Bragança.

Essa decisão determinou a transferência urgente da Corte portuguesa para o Brasil. De acordo com o livro 1808, escrito por Laurentino Gomes, os preparativos foram feitos às pressas. De 10 a 15 mil membros da nobreza embarcaram em navios para fugir das tropas francesas entre os dias 25 e 27 de novembro de 1807.

“Depois disso, o Brasil passa a ser sede do Império Português. Aqui são criados diversos órgãos administrativos que permitem ao rei e à Corte controlar suas colônias espalhadas pelo mundo. Aos poucos foram produzidas diversas estruturas fundamentais que ajudaram na Independência e, inclusive, contribuíram com a nossa unidade territorial”, explica Neto.

Veja trailer

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