Um dos romances mais célebres de Machado de Assis (1839-1908), Dom Casmurro foi publicado pela primeira vez no final do século XIX, em 1899. A Monarquia escravocrata havia sido substituída pela República há apenas uma década e o Rio de Janeiro consolidava-se como cenário urbano.
A narrativa realista machadiana sepultava o romantismo. A história se passa no Rio, durante o Segundo Império, e é contada por Bento Santiago, também conhecido como Bentinho, o Dom Casmurro do título.
O narrador decide escrever suas memórias. A partir daí, a obra é passível de duas interpretações. Uma prende-se à visão psicológica do personagem masculino. Outra, que ganhou força nos anos 1960, foi se Capitu, esposa de Bentinho, teria ou não o traído com seu melhor amigo, Escobar.
Dom Casmurro é um texto magistral de Machado que se estrutura em torno dessa suspeita. Capitu chega à vida de Bentinho ainda criança, por volta dos 5 anos, como uma vizinha de origem pobre. A adolescência trouxe amor e dificuldades. O futuro de Bentinho era foco de divergência, porque sua mãe, dona Glória, viúva abastada e religiosa, queria que o filho fosse padre.
O período de seminário trouxe-lhe o amigo Ezequiel Escobar. Também pouco disposto aos votos, Escobar preferia o comércio. Ambos conseguiram livrar-se do seminário. Bento foi a São Paulo estudar Direito, enquanto Escobar se estabeleceu como próspero comerciante.
SAIBA MAIS
– Análise de Dom Casmurro (GUIA DO ESTUDANTE)
Em suas muitas viagens, Escobar levava e trazia a correspondência entre Bento e Capitu, a quem chamava de “cunhadinha”. Nesse meio tempo, ele conheceu a melhor amiga de Capitu, Sancha. Desse encontro resultaram dois casamentos: o de Bento e Capitu e o de Escobar e Sancha. Estes logo tiveram uma filha, Capituzinha, em homenagem à madrinha. Os protagonistas retribuíram a consideração dos amigos dando o nome Ezequiel ao filho.
As suspeitas sobre Capitu começam no velório de Escobar, que morrera afogado no mar. Sancha parecia inconsolável ao lado do caixão e Capitu fica ao seu lado, sem chorar, exceto na hora de fechar o caixão, quando Bentinho suspende suas lágrimas ao ver as da mulher, “poucas e caladas”, que ela enxugou “rápido” e, a seu ver”, “a furto”.
Várias situações descritas no livro levam Bentinho a suspeitar de que Capítu o traíra com Escobar e que Ezequiel seria na realidade filho de seu amigo. No final, o casal opta por uma farsa: Capitu e Ezequiel partem para a Suíça, com o suposto intuito de dar uma educação europeia ao garoto. Ambos nunca mais voltaram.
Dom Casmurro é uma crítica à sociedade brasileira do século XIX feita pelo maior escritor da nossa literatura. Com a personagem Capitu, Machado de Assis representa as duas categorias socais mais marginalizadas do Brasil da época: os pobres e as mulheres.
Quem quiser conhecer essa famosa narrativa de Machado de Assis pode também optar por dois filmes: Capitu e Dom. O primeiro, de 1968, é a primeira adaptação do romance para o cinema, com a direção de Paulo Cesar Saraceni. Já Dom é uma versão moderna do livro, que foi às telas em 2003, dirigido por Moacyr Góes.