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6 perguntas e respostas sobre a Grécia depois do “não” no referendo de 5 de julho

A rejeição dos termos de um novo pacote faz com que a turbulência com a União Europeia entre na sua fase mais incerta e decisiva

Por João Pedro Caleiro, de EXAME.com
Atualizado em 16 Maio 2017, 13h29 - Publicado em 6 jul 2015, 16h11

6 perguntas e respostas sobre a Grécia depois do “não” no referendo de 5 de julho
Pessoas celebram a vitória do "não" em frente ao parlamento grego. (Crédito: Christopher Furlong / Equipa)

Com 61% contra 38%, o Oxi ("Não") venceu o Nai ("Sim") no referendo de 5 de julho de 2015 na Grécia.

A rejeição dos termos de um novo pacote faz com que a turbulência com a União Europeia entre na sua fase mais incerta e decisiva após anos de resgates, impasses e pressões.

As negociações continuam, mas uma saída do euro é cada vez mais provável, apesar de ainda não ser uma certeza.

Veja 6 perguntas e respostas sobre o momento chave vivido pela Grécia e pela Europa:

Por que os gregos votaram "não"?

Porque eles estão vivendo anos de dor econômica sem uma luz no fim do túnel. A Grécia já foi socorrida diversas vezes pelo trio Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia.

Em troca, promoveu cortes de gastos, aumentos de impostos e reformas com a promessa de recuperação econômica – mas o contrário aconteceu.

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O país entrou em uma recessão brutal e, como resultado, a dívida saltou de 110% para 180% do PIB. Um em cada quatro gregos está desempregado; entre os jovens, a taxa é de 50%.

A renda voltou para níveis dos anos 80 e houve uma crise de saúde com salto nos suicídios e nas doenças infecciosas.

Em janeiro, o país elegeu o partido de extrema esquerda Syriza, que prometeu negociar com os credores o fim da austeridade e a reestruturação da dívida. Quando estas conversas chegaram a um impasse, o governo convocou o referendo, e o resultado reforça sua posição de não ceder.

A maioria dos gregos quer continuar no euro, e o governo insistiu que a votação era sobre austeridade e não sobre a permanência na UE, mas isso está longe de ser uma garantia.

Por que a União Europeia queria o "sim"?

Porque a queda do Syriza abriria espaço para um novo acordo com novos interlocutores. O bloco insiste que mais reformas precisam ser feitas e teme que um alívio agora levaria a Grécia de volta para sua tradição de irresponsabilidade fiscal.

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Além disso, ceder ao Syriza incentivaria partidos com plataformas semelhantes de reestruturação da dívida em outros países da Europa – tanto da esquerda, como o Podemos da Espanha, quanto na direita, como a Frente Nacional na França.

Nos últimos anos, a UE diminuiu a exposição de seus bancos à dívida grega, e agora já vê a "Grexit" como algo administrável. Mas a partir do momento em que um país sai do euro, o mercado pode se voltar contra outros, causando um efeito dominó.

O aumento da volatilidade também é um banho de água fria justamente no momento em que a Europa apresenta finalmente alguns sinais de recuperação.

Se o governo venceu, por que o ministro de Finanças renunciou?

Tanto o ministro das Finanças Yanis Varoufakis quanto o primeiro-ministro Alexis Tsipras fizeram campanha pelo "Não" e indicaram que iriam renunciar caso o "Sim" vencesse. Eles não teriam como sentar à mesa novamente para negociar termos que sempre rejeitaram.

O "Não" venceu, Tsipras ficou, mas Varoufakis renunciou. A razão é que ele sempre foi uma figura controversa, avesso à formalidades e dado a declarações incendiárias.

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Nos últimos meses, a Europa mostrou sua frustração em tê-lo como interlocutor, então sua saída é uma forma de facilitar o diálogo neste momento crucial:

"Foi comunicado que havia certas preferências de alguns participantes do Eurogrupo de que seria melhor que estivesse ausente destas reuniões, uma ideia que o primeiro-ministro considerou potencialmente útil", escreveu Varoufakis no seu blog pessoal.

O presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz disse que a saída é um alívio, mas que um acordo depende não de quem e sim do que se negocia. O novo ministro é Euclidis Tsakalotos, que estava à frente das negociações desde abril.

E agora, o que acontece?

Os bancos gregos devem continuar fechados por enquanto. Hoje, a premiê alemã Angela Merkel vai conversar com o presidente francês François Hollande e o Conselho do BCE vai se reunir para tomar uma decisão sobre a assistência de liquidez aos bancos gregos.

Nesta terça-feira (7), haverá uma reunião do Eurogrupo, formado pelos ministros de Economia e Finanças da zona do euro. Horas depois, começa a reunião extraordinária de cúpula com os líderes europeus, onde Tsipras já confirmou que deverá apresentar novas propostas.

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Se nenhum acordo for atingido, a Grécia vai sair do euro?

Não necessariamente, mas é bem possível. O presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, diz que o bloco quer a Grécia no euro. O Deutsche Bank, maior banco da Alemanha, acredita que o caminho para novas ajudas está fechado.

Nenhum país jamais saiu da moeda comum e isso sequer está previsto nos tratados. Mas o fato é que a Grécia está sangrando dinheiro diariamente, e precisa de recursos para manter seu sistema financeiro com alguma liquidez.

Se a Europa não fizer este papel, o país pode ser ver obrigado a emitir algum tipo de título para continuar cumprindo com suas obrigações. Isso seria na prática uma saída do euro, ainda que parcial ou temporária.

Como isso funcionaria?

É difícil dizer. De acordo com Joseph E. Gagnon, do Peterson Institute for International Economics, imprimir e colocar uma nova moeda em circulação ou recuperar o antigo dracma é um grande desafio logístico e demoraria no mínimo alguns meses.

O governo grego poderia, ao invés disso, emitir letras de câmbio que funcionariam como uma "moeda provisória", com paridade com o euro estabelecida por lei. Um salário de 500 euros seria pago em 500 IOUs ("I owe you": "eu devo a você", em inglês), por exemplo.

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Haveriam dois tipos de moeda circulando no país. O problema é que se o povo desconfiar da capacidade do governo grego de honrar seus compromissos, a paridade pode ser rejeitada na prática, causando inflação. Um bom exemplo disso é a Venezuela.

Uma moeda desvalorizada poderia, em tese, aumentar a competitividade das exportações gregas, impulsionando sua recuperação. O preço: um período de duros ajustes, ainda mais austeridade e perda brutal do poder de compra da população.

A Grécia não tinha uma opção realmente boa no referendo; e, depois dele, o problema continua.

 

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