Assine Guia do Estudante ENEM por 15,90/mês

“12 Anos de Escravidão”: saiba como utilizar o filme no vestibular

Explore o enredo e enriqueça seu repertório

Por Julia Di Spagna
Atualizado em 12 abr 2019, 17h19 - Publicado em 2 ago 2018, 07h00
 (Fox Searchlight/Divulgação)
Continua após publicidade

A ideia desta série de matérias é permitir que você consiga desenvolver um repertório mais amplo e um pensamento crítico mais aguçado com base nas diversas camadas que a sétima arte pode apresentar. As análises dos filmes que faremos aqui buscam mostrar certas relações entre o enredo e temas contemporâneos que podem ser abordados na redação e em outras questões do Enem e dos principais vestibulares do Brasil.

“12 Anos de Escravidão”: saiba como utilizar o filme no vestibular

O filme “12 Anos de Escravidão” é baseado na história real de Solomon Northup, um homem negro nascido livre no norte dos Estados Unidos que lutou arduamente durante mais de uma década pela sobrevivência e pela liberdade.

A história se passa em 1841, época pré-Guerra Civil (1861-1865) e portanto alguns anos antes da abolição oficial da escravatura no país.

Solomon vivia com a esposa e seus dois filhos em Nova York, era violinista, sabia ler e escrever e viajou para diversas regiões nesse período em que parte do país ainda estava arraigada à cultura da escravidão.

Um dia, ele recebe uma proposta para trabalhar como violinista em Washington e viaja com os dois homens que o contrataram, Brown e Hamilton. Mas eles o embriagam e o sequestram para levá-lo ao sul escravagista e vendê-lo como escravo. A partir daí, Solomon precisa se virar como pode para sobreviver, superando humilhações físicas e emocionais.

Ele passa por dois senhores, William Ford e Edwin Epps, e cada um explora seus serviços à sua maneira. Ao ser comprado por Ford, acaba se destacando dos demais e é ameaçado de morte. Com isso, é repassado para Epps. 

Continua após a publicidade

Epps é um senhor de escravos cruel, que faz questão de dificultar ainda mais a vida de seus escravos, torturando-os muitas vezes por tédio ou prazer. A escrava Patsey é a que mais sofre com os abusos do fazendeiro.

O filme contém cenas fortes de violência, como enforcamento, estupro e chicotadas – tudo de forma explícita e realista.

Para Solomon, a liberdade só viria depois de 12 anos de muito sofrimento e com a ajuda de um homem contrário à escravidão.

Durante esse período, ele conhece diversas mazelas do ser humano e sente na pele o descaso e o abuso dos senhores contra os seus escravos, impondo-lhes tortura, castigos e lesões corporais.

Assim, com o longa é possível observar a crueldade humana contra o próximo – no caso, a relação do homem branco dos EUA do século XIX, principalmente o sulista, com o homem negro. Em termos de preconceitos, esta é uma obra sobre algo que, quase 200 anos depois, segue lamentavelmente atual.

Continua após a publicidade

O relato autobiográfico, publicado depois da libertação de Northup, em 1853, logo se tornou um best-seller e inspirou o filme de mesmo nome.

“12 Anos de Escravidão”: saiba como utilizar o filme no vestibular

É possível explorar o filme “12 Anos de Escravidão” a partir de diversos aspectos. Conversamos com Sérgio Paganim, professor de redação do Anglo, para estabelecermos os principais e qual a melhor forma de aplicá-los na hora da prova.

Escravidão

A escravidão é uma prática na qual uma pessoa assume o poder de propriedade sobre outra. Ela se fez presente em diversos contextos e formas pelo mundo ao longo dos séculos.

No Brasil, o uso do escravo como mão de obra começou com a atividade açucareira, atravessou o período colonial e só foi oficialmente extinto em 1888. Durante praticamente todo esse período, o trabalho compulsório constituiu a base da economia do país.

Continua após a publicidade

Inicialmente foram escravizados apenas os indígenas; depois, os africanos, que logo se tornaram majoritários. Trazidos pelo tráfico negreiro, os negros, assim como os índios, eram mantidos subjugados mediante uma política desumana de repressão e controle.

