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4 poemas clássicos que podem cair no Enem e nos vestibulares

Você já deve ter escutado ou lido pelo menos um trecho destes textos por aí

Por Julia Di Spagna
Atualizado em 27 mar 2020, 11h45 - Publicado em 27 mar 2020, 10h05

As provas de Português do Enem e dos vestibulares pelo país são muito diferentes. Elas variam no estilo de pergunta, nos temas centrais e nas habilidades que estão avaliando de cada candidato. Mas, independentemente de qual exame irá prestar, existem grandes chances de você se deparar com poemas clássicos da literatura nacional.

Conhecê-los não vai necessariamente garantir o acerto das questões relacionadas ao texto, mas estar familiarizado com eles pode poupar o tempo de resolução e até te deixar mais tranquilo na hora da prova. A chance de você já saber alguns trechos é grande. Confira abaixo:

José, de Carlos Drummond de Andrade

“E agora, José?”. Já usou essa expressão? Ela é fruto de um poema de Carlos Drummond de Andrade, um dos poetas de maior destaque do modernismo, sobre solidão e abandono do indivíduo. Foi publicado em 1942, na coletânea Poesias

Na época, as pessoas enfrentavam um clima de medo e repressão tanto no contexto internacional, devido à Segunda Guerra Mundial, quanto no nacional, pois o Brasil entrava no Estado Novo, de Getúlio Vargas.

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

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Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Soneto da Fidelidade, de Vinicius de Moraes

Vinicius de Moraes pertence à segunda geração modernista da poesia brasileira. No famoso Soneto da Fidelidade, o autor fala sobre o amor e a contradição de sentimentos por meio de figuras de linguagem como a metáfora e o paradoxo.

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

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Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quanto mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Canção do Exílio, de Gonçalves Dias

Até nas aulas de matemática você pode ter escutado o trecho “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá”. Publicado em 1843, o poema Canção do Exílio foi escrito pelo poeta Gonçalves Dias, principal nome da poesia na primeira fase do romantismo, e publicado 13 anos depois, no livro Primeiros Cantos

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

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Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Vou-me embora pra Pasárgada, de Manuel Bandeira

Publicado no livro Libertinagem, de 1930, este é o poema mais famoso de Manuel Bandeira, que fez parte da primeira geração modernista no Brasil. O tema central do texto é o escapismo, ou seja, a vontade de fugir da realidade e encontrar um lugar onde tudo aconteça da maneira que ele sonha. 

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Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

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