Em 1888, a princesa Isabel – que substituiu o imperador Dom Pedro II em viagem à Europa – assina a Lei Áurea e a escravidão é finalmente proibida no Brasil. Cerca de 700 mil escravos foram libertos na época.

Fique ligado!

Por completar 130 anos em 2018, a chance de alguma questão relacionada à Lei Áurea aparecer nos vestibulares é alta.

 

Reificação do homem

Na época da escravidão, existiam relações de quase amizade entre senhor e escravo, mas ainda assim nunca se discutia uma possível liberdade. No filme, Ford é retratado como um senhor de escravos mais acolhedor e menos repressor, mas isso é algo bastante questionável.

Continua após a publicidade

Ele não possui prazer em torturar seus escravos e até demonstra um pouco de carinho com Solomon, mas não deixa de tratá-lo como mercadoria.

A escravização é uma das maneiras de coisificar o homem, entretanto, existem também formas contemporâneas de retirar das pessoas a condição de humano. A propaganda é algo que reifica as pessoas, por exemplo. O homem moderno muitas vezes é reduzido a mais um número, um consumidor.

Caso esse tema apareça em alguma proposta de redação, destacam-se duas possibilidades: se for sobre reificação, um tema abstrato/filosófico, é válido falar sobre algo concreto como a escravização; e se o tema for escravização, um tema concreto, é válido o estudante ampliar a discussão para algo abstrato/filosófico, como a reificação.

Racismo

A escravidão foi o reflexo de um momento histórico, político e cultural do passado. Hoje, existe uma tentativa de reparação em relação aos negros, tanto pelos preconceitos que ainda enfrentam quanto pelas dificuldades socioeconômicas decorrentes da escravidão – consequências que se arrastam há décadas.

E essa tentativa de reparar o passado pode ser custosa, pois a distância temporal pode causar resistência, como no caso das cotas em universidades para estudantes negros.

Busca de Cursos

Continua após a publicidade

É necessário olhar para o passado e refletir sobre ele, não porque possa se repetir – os acontecimentos estão fortemente ligados ao contexto de cada época -, mas porque ele adquire novas facetas no presente.

Norte X Sul dos Estados Unidos

Na época em que o filme é retratado, os EUA já davam sinais de uma grande divisão entre os estados do Norte, mais desenvolvidos social e economicamente e mais industrializados, e os estados do Sul, que ainda mantinham costumes aristocráticos, seus fazendeiros, capatazes e suas terras com plantações de algodão.

Era uma sociedade economicamente mais atrasada e ainda baseada na escravidão, que só seria definitivamente encerrada em 1863, com a Proclamação de Emancipação de Abraham Lincoln, realizada durante a Guerra Civil norte-americana.

Para entender as discrepâncias entre as regiões, é possível avaliar o próprio destino de Solomon: ele era livre no norte e foi transportado até o sul para ser comercializado, acorrentado, espancado e humilhado.

Papel social do cinema

Em uma das cenas, o carpinteiro de William Ford, John Tibeats, e seus amigos torturam Solomon. Encarar um homem suspenso em uma árvore, sendo enforcado, sobrevivendo apenas com as pontas dos pés na lama, é algo que impacta mais do que muitas frases de efeito de produções parecidas.

Tudo o que ouvimos é a respiração abafada pela corda e os pés raspando de forma superficial o chão, além do próprio ranger da corda na árvore.

O filme mostra uma violência extrema em diversas cenas. Ao longo do enredo, é possível sentir dor e repulsa pelo que é retratado.

O filme, assim como outros apresentados nesta série, tem a função social de tocar e afetar as pessoas. Entretanto, neste caso em especial tal papel é ainda mais evidente e importante, pois por mais que a escravidão esteja no passado, é importante saber o que foi para entender suas implicações.

Além de todas as atrocidades retratadas, a identificação com o personagem que nasce livre faz o espectador se sentir aflito ao ver a liberdade perdida e não ter mais controle sobre sua própria vida.

“12 Anos de Escravidão”: saiba como utilizar o filme no vestibular

Ficou na dúvida de como esse conteúdo poderia ser aplicado na sua redação? Vamos ajudá-lo nessa missão. É impossível prever qual será a proposta dos vestibulares. Entretanto, seja qual for o tema, se você estiver munido de diversos exemplos e relações relevantes na hora da prova terá um resultado melhor do que imagina.

No caso do filme “12 Anos de Escravidão”, é importante identificar os principais tópicos, como a prática da escravidão no Brasil e nos Estados Unidos, o racismo e o papel social do cinema, por exemplo, e memorizar algumas cenas que exemplifiquem as situações.

Você não precisa assistir ao filme com um caderno fazendo várias anotações. O importante é entender o enredo como um todo e refletir sobre determinados acontecimentos que achar adequados. Se quiser, anote alguns tópicos e pesquise mais sobre os temas que achar mais pertinentes ou nos quais tiver alguma dificuldade.  

“12 Anos de Escravidão”: saiba como utilizar o filme no vestibular

Selecionamos algumas propostas de redação de vestibulares de anos anteriores em que você poderia utilizar seus conhecimentos sobre o filme para desenvolver o tema, tanto em termos de relações estabelecidas, quanto em exemplos.

Unesp 2015 – O legado da escravidão e o preconceito contra negros no Brasil

“A Lei Áurea abolia a escravidão mas não seu legado. Trezentos anos de opressão não se eliminam com uma penada. A abolição foi apenas o primeiro passo na direção da emancipação do negro. Nem por isso deixou de ser uma conquista, se bem que de efeito limitado”, ressalta um dos textos da coletânea.

Embora a proposta trabalhe especificamente com a questão do racismo no Brasil, o candidato poderia refletir sobre as situações apresentadas no filme para entender como o sistema escravocrata teve o poder de gerar consequências tão sérias que perduram por tanto tempo.

A escravidão deixou rastros por onde passou. O filme traz o contexto norte-americano, mas existem diversas semelhanças com o que foi praticado no Brasil.

Esses aspectos podem ajudar na construção de uma linha de raciocínio que esclareça como o racismo deixou marcas na humanidade como um todo.

FGV 2014 – A personificação das coisas e a coisificação das pessoas: uma questão para o tempo atual?

“No Mundo das mercadorias as coisas se relacionam como pessoas e as pessoas, como coisas”. A frase do sociólogo Karl Marx se refere à coisificação do homem.

Embora a escravidão seja um tipo específico de reificação, pode servir como exemplo para mostrar como, durante um tempo, a sociedade não viu problemas em tirar do homem sua condição de humano.

ITA 2014 – Cinema

Esta proposta apresenta cinco considerações sobre cinema. A partir delas, o candidato deveria sustentar um ponto de vista sobre o assunto.

O poder de mostrar uma realidade, atual ou passada, de um indivíduo ou de um grupo, é uma característica de diversos filmes, inclusive alguns apresentados na série Construindo Repertório.

Entretanto, no caso de “12 Anos de Escravidão”, o longa se torna ainda mais interessante de ser trabalhado. A sua forma de moldar um sistema tão absurdo tenta gerar um sentimento de dor, aversão e desespero pelas situações a que os personagens são submetidos.

Considerando esses aspectos, o candidato poderia utilizar o filme para exemplificar o poder do cinema para gerar reflexão nas pessoas, retratar um fato que possa parecer distante em certos aspectos e alertar sobre a raiz de preconceitos.

Filme: 12 Anos de Escravidão
Ano: 2013
Direção: Steve McQueen

“12 Anos de Escravidão”: saiba como utilizar o filme no vestibular

 

Publicidade
“12 Anos de Escravidão”: saiba como utilizar o filme no vestibular
Estudo
“12 Anos de Escravidão”: saiba como utilizar o filme no vestibular
Explore o enredo e enriqueça seu repertório

Essa é uma matéria exclusiva para assinantes. Se você já é assinante faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

MELHOR
OFERTA

Plano Anual
Plano Anual

Acesso ilimitado a todo conteúdo exclusivo do site

a partir de R$ 15,90/mês

Plano Mensal
Plano Mensal

R$ 19,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.